segunda-feira, 11 de abril de 2022

VÓ NENA E OS CAÇADORES: A CHAVE DO FUSCA AZUL


Daniel foi para a sala depois do café, celular na mão que já vibrava com notificações. Tatiana dissera que se encarregaria da pouca louça e logo estaria com ele, então o jovem Caçador somente pretendia ficar sossegado.

Isso não aconteceu quando ele olhou para a tela do celular, e tudo que viu foi uma mão horripilante, cinza e cadavérica, como que passando as unhas podres pelo outro lado do vidro da tela. O som produzido provocou arrepios no jovem.

Ele ouviu barulho a sua esquerda, voltou-se e observou a tela da TV de tela plana, aquisição recente de Vó Nena. Estava desligada, mas mesmo assim era nítida a presença fantasmagórica de um vulto. A coisa esfregava o rosto horrendo no lado oposto do vidro, exibindo a boca com dentes afiados e horripilantes. As mãos ossudas corriam pela tela em posições impossíveis para um ser que fosse humano.

As luzes começaram a piscar, e pelos autofalantes da TV ainda desligada lamentos e urros assustadores emergiram.

— Cadê? – foi tudo que Daniel ouviu de repente às suas costas.

Virou-se e deu com Tatiana, brandindo nas mãos um machado que normalmente ficava pendurado na parede do corredor ao lado de outro similar e de uma espada.

— Que susto, amor, calma! – pediu o jovem Caçador.

— Calma como!? Olha isso na TV! E as luzes? Ouvi os gritos dessa coisa lá na cozinha! Temos que chamar Vó Nena!

— Estou aqui, filha – disse a velha Caçadora, apoiando-se em sua bengala de pau-brasil.

Ela observou calmamente os efeitos, demorando-se um pouco na TV e no celular de Daniel. Pediu para ver o de Tatiana, que estava igual.

Nena olhou em torno, e finalmente pousou o olhar na mesa de centro. Sobre o tampo de mármore branco um tanto escurecido pelos longos anos estava uma chave. As letras V e W dentro de um círculo formavam a empunhadura, e quando se aproximaram os três ainda puderam ver que raios azuis saltavam do pequeno objeto. Dali eles se dirigiam para a TV e então se espalhavam.

A Caçadora simplesmente tocou na chave com a ponta de sua bengala, e no instante seguinte se fez silêncio.

Nena apanhou a chave no momento em que Samuel entrou pela porta da frente.

— Pronto, O Fusca Azul, o Dodjão Charger e a Rural estão limpos e verificados, caso precisemos deles hoje.


Nena se aproximou e, apesar de ser bem mais baixa que o neto, acertou-lhe com os nós dos dedos bem no cocuruto.

— Ai, Vó!

— Ai o cacete, moleque! Já não disse um monte de vezes que, quando precisar tirar a porra da chave do Fusca, tem que colocar ela aqui!?

A anciã depositou a chave sobre uma pequena mesinha de madeira ao lado da porta. A mesa também era de pau-brasil, árvore nativa do país que tinha um poderoso efeito contra seres encantados, monstros e assombrações.

— Desculpa, Vó.

Nena grunhiu alguma coisa e se retirou para o interior da casa. Samuel, ainda massageando o topo da cabeça, saiu pela porta. Daniel auxiliou Tatiana a colocar o machado de volta, enquanto dizia:

— Sempre temos que lembrar de ter cuidado com esse carro assombrado.

— Já havia me esquecido das recomendações de Vó Nena – disse Tatiana. – A energia mística da assombração se espalha pelas peças do Fusca. Como fazem quando precisam trocar alguma coisa?


— Exorcizamos a peça antiga, ou a enterramos em algum lugar aqui na propriedade. Isso me lembra quando Vó Nena e João me contaram a história do rádio do Fusca, que caíram na besteira de deixar em uma loja pra vender. O João contando sempre me faz morrer de rir!

— Ah, agora me conta!

Tatiana ficou provocando o namorado. Daniel finalmente prometeu que contaria mais tarde naquele dia.


Estimados leitores, espero que tenham gostado deste mini-conto. Qualquer dia acerto o tamanho para publicação direto pelo Instagram!

Não deixem de conhecer as demais histórias do universo de Vó Nena e os Caçadores aqui no Escritor com R, utilizando as tags ao final da postagem. E claro, estão convidados para ler os e-books já publicados:

VÓ NENA E OS CAÇADORES: O FUSCA AZUL



VÓ NENA E OS CAÇADORES: O LIVRO MALDITO



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Até a próxima!