quarta-feira, 24 de abril de 2019

Superpato Novas Aventuras parte 10

SUPERPATO 50 ANOS

PKNA 15 Motore/azione


Retomando as publicações após o hiato da semana da Páscoa, iniciamos por esta trama, cujo título em português pode ser traduzido como Câmera/ação. Por sinal ela foi publicada na Disney Hiper 43 em 2016. Originalmente a história saiu na Itália em 20 de fevereiro de 1998. A história começa com o ator Sean Leduck interpretando o personagem Perceval Bentley-Royce em uma gravação na selva para a novela Anxieties. Ao mesmo tempo em que vemos a tela de uma TV com a imagem sendo gravada, lemos as opiniões de dois produtores, um deles sarcasticamente comentando a atuação altamente canastrona do astro.

Podemos até comentar que o sobrenome do personagem da novela é uma mistura de duas famosas marcas de carros de luxo, Rolls-Royce e Bentley. Para surpresa geral, Donald aparece por sobre uma moita do cenário e acena para a câmera, antes de ser removido. Em seguida a tomada deve ser interrompida, e descobrimos que estamos em plena selva, no set de filmagens da novela. Todos devem se recordar da parte 1, na qual mencionamos tanto Anxieties quanto Leduck, assim como o roteirista Sam Plot, que também participa desta história.


Uma rápida volta no tempo e descobrimos o Superpato voando no Spcar a fim de não perder mais um capítulo de Anxieties, além de ter uma conversa cheia de ironias com Um, que é fanático pela novela mas alega que seu interesse envolve somente “estudos antropológicos”. Além disso, como Leduck e Plot chegaram a estar em estado de semichama fria graças aos invasores evronianos, torna interessante que Donald aceite a posição de assistente que lhe foi arranjada pela I.A.

Assim nosso pato favorito se manda para a República de Providencia, onde estão sendo realizadas as filmagens. Ele logo estranha a maciça presença militar, alegadamente contra a atuação de um bando rebelde chefiado por certo Paco Ramiros. Na outra noite mais trabalhos de filmagens, em meio a ataques de estrelismo, muita canastrice dos atores e ideias nada geniais dos roteiristas. Nisso, acontece um ataque evroniano, os militares locais entram na luta, e o Superpato finalmente surge para ajudar.

Mesmo assim, parte do elenco é abduzida pelos alienígenas, e vemos que entre estes se encontram dois velhos conhecidos, o chefe científico Zoster e o general Zondag, que vimos em Sombras sobre Vênus, na parte 3 deste especial. Na nave a equipe da novela, sem perceber a gravidade da situação, continua com seus ataques de estrelismo e pouco caso diante dos invasores e dos testes a que devem ser submetidos, além de serem recebidos por Brad van Beck, ator de Anxieties que havia desaparecido.


Superpato percorre a selva com os militares, e luta contra um veículo comandado por Zondag, antes de ser revelado que os locais têm um acordo com os alienígenas, que inclusive lhes forneceram as armas que utilizam. Mas graças à intervenção de Ramires nosso herói consegue reverter a situação. Com o auxílio de Um e dos novos amigos o Superpato consegue invadir a fortaleza evroniana, e após resgatar a equipe da novela todos fogem quando esta se autodestrói ao comando de Zoster.

As gravações de Anxieties são retomadas, e com a volta de van Beck agora Perceval Bentley-Royce tem um irmão gêmeo com o mesmo nome. Além disso alienígenas foram introduzidos na trama por Sam Plot, que é chamado de gênio pelos diretores da rede.

Um episódio divertido desta série, mas bastante irregular. A subtrama relacionada à novela Anxieties é muito engraçada, uma ótima crítica contra o gênero, conhecido por reviravoltas que fazem pouco sentido, “invencionices” sem pé nem cabeça e claro, pelo estrelismo de muitos de seus atores. Como mostrado, sobrou até para a direção das redes, sempre dispostas a investir no pior do pior em nome da audiência.


Por outro lado, não havia a necessidade de nosso herói igualmente cometer tantas palhaçadas, como fugir de um felino perigoso (afinal ele enfrenta invasores alienígenas e piratas cronoespaciais!) e outras cenas de pastelão. Por cima a presença de Zondag e Zoster acrescentou uma grande carga de perigo, já que os dois evronianos querem vingança pelos acontecimentos de Sombras sobre Vênus. Além disso o general revela mais uma característica perigosíssima dos evronianos, que possibilitou que escapasse da destruição de seu cruzador. Esses seres, diante de perigo iminente, retornam à condição de esporos, tornando-se resistentes até mesmo ao vácuo do espaço.

Depois de resgatados, eles são introduzidos em aparelhos que fazem com que retornem à condição de adultos, processo que pode ser acelerado caso se trate de indivíduos das castas superiores. Mais uma grande ameaça, que poderia ter sido melhor explorada no episódio caso não houvesse o excesso de humor.

PKNA 16 Manutenzione straordinaria


O 16º álbum da série saiu em 20 de março de 1998. Nossos patrícios portugueses leram essa história na Disney Hiper 44 de 2016 como Manutenção Extraordinária. Começa com um bandido ameaçando um prédio em Patópolis, e o Superpato rapidamente o derrotando. Angus Fangus apresenta a notícia no telejornal, e comenta somente que a atuação poderia ter sido menos espetacular. Todos no 00 Channel estranham, já que nosso herói é o alvo preferido do repórter, mas este afirma que agora se dedica a um assunto muito mais interessante. Especificamente, o desaparecimento do gênio e bilionário Everett Ducklair.

Apesar dos apelos do diretor, Angus responde “quando os advogados não reclamam, a audiência o faz”, e passa a se dedicar a essa investigação. Graças a uma entrevista com um antigo funcionário das empresas de Ducklair, o repórter teve acesso a um código secreto. Inserido no teclado ao lado da porta do que seria um simples armário, este dá acesso a um cômodo secreto recheado de computadores. Fangus entra no elevador que encontra, porém acaba caindo nas profundezas do gigantesco edifício.

Donald está terminando seu turno na redação do 00 Channel, quando Um o chama. Um problema isolou a IA de todos os andares do prédio abaixo do 75º andar, incluindo os andares subterrâneos secretos. A única alternativa é nosso herói percorrer os intermináveis corredores a fim de encontrar e resolver o problema.


Enquanto isso, o turno do Câmera 9 igualmente se encerrou. Ele veste chapéu e sobretudo e se prepara para sair, quando vê o Superpato passando por um corredor. Curioso, ele o segue. Angus, por sua vez, tem sua queda amortecida e, graças a uma subrotina que conversa com ele, vai percorrendo os setores secretos da Ducklair Tower. Ele mexe em comandos que causam uma sobrecarga no sistema de energia, e um dos dispositivos quase amassa nosso herói, que é salvo pelo Câmera 9, aliás Stefan Vladuck. O Superpato se recorda do nome, autor de inúmeras fotografias que retratam vários acontecimentos dramáticos, um talento agora quase esquecido. Enquanto Stefan fala, surgem cenas em flashback que parecem indicar um passado como correspondente de guerra.

Angus encontra um depósito de armas, enquanto Superpato e Vladuck percorrem um corredor de resfriamento e precisam enfrentar um robô de reparos. O jornalista ainda diz que, muito tempo antes, enfrentou coisa muito pior. Um, nesse meio tempo, observa o diretor do 00 Channel cada vez mais irritado com Fangus, e incumbindo Lyla de apresentar o telejornal. Mas a I.A. ainda não acredita que o repórter seja o invasor da Ducklair Tower. Nisso Angus encontra outros dispositivos bélicos, e passa a acreditar que Everett Ducklair não desapareceu, mas atua nas sombras com o objetivo de dominar a cidade com aquelas máquinas. Quase automaticamente ele chega a uma dramática conclusão: Everett Ducklair é o Superpato!

Enquanto isso nosso herói e seu novo amigo percorrem outros surpreendentes lugares do edifício, e Stefan, sempre sem mostrar o rosto, diz que mudou de emprego pois ninguém mais está interessado no tipo de registro que ele fazia. Ele diz que agora trabalha na televisão, mas interrompe o Superpato quando parecia que o herói iria descobrir quem ele é.


Angus Fangus acaba acionando um sistema de defesa, liberando drones que são de fato perigosos. O repórter se protege, enquanto cabe ao Superpato e a Vladuck impedir os robôs. Assim, surpreendentemente, é Stefan que, armado com as ferramentas e o escudo extranformer, que realiza os reparos necessários, fazendo Um retomar o controle de todo o prédio. Porém Angus viu muita coisa, e fez uma interpretação absurda da situação, o que pode complicar tudo.

Mas a I.A. tem um plano, e graças à I.I.T., Interface de Total Imersão, que vimos na parte 2, eles conseguem deixar o inconsciente Angus em um sofá no 00 Channel. Quando ele tenta explicar suas descobertas a todos, incluindo mostrar a passagem secreta, ninguém acredita e todos o gozam. Donald chega e oferece um remédio para dor de cabeça. Angus imediatamente se sente melhor e nem lembra o que causara o mal estar, e Donald comenta de si para si que os bons e velhos car-cans funcionam. Estes são os caramelos canceladores de memória, uma invenção do professor Pardal ainda nos primeiros tempos do Superpato, e que comentamos na resenha de Lendas Disney 1 no Corujice Literária.


Nosso pato preferido ainda cruza com o Câmera 9, que lhe entrega um envelope endereçado para o Superpato. Câmera 9, ou Setefan, comenta que todos sabem que Donald é o melhor amigo do herói, e o pato confere com Um as fotos da odisseia, com direito até aos negativos.

Esta edição saiu na Itália com a ficha do Câmera 9, que aqui foi publicada em Superpato vs Demolidor, que vimos na parte 3. Infelizmente, esta foi também a última aventura em que este importante coadjuvante teve destaque. Lamentavelmente os roteiristas da série não voltaram a dedicar a ele a atenção que merecia, e ficamos sabendo a seu respeito somente as informações fragmentárias apresentadas até aqui. Mas isso não diminui o brilho desta história, sem dúvida bem melhor que a anterior.

PKNA 17 Stella cadente


A trama, publicada em 20 de abril de 1998, saiu em 2016 em Portugal na Disney Hiper 45 como Estrela Cadente. Começa com Xadhoom atacando uma nave batedora dos evronianos, mas é uma armadilha dos alienígenas que a atingem com armas novas. A xerbiana cai em meio a uma chuva de destroços vista por toda Patópolis, mas consegue parar no topo da Ducklair Tower. Um rapidamente chama Donald, e manobrando as paredes de determinado andar, consegue criar um cômodo para abrigar a alienígena. As reações dos ocupantes das salas vizinhas são hilárias, afinal ninguém vai dizer que as paredes foram reajustadas como nossa I.A. preferida o fez.

Ao mesmo tempo, dois MIBs (Men in Black, ou Homens de Preto) de nomes Delta e Gamma, localizam um destroço que vem a ser um vestígio das pranchas usadas pelos evronianos. Donald conversa com Xadhoom e percebe que a alienígena fica raivosa com facilidade e altera até mesmo a cor de sua aura. Depois, conversando com Um, recebe a notícia de que a xerbiana foi atingida com mais seriedade do que admite, e a inteligência artificial diz que precisará usar todos os seus recursos somente para analisar sua fisiologia.


Um mercado na periferia de Patópolis é atacado por uma gangue, e algo muito sério acontece, quase explodindo o local. Os dois MIBs retornam, e o chefe da polícia depois reclama com o PBI que invadiram sua jurisdição. A agente Mary Ann Flagstarr promete investigar, e claro que os leitores se lembram dela, não é mesmo? Para refrescarem a memória, sugiro que releiam a parte 4 e a parte 6. Nisso, Donald se esforça para conter Xadhoom, e sai para sua patrulha como o Superpato. Em seguida vemos os MIBs conversando sobre alienígenas e tecnologia avançada, que muitos gostariam de comprar pagando um bom preço.


A próxima cena é no metrô, onde a mesma gangue que assaltou o mercado tem um encontro com um personagem misterioso, que termina muito mal para eles. A polícia cerca o local e logo os MIBs surgem, desaparecendo antes da chegada de Flagstarr e do Superpato. A agente admite que precisa da ajuda do herói, e pensando em como enfrentar um inimigo poderoso quanto aquele misterioso personagem, lembra de Xadhoom e a convida para acompanhá-lo na patrulha.

Eles cruzam com um grupo armado tentando assaltar um caro forte, e o Superpato luta com os bandidos. Xadhoom, porém, os enxerga como evronianos. Os MIBs surgem armados, mas a xerbiana pouco precisa fazer para derrotá-los. Um, que vinha evitando o amigo a fim de realizar sua análise, percebe finalmente que Xadhoom consegue passar através de objetos sólidos, tendo saído assim da Ducklair Tower. Ele finalmente diz ao Superpato que a alienígena experimenta uma alteração mental significativa, o que pode explicar o fato de estar disparando seus raios a esmo na cena do carro forte. Sobra até para nosso herói antes que ela se vá.


O Superpato consegue dar uma desculpa a Mary Ann quando a agente chega, e depois conversando com Um é informado que a arma evroniana causou uma total descompensação de energia em Xadhoom, diminuindo suas forças e mesmo seus processos mentais. Eles preparam uma armadilha para a xerbiana, e um parque industrial abandonado, mas Flagstarr logo descobre a localização e para lá se dirige, bem como os dois MIBs.

Nosso herói dispara um dispositivo fornecido por Um contra sua aliada, mas os acontecimentos se atropelam com a chegada de Flagstarr e dos MIBs. Estes imobilizam a equipe de resposta trazida pela agente, e usam armas especiais do PBI contra Xadhoom. Mas o efeito não é o que esperam, Mary Ann derruba um dos sujeitos, e Xadhoom cuida do outro antes de fugir. Flagstarr revela que os dois MIBs eram agentes do PBI que se tornaram fanáticos pelos “arquivos impossíveis”, e por isso foram expulsos, passando a atuar na clandestinidade, ao que nosso herói comenta “ah, aqueles telefilmes” em uma referência bem explícita! O Superpato explica pouco da situação, mas garante que tudo está sob controle, e a agente aceita, dizendo que ela mesma sabe que é preferível que certas verdades permaneçam ocultas, e que ela própria já arquivou muitos dos casos “impossíveis”.


De volta a Ducklair Tower Um comenta que tudo acabou dando certo, e que Xadhoom aguarda por Donald no teto. A xerbiana pergunta como ele pôde pensar que ela iria embora sem se despedir, e nosso herói fica com o bico chamuscado após o agradecimento da amiga!


Um episódio cheio de ação, que se não chega a acrescentar muito à saga como um todo, é divertido. E com evidentes referências não só à série de filmes Homens de Preto, como também a Arquivo-X! Quem pode querer mais?

Até a próxima!

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Superpato Novas Aventuras parte 9

SUPERPATO 50 ANOS

PKNA 13 La notte piú buia


Essa história de Natal saiu originalmente em 20 de dezembro de 1997, e recebeu em Portugal o título A Noite mais Escura quando saiu na Disney Hiper 41 em 2016. Até mesmo a face de nosso herói na capa, no ícone do lado esquerdo, aparece com um gorro natalino celebrando a ocasião.

É início da noite de Natal na pequena cidade de Bravestone, os relógios marcam pouco depois de 18 horas, e em suas casas os habitantes preparam a ceia. Porém, em boa parte das residências, o clima festivo é interrompido pela chegada dos invasores evronianos. Felizmente, alguém consegue se esconder e enviar um pedido de socorro via e-mail.


Enquanto isso, no 00 Channel, Angus Fangus e Mike Morrigham estão em meio a uma enésima discussão, e o neozelandês ignora a mensagem. Morrigham, por outro lado, pensa que pode ser interessante para sua carreira e convoca o Câmera 9 para auxiliá-lo perseguir a matéria. Enquanto isso um personagem de moto consegue se evadir dos evronianos em Bravestone, e o general Wisecube é informado da invasão logo antes de o coronel Westcock o remover de suas funções, assumindo o controle da força de resposta militar.


Morrigham remexe nas anotações de Angus, diz que Bob Woodduck teria orgulho dele (menção, claro, a Bob Woodward, um dos jornalistas que revelaram o escândalo Watergate) e sai com Câmera 9 rumo à propriedade de Norman Bates Russel, já mencionado anteriormente. Lá eles encontram um cachorro que os guia através da região. Os militares, por sua vez, se preparam para a incursão contra os invasores, e onde está nosso herói?

Fazendo as compras de Natal no shopping, claro! Com o celular desligado, ele distraidamente não vê as mensagens enviadas por Um, que hackeou as televisões e outros dispositivos das vitrines do shopping. Finalmente a I.A. consegue contato com Donald e o informa da situação. Enquanto isso Morrigham e Câmera 9 chegam a Bravestone, constatando a grave situação, mas o jornalista, claro, só quer fazer a “matéria do século”.


O Superpato chega bem a tempo de salvar o personagem da moto, o mesmo que enviou o pedido de socorro, e que se revela uma garota, Marjory. Eles se reagrupam e a menina de gênio forte não admite ser deixada para trás pelo herói. O Câmera 9 é separado de Morrigham e faz imagens da cidade invadida, enquanto os alienígenas reúnem a população na praça central. Vale destacar que nesse momento vemos dois idosos habitantes do lugar comentando que não viam agitação desde a época em que um jovem intrépido chegou a Dawson.

Sim, é uma menção à Saga do Tio Patinhas! Já conferiu a resenha dessa epopeia lá no Corujice Literária?

Os alienígenas pretendem abduzir as pessoas e usá-las em experimentos, mas o Superpato chega e os interrompe, com o auxílio de Marjory. Porém eles são cercados pelos evronianos e tudo parece perdido, porém os militares chegam nesse momento. Depois de uma tensa conversa os invasores vão embora, e evidentemente Westcock afirma que tudo aquilo foi um exercício, no melhor estilo do acobertamento visto, por exemplo, em Arquivo-X.


A partir desta cena, aliás, as páginas trazem nos cantos desenhos natalinos. Depois de os militares deixarem o local, o Superpato promete escrever a Marjory, e Câmera 9 diz a Morrigham que enviou a fita gravada pelo correio ao 00 Channel. Porém, quando o jornalista vai exibir a “matéria do século” dias depois, tudo o que a gravação contém é um velho desenho animado, para divertimento de todos à custa de Mike Morrigham. Câmera 9 ainda comenta que sabia que, com o exército no meio, algo assim iria acontecer.

PKNA 14 Carpe Dien


A primeira publicação desta trama se deu em 20 de janeiro de 1998. Em língua portuguesa somente saiu em Portugal em 2016, na Disney Hiper 42.

Em Megadelhi, uma cidade da Terra no ano de 2448, certa manhã foi extremamente ruim no horário das 10:30 h. Uma experiência no laboratório da empresa Globalgen, na periferia daquela cidade, provocou um terrível cataclismo que se alastrou não só pela cidade e pelo planeta, mas pelo próprio ano de 2448.


Em outro lugar, no século XXIII, o desastre é captado nos laboratórios da Organização, um grupo criminoso de piratas temporais. Seu principal cientista, o dr. Vostok, explica para o conselho de líderes que o século XXV simplesmente desapareceu devido à catástrofe, e que uma bolha de vazio temporal está se alastrando e se aproximando deles. Vostok explica que eles já monitoravam a Globalgen, e que a experiência conduzida por eles no futuro se destinava a criar um reator de cronoenergia. Em teoria esse dispositivo poderia fornecer energia ilimitada, resolvendo os problemas energéticos do planeta. Mas o cientista aponta que um novo dispositivo, uma unidade cronal, juntamente com a reação entre matéria e antimatéria, irá provocar a criação de uma força capaz de desintegrar a estrutura do espaço-tempo contínuo. Para complicar tudo a Tempolícia, cuja maior norma é não alterar os eventos da linha temporal, não pode realmente fazer nada com sua tecnologia, que não lhes permite viajar ao futuro, somente ao passado.

Os piratas discutem e chegam á conclusão de que somente seu melhor agente, o Lança-Raios, é capaz de impedir a catástrofe. Mas, desde os eventos de Superpato vs. Demolidor (confira na parte 3), o viajante do tempo está em uma cela cronostática da Tempolícia, em oscilação multidimensional. Então eles decidem utilizar os serviços daquele que teve participação fundamental na prisão do Lança-Raios: o Superpato!


Newton, um androide a serviço da Organização (e claramente inspirado em Arnold Schwarzenegger e que usa uma gravata bizarra) e o cientista Vostok são os escolhidos para viajar ao século XX e buscar o Superpato. Eles se dirigem ao Duckmall Center, um importante shopping de Patópolis, e armam uma grande confusão. Nosso herói chega e o cientista o alerta quanto á ameaça temporal, e quando as coisas começam a ficar tensas com a polícia Newton transporta os três pelo tempo.


Diante dos líderes da Organização o Superpato pergunta por que deve confiar neles, e recebe como resposta o fato de estarem falando a verdade. O herói é confrontado com o fato de a bolha de energia temporal já estar atacando o século XXIV, e que a Tempolícia estuda contramedidas, mas que não serão postas em prática a tempo. Os criminosos pedem que o Superpato obtenha junto aos policiais temporais um graviton, dispositivo com o qual podem livrar o Lança-Raios. Newton o acompanha até uma cronoestação, mas claro que as coisas não acontecem exatamente como o previsto.

Em meio á luta contra os tempoliciais o androide retorna a seus empregadores deixando nosso herói sozinho, até que retorna no último instante. Superpato fica muito enraivecido quando percebe que o “velho amigo” Lança-Raios já está lá, e Vostok explica como, após o retorno de Newton com o graviton, puderam enviar uma equipe até o Centro de Pesquisas de Energia de Patópolis, durante os eventos já narrados na parte 3, a fim de resgatar o cronopirata.

Vostok explica como o processo criou uma imagem do Lança-Raios, enquanto o verdadeiro pirata foi levado pelos agentes da Organização durante o experimento do Sol Frio. Por sinal, é uma das melhores conversas estilo “tecno-baboseira”, ou conversa científica para ser mais exato, de toda a série! O Superpato, claro, começa a experimentar uma das piores dores de cabeça de sua carreira, com tanto papo sobre oscilações, viagens no tempo e dimensões paralelas. Mas ele não é o único, visto que até Newton, o androide, saiu de fininho durante a exposição de Vostok.


Superpato e Lança-Raios então recebem a tarefa de desativar a unidade cronal e impedir a criação da bolha de vazio, que por sinal já destruiu o século XXIV. E evidentemente não há uma segunda chance, e nosso herói confessa que até aquele momento esperava que tudo fosse uma armação. O Lança-Raios pergunta se ele está com medo, e SP responde imensamente, sendo que o pirata diz que sente o mesmo mas não demonstra, pois tem uma reputação a zelar.

Os dois chegam ao exterior dos laboratórios da Globalgen e forçam o caminho até seu interior, enfrentando robôs de vigilância e guardas pesadamente armados. Com habilidade, astúcia, suas armas e as tecnologias espaço-temporais do Lança-Raios a dupla avança, e o pirata revela que o plano da Organização não envolve devolver o Superpato a seu próprio tempo. Nosso herói percebe que o “amigo” quer negociar, e este diz que quer ficar com a unidade cronal, que lhe permitiria viajar sem limites por todo tempo e todas as realidades. Trato feito (e vale lembrar que pouco antes o Lança-Raios entrega ao Superpato uma lembrança enviada por Newton, sua gravata), eles prosseguem com a missão.

Um dos guardas inadvertidamente lhes aponta o caminho, mas os cientistas decidem iniciar a experiência antes do previsto. Herói e anti-herói se veem no epicentro da catástrofe, envolvidos pelo nada temporal e convictos de que foram eles mesmos, com sua intervenção, que provocaram a hecatombe temporal.


Resta uma esperança, desativar a unidade cronal, mas o Lança-Raios não consegue se aproximar do dispositivo. O Superpato pensa sobre como pode apanhá-la, e então percebe que pode laçá-lo com a gravata de Newton. Em um instante decisivo a catástrofe é impedida, salvando a continuidade do espaço-tempo.

Em Patópolis, século XX, nossos heróis contemplam um belo dia, e o Lança-Raios recebe a unidade cronal do Superpato. Porém esta está totalmente exaurida, sem mais qualquer utilidade. O pirata então se vai, dizendo que pretende tirar férias, e eles se despedem declarando-se inimigos como sempre.


Uma história das mais espetaculares da série, explorando como excelente Ficção Científica conceitos como viagens temporais e múltiplas realidades. Esta foi a segunda visita do Superpato ao século XXIII, conforme já visto na parte 4, com algumas menções a Retrato de um Herói. E, lembrando que foi a ação de Lança-Raios com a altronave, que descrevemos na parte 3, que abriu fendas no tecido das realidades permitindo a chegada de Urk a Patópolis, como visto na parte 8, percebemos como este espetacular universo de Superpato Novas Aventuras está todo conectado.



Semana que vem tem mais! E claro, no próximo final de semana acontece o Festival Guia dos Quadrinhos, não deixe de comparecer!

Até a próxima!

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Superpato Novas Aventuras parte 8

SUPERPATO 50 ANOS

Antes do texto desta semana, lembrando novamente que em 13 e 14 de abril próximos acontece o Festival Guia dos Quadrinhos, pela primeira vez com uma atração internacional! Está confirmada a presença do italiano Francesco Guerrini.


Esse mestre Disney foi o responsável pela arte, entre outros, de A Pataca Fatal, história apresentada no Almanaque Disney 373, e que é uma releitura de O Trenzinho da Alegria, uma das melhores histórias natalinas do mestre supremo Carl Barks, publicada entre outras no Almanaque Disney 103. Além disso, como falamos nesta série de Novas Aventuras, é de Guerrini também a arte de Terremoto, apresentada na parte 4 deste especial.

Quem aí está ansioso?

PKNA 11 Urk


Lançada em 20 de outubro de 1997, a trama começa com Patópolis tomada pela preocupação em torno de desaparecimentos misteriosos, sendo o mais recente o de dois policiais. Depois de enfrentar a gangue do rock novamente como Superpato, Donald conversa na Ducklair Tower com Um a respeito do mistério. Nisso, dois limpadores de janelas estão trabalhando no exterior do edifício, quando o menor deles se desequilibra e cai.

O outro trabalhador segura a ponta de uma corda e se atira, salvando o companheiro diante dos incrédulos pato e I.A. Na redação do 00 Channel Lyla também detecta algo com seus sensores. Um então informa a Donald que acessou o banco de dados da empresa de limpeza e descobriu a identidade do limpador de janelas gigante. Contudo, o nome pertence na verdade ao de um trabalhador que este na construção da Ducklair Tower, significando que o grandão é um impostor.

O Superpato visita o endereço do sujeito na noite seguinte, e depois de algumas descobertas alarmantes se confronta com o gigante. Este diz que seu nome é Urk, derruba nosso herói com a rajada de energia desferida por uma lança, e diz que ele não deve mais cruzar seu caminho. De volta ao esconderijo Donald está seguro de ter encontrado o autor dos desaparecimentos, mas Um apresenta questões pertinentes que colocam em dúvida essa questão.


No 00 Channel Lyla chama Donald de lado e comenta que detectou indícios de decaimento de táquions, fenômeno que ocorre diante de manipulações temporais. Imediatamente o pato lembra do Lança-Raios, que continua em fase dimensional conforme vimos na parte 3. Isso aponta para a possibilidade de outro crononauta renegado.

Nossos heróis ficam de tocaia e encontram Urk. Este está de olho em um cidadão passeando com seu cão, mas o Superpato o ataca, e quando o gigante responde derruba uma parede sobre Lyla. A androide afirma que Urk é o crononauta, mas o grandão diz que a “criatura” voltou a atacar. O herói e a androide se dão conta de que o cidadão e o cão sumiram, e seguem Urk pelo subterrâneo.

Os três se deparam com algo desconhecido, e o Superpato usa um dispositivo do escudo X-transformers, o paralizador bradiônico. Este altera a percepção temporal ou o tempo subjetivo do alvo, e o monstro é afugentado. No esconderijo de Urk eles conversam, e o gigante revela ser do povo Iroquis dos Grandes Lagos, mas vindo de um universo paralelo, daí os traços taquiônicos incomuns detectados por Lyla.

Na realidade de Urk as tribos da América do Norte se uniram e se desenvolveram, tendo recebido conhecimentos de seres vindos do espaço havia milhares de anos. A silhueta de um desses alienígenas, aliás, é semelhante a de um evroniano, coisa que comentaremos ao longo da série. Assim, as tribos criaram tecnologias avançadas e cresceram em harmonia com a natureza, até a chegada de invasores vindos da Europa, dois séculos antes: os vikings.


Dois séculos de guerra, e os invasores criaram uma arma, a “criatura”, que elimina a vida biológica. Urk rastreava uma dessas armas quando cai em um portal dimensional subitamente aberto, tendo visto de relance um personagem cuja descrição bate com a do Lança-Raios... sim, aconteceu quando o pirata temporal acionou a altronave em Superpato vs. Demolidor, lembram?

O monstro, infelizmente, veio com Urk e sua primeira vítima foi o pato que trabalhou na Ducklair Tower, do qual o guerreiro Iroquis assumiu a identidade. Ele explica ainda que a criatura se alimenta de energia temporal, deixando as vítimas como envelhecidas após seus ataques.

Após Um realizar um upgrade na lança de Urk, o trio se une após a criatura levar um membro da gangue do rock. Eles finalmente encontram o ninho do mostro e começam a libertar suas vítimas, mas precisam enfrentar a coisa que está evoluindo, graças a mudança dimensional, e ficando inteligente.


Depois de uma luta feroz, uma rajada de energia atinge o inimigo, que é aniquilado. A energia temporal que roubou retorna para suas vítimas, e tudo termina bem. Na verdade, mais ou menos, pois a Tempolícia não está satisfeita com o comportamento de Lyla durante as ocorrências. Eles manterão o que restou da criatura em extase em suas crono-celas, mas nada podem fazer por Urk, que não pertence ao mesmo contínuo espaço temporal.

No dia seguinte, claro, Urk volta a limpar janelas, Lyla a trabalhar na redação do 00 Channel, e o pobre Donald continua a sofrer como office-boy do canal. Urk comenta com os novos amigos: “se é assim que seu mundo trata seus heróis, não admira que aqui haja tantos vilões”. Uma das melhores histórias de toda a saga, que resultaria em uma trilogia cheia de ação explorando o tema das realidades paralelas. As próximas tramas com Urk explorarão mais a linha temporal de sua realidade, com conceitos que nada devem ao melhor já produzido pela Ficção Científica mundial!

PKNA 12 Seconda Stesura


Esta espetacular história saiu em Portugal na Disney Hiper 40 como Segunda Versão em 2016, em edição comemorativa dos 20 anos da série As Novas Aventuras. A publicação original na Itália aconteceu em 20 de novembro de 1997.


Em uma gélida noite em Patópolis, com a cidade coberta de neve, a imprensa se reúne nos escritórios da Ducklair Corporation, na Torre de mesmo nome, para uma entrevista com seu presidente: Donald! Ele narra rapidamente sua história, como foi escolhido por Everett como seu assistente, a fim de colocar limites em sua prodigiosa imaginação, até se tornar o líder da empresa na ausência de seu fundador.

Lyla, que conduz a entrevista, diz que o público adora histórias da pessoa comum que ascendeu a uma alta posição por seus méritos, mas nesse momento vemos algo como uma estática, fazendo aparecer na imagem outra cena, como um canal mal sintonizado nas velhas TVs de tubo.

A jornalista, de volta à redação do 00 Channel, discute com o colega Angus Fangus, que afirma que Donald esconde algo. Nisso, Um prepara para nosso pato preferido sua roupa noturna, a do Superpato.

Em 2255 vemos o megaempresário Odin Eidolon discutindo com um androide a respeito de um compromisso para que os seres artificiais desfrutem dos mesmos direitos dos biológicos. O robô diz que aquele é apenas o começo, e constatamos que o clima está realmente esquentando, quando outro fenômeno de sobreposição de imagens acontece. Depois de falarem rapidamente a respeito o androide parte, e Odin ruma para o único lugar onde pode encontrar respostas.


E este é Time 0, a base da Tempolícia fora do espaço-tempo, que pode inclusive ser observada no desenho integral da capa e contracapa da edição. E de novo com sua arquitetura muito similar ao do planeta de Doctor Who, Gallifrey. A imensa estação está ancorada em um ponto do não tempo, e ali estão não somente os arquivos da trajetória histórica da humanidade, como também cofres que podem guardar qualquer coisa sem que esta seja corrompida.

O arquivo histórico é essencial para a Tempolícia verificar possíveis desvios no fluxo temporal, acompanhado constantemente por seus androides de vigilância.

Odin apanha o objeto e descobre o que pretendia, e faz mais um pedido para a Tempolícia. Nisso, 258 anos antes (século XX, portanto, nada a ver com o “século 23” que saiu nas seis edições da Abril de 1998), o Superpato combate e derrota alguns vilões genéricos. De volta à Ducklair Tower, Donald recebe a visita inesperada de dois tipos com mantos, dizendo-se emissários de Everett.

Depois daquela conversa ele chama Lyla na manhã seguinte, apresenta o líder da dupla como especialista em cibernética, e afirma que em breve lançará a Robolab, a fim de produzir robôs em massa. Ele oferece à jornalista o cargo de relações públicas da nova empresa, mas ela começa um virulento discurso sobre igualmente entre biológicos e androides. Depois Donald se diz convencido, e quando a pata sai o sujeito de capuz diz que “é ela”.

Donald descreve como conheceu Everett e Lyla no mesmo dia, quando de um teste de um robô de Ducklair que apresentou defeito. O estranho diz que realmente os eventos não se deram dessa maneira, demonstra ainda conhecer o Superpato, e os três então viajam pelo tempo, mas sem nosso herói se dar conta.


O próprio Superpato sabota o robô, e quando Lyla chega fica frustrada com o adiamento da demonstração. Os três se revelam, e o terceiro do grupo se revela como... Lyla! O Superpato vê o Donald passando com o 313, que havia sido destruído no dia do teste do robô, e finalmente Odin Eidolon se revela. Nesse momento o Superpato percebe que as lembranças começam a se misturar em sua mente, tanto que reconhece o construtor de androides, sendo que nessa realidade alterada nunca havia viajado no tempo.

Vemos até lembranças de Evronianos e de Retrato de um Herói para reforçar a confusão de nosso herói, então Eidolon confirma que alguém fez um Segundo Rascunho, alterando a realidade, criando uma em que Donald é presidente da Ducklair Corporation e, no futuro, os androides buscam agressivamente por direitos iguais. Superpato questiona como a Tempolícia não perceberia a mudança, e Odin responde que os androides de vigilância estão por trás desta. O herói se sente decepcionado pela amiga androide, mas Odin afirma que não deve ser ela, mas sim outra da mesma série, como a que trouxe consigo a fim de enganar a vilã. Também diz que a verdadeira Lyla deve estar prisioneira em algum lugar.

Eles estão chegam a Time 0 a tempo de combater a revolta dos androides, e eles se dirigem ao exterior da estação, ao nada absoluto, utilizando equipamentos individuais chamados estabilizadores de realidade subjetiva. Ali encontram um veículo atracado e androides revoltosos, e também Lyla, aprisionada em um campo cronostático. Surge então a líder dos androides rebeldes: Geena ou Gina!

Lembram dela? A androide dócil de Retrato de um Herói? Recordam os comentários que escrevi na parte 4, de que as palavras do Superpato teriam uma profunda repercussão?


A androide de cabelos curtos fala do inconformismo de sua espécie sintética ser tratada como escrava, e o Superpato reconhece que foi tudo culpa dele. Gina diz que não, que as palavras do herói a fizeram organizar a rebelião, e tentar a cooperação de Lyla graças ao individualismo desta. Mas a jornalista se manteve acima de tudo fiel a seus deveres como tempolicial, daí que Gina tomou seu lugar. A rebelde aciona então um dispositivo para destruir o veículo, mas Odin faz uma conexão com ela para mostrar até onde seus planos podem chegar.

A androide rebelde lamenta, e tenta parar a contagem regressiva, mas é tarde demais. A bomba temporal explode, Odin, Lyla e Superpato escapam sãos e salvos, mas Gina é severalmente atingida. Ela diz que não poderia permitir que o herói, amigo dos androides, se ferisse, e recusando seus pedidos para que se afastasse da bomba provou que não era uma máquina obediente.

Técnicos chegam e dizem que podem reativar Gina, mas o Superpato não permite. “Ela não iria querer. Máquinas podem ser reativadas”, diz com tristeza.

De volta ao século XX, Odin diz que o Robolab será mesmo construído, e Lyla lamenta que os androides estão destinados a posições de servidão, mas Eidolon responde que não será assim, que eles conquistarão a liberdade e direitos iguais por merecimento.

Resta somente a Donald conectar o objeto de Odin, um bloco de memórias, a Um, a fim de que nossa I.A. preferida saiba de todos os conhecimentos, e se lembre deles no século XXIII. Afinal, Um é mais que suficiente!


Uma das mais incríveis histórias de realidade temporal alternativa de toda a série Novas Aventuras, explorando também o tema da consciência artificial. As viagens no tempo neste episódio são quase um mero detalhe, em uma trama fundamental que ainda terá suas repercussões no futuro. É evidente que este, e outros episódios futuros tratando do tema da inteligência artificial e seres sintéticos, podem ser comparados a um dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas, The Measure of a Man (O Valor de um Homem) nono episódio da segunda temporada de A Nova Geração, quando Data precisa provar que é um ser consciente para não se tornar objeto de estudo de um especialista da Frota Estelar.


Nossa série sobre os 50 anos do Superpato, analisando as 50 edições de As Novas Aventuras, prossegue na semana que vem!

Até a próxima!

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A Lista 8, o Brasil comunista

Os contos dA Lista, em sua publicação pela saudosa revista Sci-Fi News, teriam sequência originalmente pelas histórias 8, 9, 10 e 11, todos partes da mesma trama. Evidentemente, para fins de clareza, ficou decidido que todos seriam na verdade capítulos do episódio 8 da série, publicados nas edições 91 a 94, de setembro a dezembro de 2005. Esta história depois se revelaria fundamental para o livro dA Lista, que espero lançar em breve. Agora os trago aos ilustres leitores conforme saíram na Sci-Fi News, espero que gostem!

A Lista 8 capítulo 1


São Paulo não parecia muito diferente da cidade cujas lembranças Patrícia trazia na memória.
Ainda a metrópole fervilhante, a capital cultural e financeira do Brasil.
Mas havia outra capital, Brasília, que era a capital que mandava. E havia mandado muito naquela quase década e meia.
Havia, essencialmente, copiado o sistema chinês. Um país, dois sistemas.
O Brasil, desde 1989, era um país comunista, onde existia apenas o partido do governo. Onde quase todas as empresas, incluindo multinacionais, haviam sido estatizadas. Onde o estado cuidava de tudo.
Até do que era mostrado na tv, falado no rádio, escrito em jornais, revistas e internet.
O Brasil onde sobrevivia o sistema que existira na Rússia, China e outros lugares. O sistema que, com a ajuda de Cuba e Venezuela, fora imposto ao restante da América Latina.
A única exceção era a Argentina, mantida um bastião do capitalismo pelos pesados investimentos dos Estados Unidos. Foi por ali que Patrícia conseguira entrar clandestinamente no território brasileiro. Apenas os amigos mais chegados de Nova York, incluindo os da ONG que comandava, e o pessoal da resistência no Brasil, sabiam da viagem. Além do pessoal da CIA e Departamento de Estado.
Para os seus leitores, ela continuava sendo apenas uma autora de sucesso. Ela pensou por um momento na fina ironia. O fato de ser uma perseguida política e feroz inimiga do regime de Brasília a tornara uma celebridade no Ocidente. As vezes, ficava a pensar se seus livros tinham mesmo as qualidades que tantos aplaudiam, e qual o papel desempenhado pelo fato de sua luta servir também aos interesses americanos.
Em todo caso, era grata aquele país por tudo que lhe proporcionara. Mas tinha que fazer aquela viagem suicida, como a chamava seu agente. Marco, seu amado, estava em perigo, e cabia a ela salvá-lo.
Zé, o motorista, um dos membros mais ativos da Resistência, apontou para a fila adiante, que controlava a passagem entre duas zonas da cidade, dizendo:
- Bons tempos quando podíamos andar por aí, sem precisar ficar mostrando documentos, nem comprovando porque tínhamos que ir a determinado lugar... Esses “comunas” de...
- Vai dizer, disse Patrícia, que você não votou no Laércio?
Laércio Inácio, que alguns ainda chamavam de Lula, era o presidente do Brasil, eleito nas primeiras, e últimas, eleições presidenciais após o final da ditadura militar. Zé respondeu:
- Claro que sim! Havia o desejo de mudança, acabar com as oligarquias... Mas o que veio depois...
A fila andou, e ante o sorriso irônico de Patrícia, ele aproveitou para mudar de assunto:
- Soube que andam cogitando, no Congresso Nacional, permitir que os partidos voltem a se organizar?
- Sim, fiquei sabendo por cima. Sabe como é, lá fora eles publicam só o que querem. E, falando nisso, e o tal do Rohter?
- Ainda na prisão. Entra embaixador, sai embaixador, e os americanos protestam, protestam... Para a seguir assinar mais um acordo comercial! Claro, enquanto vão mandando toda ajuda pros argentinos... O pessoal americano acha engraçado ter que falar com os intérpretes oficiais do partido, já que nossos diplomatas estão proibidos de falar inglês!
Patrícia riu, e perguntou:
- Mas você dizia dos comentários no Congresso...
- Ah, é! Aquela senadora meio histérica que só veste camiseta e jeans, como é... Helena Hernandez, é isso! Andou falando o diabo na tribuna, que é um absurdo o partido, depois de tanto esforço para acabar com a burguesia e as elites oligárquicas opressoras do povo, sequer cogite de permitir tal patifaria, ou algo assim. Claro que aproveitou para exorcizar São Paulo, gritando que um antro contra-revolucionário como este deveria ser reduzido a cinzas. Como sempre, esquece convenientemente que sai daqui o sustento do Brasil.
Patrícia e Zé pararam de conversar enquanto passavam pela barreira, e tudo afinal se resolveu, depois de os guardas, com os uniformes repletos de emblemas com a estrela vermelha, examinarem o porta-malas e todo o carro por baixo.
Chegaram finalmente a Pinheiros, onde havia um aparelho da Resistência. O nome que usavam para designar o lugar era, claro, resquício do período militar. Patrícia só esperava que tivessem melhor sorte que os tresloucados guerrilheiros que, afinal, haviam tomado o poder.
- E sabe o que mais, perguntou Zé enquanto entravam, o Luis Goshiro, chefe da Comunicação Democrática, mais o Dilmário Dill, Ministro da Cultura Democrática, baixaram uma portaria determinando a proibição de todo e qualquer material sobre Raul Seixas.
- Deixe-me adivinhar, por ser contra-revolucionário, disse Patrícia.
- A música Sociedade Alternativa foi a única obra de Rauzito citada na portaria, por que será?
Zé abriu a porta da sala, e a escritora entrou.
A reunião com os companheiros durou várias horas. Havia um boato correndo entre os dissidentes de que o governo preparava algo grande, uma ação importante, seguramente no intuito de exportar sua amada revolução. Tudo indicava que seria contra a Argentina, mas nada mais sabiam.
Patrícia aproveitava os intervalos para ler os panfletos da Resistência, e ficou assombrada com o que viu. Enquanto proibições tolas como a descrita por Zé aconteciam, outros artistas “subitamente” esqueciam o valor de sua obra e passavam a louvar o governo em letras e livros, programas e shows. Ao mesmo tempo, os que como ela não se dobravam eram censurados, presos ou exilados.
Ela pensou em Marco, e tremeu. Não queria nem imaginar o que poderia estar acontecendo com ele na prisão. Era por isso que estava ali. O combinado pelos representantes americanos era que sua entrada, mesmo clandestina, fosse permitida, e a própria Patrícia negociaria, ao lado do embaixador, a libertação e exílio de Marco.
Ela pensou na Lista. Lembrou de seu amigo Adolfo, num Brasil também ditatorial, onde só quem se adequava as modas passageiras, ditadas pelo estado, conseguia sobreviver no meio cultural.
Ou aqueles outros tantos Brasis, onde pelo contrário, havia liberdade e democracia. Diversidade e um meio artístico fervilhante, onde não era traição criticar aqueles no governo.
Suspirou. Faria de tudo a seu alcance para que seu Brasil voltasse a respirar liberdade!
Finalmente, na noite seguinte, após muitos telefonemas, o encontro foi arranjado, num prédio do governo no Morumbi. Tiveram que passar por duas barreiras para chegar lá, e Zé cismava que as coisas estavam fáceis demais.
- Não gosto disso, disse ajeitando o boné.
Boinas eram sumariamente execradas na Resistência, por serem um dos símbolos daqueles contra os quais lutavam.
Quando o carro parou defronte ao prédio governamental, soldados armados saíram das sombras e, armas em punho, os renderam.

A Lista 8 capítulo 2


Era um pesadelo.
Patrícia, controle remoto na mão, corria todos os canais.
Havia uma relativa liberdade na tv, embora quadros com mensagens do governo, “corrigindo” o que era mostrado em filmes e seriados estrangeiros, enchessem metade da tela durante a exibição do programa.
A cada cinco minutos, um intervalo. Os comerciais duravam outros 5 minutos, e eram alternados com os intervalos políticos, onde conhecidas figuras falavam durante 10 minutos.
A escritora teve ímpetos de lançar algum objeto pesado na tv, ao ver certas figuras muito conhecidas da política brasileira “docilmente” convertidas a ideologia governamental. Um conhecidíssimo “coronel” nordestino, pequena estrela vermelha na lapela, falava sobre as maravilhas de seu estado natal. Ela finalmente se encheu e desligou.
Fazia quase um dia que haviam sido capturados. Ela não vira mais Zé, mas tinha certeza que estava sendo bem tratado. Sabia muito, e além de tudo era um dos contatos dos americanos, cujo governo já havia entrado em contato extra oficial com Brasília. Os agentes governamentais seriam muito burros se o machucassem.
Nas poucas vezes em que alguma faxineira ou outro serviçal viera ver do que precisava naquela suíte, Patrícia conseguiu ter um vislumbre pela porta entreaberta, descobrindo que eram ao menos três os guardas armados a vigiando.
“Mais essa agora”, pensou, quando ouviu passos de várias pessoas no corredor. Finalmente alguém importante. A porta se abriu, e um homem de meia idade entrou.
- Olá, Paty.
Era Josefo Dirce, ministro da Casa Democrática Civil da Presidência. Patrícia o conhecera nos anos 80 quando, jovem universitária, participou de algumas campanhas.
- Se me chamar assim de novo, juro que mato você.
Ela se esforçou para esquecer o passado. O odiava mais que o próprio Laércio.
- O presidente deve estar embarcando agora no Brazilian Force One. Deve vir vê-la amanhã de manhã o mais tardar.
- Aquele avião luxuosíssimo? Como conseguiram que o povo não os linchasse com mais esse ultraje?
Dirce riu, e respondeu:
- É interessante ver como sua prolongada experiência em uma sociedade capitalista, corrupta e decadente como a americana a faz ter uma visão deturpada das coisas, Patrícia! O presidente é o representante do povo, e logicamente não fica bem utilizar de meio de transporte não apropriado, a altura de um verdadeiro líder!
Patrícia levantou-se e caminhou pelo quarto, dizendo:
- É impressionante, vocês parecem mesmo acreditar na lavagem cerebral que divulgam para as pessoas! Isso é parte do programa para elevar a auto-estima do povo?
Dirce não respondeu, e Patrícia, chegando bem próxima a ele, completou em voz baixa:
- Apenas o fato de permitirem que São Paulo continue um enclave do puro, bom e velho capitalismo em pleno “Brasil Vermelho”, a fim de continuar a financiar sua preciosa revolução, é prova mais que suficiente que seu sistema fracassou! É como um câncer, que muito mais breve do que vocês imaginam, irá acabar com sua megalomania ideológica.
Dirce procurou disfarçar, mas era óbvio que ficou totalmente furioso com aquelas palavras. Disse secamente que mais tarde viria preparar o encontro de Patrícia com o presidente Laércio, e retirou-se. Antes que fechasse a porta, Patrícia ainda disse:
- E vocês não acham realmente que o povo considere suas instituições democráticas, só porque colocam a palavra em cada nome de ministério ou repartição, não é?
A porta foi batida com força, e trancada por fora.
Patrícia passou a tarde assistindo tv, e surpreendeu-se quando viu sua foto no noticiário. A apresentadora oficial disse:
- E em um gesto de boa vontade, com o fim de reforçar a intenção de melhora nas relações com os Estados Unidos, o governo da República Federativa Popular Social Democrática do Brasil acolheu como hóspede a conhecida escritora Patrícia Chede. Para demonstrar a boa vontade de nosso democrático governo, estão sendo conduzidas negociações para a libertação de certas figuras acusadas de subversão.
A imagem corta para o presidente da Câmara de Deputados, Zeverino Camargo:
- Vejo com bons olhos esse gesto de boa vontade, ainda que para isso o governo tenha que tratar com elementos que combatem os nobres ideais igualitários de nossa nação.
Zeverino, antes de 1989, foi um dos deputados mais conhecidos por trocar de partido como quem troca de roupa. Também era campeão em pedidos de aumento de salários e verba parlamentar. A imagem mostrou a seguir a furiosa senadora Helena Hernandez:
- É mais uma patifaria de forças ocultas neste governo, que pretendem com isso retornar aos tempos de trevas, quando a burguesia controlava nosso grande país! É uma infâmia sequer considerar uma negociata dessas com uma desertora, traidora e representante das forças da escuridão capitalista!
Patrícia só conseguiu dar risada.
Dirce voltou mais cedo do que esperava, olhou-a com expressão ainda muito zangada, e disse que tinham cinco minutos.
Marco entrou a seguir na suíte. Mais que depressa, Patrícia o abraçou, sem poder conter as lágrimas. O beijava e abraçava, esquecida por um instante da aflição por tanto tempo sem notícias.
- Preste atenção, Patrícia, disse ele.
Ela reparou mais em suas feições. Estava magro e abatido, com uma cicatriz na testa, e marcas de hematomas no queixo e braços. Mas no geral, parecia bem.
- O que foi, Marco? Nada importa mais agora. Vim tirar você daqui!
- Preste atenção, ele voltou a sussurrar. Não faça nada do que peçam! Quando puder sair daqui, fale com Calmon!
- Armando Calmon? O Ministro da Economia Democrática, como esses patetas o chamam? A pessoa do governo que a tal da Hernandez mais odeia, por sustentar o atual sistema, por manter São Paulo assim! O conheço, mas não sabia que era simpatizante.
Marco olhou para a porta, e voltou a dizer, ainda mais baixo:
- Ele tem sido um contato dos americanos no governo, e veio ver como eu estava, antes que você viesse. Eles estão planejando algo, Patrícia. Algo monstruoso! O que quer que peçam, não faça! Por favor! Não quero te perder. Não quero que...
- Tempo esgotado, disse Josefo entrando na sala. Agora que já viu que seu namorado está bem, vamos tratar dos termos para seu exílio.
Dois guardas voltaram a algemar Marco e o levaram. Outros funcionários entraram, e Patrícia reconheceu Waldomiro Dantas, acusado de corrupção em um caso que o governo fingia não ter ocorrido. Ela suspirou aliviada quando Zé entrou, e num gesto de boa vontade, Josefo pediu que o major Fábio Almeida e dois homens o escoltassem, pois estava livre para ir.
Patrícia ouviu aquele nome e espantou-se, mas nada disse. A seguir, o presidente Laércio Inácio entrou na sala, e as negociações começaram.
Muito longe dali, um destróier brasileiro com tecnologia stealth e um míssil nuclear a bordo, entrava sorrateiramente em águas territoriais argentinas.

A Lista 8 capítuilo 3


Já era hora do rush, e o metrô estava lotado.
Duas senhoras conversavam sobre obviedades no assento de trás. A novela, como o galã da vez era lindo, como odiavam a jovem vilã, não distinguindo atriz e personagem.
- Você leu essa indecência que deixaram aqui no assento? Que vergonha!
Era como distribuíam um dos jornais da Resistência. Como sempre, eram expostos os “podres” do governo, mas parecia que as duas senhoras não lhes davam muito crédito:
- Imagine, querer copiar o sistema daqueles americanos imundos!
- Só para termos novamente criancinhas pedindo esmola nos semáforos?
- Ou toda aquela pouca-vergonha na televisão? Deus me livre!
Zé passara horas, desde sua liberação de manhã, tentando despistar os agentes que o seguiam. Tinha muita experiência no assunto, e depois de tomar vários ônibus e fazer 4 viagens de metrô, finalmente teve certeza que ninguém mais o seguia. Até já havia conseguido fazer contatos fundamentais.
No bolso interno de sua jaqueta, o envelope que o major Fábio Almeida, que o havia acompanhado quando foi liberado, lhe dera, e sobre o qual falara um pouco, deixando Zé estarrecido. Felizmente, ninguém dentro do governo jamais suspeitara que Fábio era seu irmão. Até na Resistência essa informação era conhecida por poucos.
Zé olhou com o canto do olho para as duas senhoras noveleiras atrás dele. Agora faziam comentários sobre uma e outra notícia dos telejornais. Havia uma tímida abertura nessa área, apenas para dar a impressão de que havia a tão falada “democracia popular”, devidamente propagandeada por cada ministro e funcionário do governo.
- E essa imprensa, então, já quer colocar as asinhas de fora!
- Ah, nosso querido presidente já vai dar um basta! Imagina, falar mal do salvador do Brasil! Ainda bem que Deus nos deu Laércio, não o chamam de pai dos pobres a toa!
- E esses dissidentes ainda querem eleições, para quê?
- Para voltarem aqueles políticos sem vergonha de antes? Estamos melhor assim!
Zé lembrou-se das vezes em que se metera em confusões por gritar com gente como as duas senhoras. Demorou para compreender que eram vítimas da lavagem cerebral do regime.
No fundo, o Brasil não ia tão mal. Em São Paulo, até dava para fazer de conta que a vida seguia normal. Até produtos importados se podia comprar, tendo dinheiro. Nada que um troco para os funcionários da alfândega não resolvesse. Até nas universidades, desde que as vozes contra o governo não fossem muito exageradas, se podia ter a ilusão de normalidade.
O futebol, as novelas e programas de auditório, e o carnaval continuavam os mesmos. Alguns artistas e esportistas, dotados de consciência, não toleravam os rumos do país e tornaram-se dissidentes no exílio. Alguns membros mais radicais atacavam os que dobraram-se a vontade dos donos do poder para permanecer na tv, ou nas paradas de sucesso. Fazia duas semanas que um famoso apresentador estava em estado grave no hospital, após um atentado a tiros. Claro, a maioria absoluta queria seu ídolo de volta. Zé pensava que aquilo não os havia beneficiado em nada.
Pelo resto do dia, esteve em contato com membros da Resistência e agentes estrangeiros. O chinês, Hu En-lai, que não via há tempos, disse que informaria seu governo. A China antagonizava o Brasil cada vez mais, e era natural que auxiliasse os dissidentes.
Finalmente, quase no final da tarde, o Alto Conselho da Resistência aprovou seus planos, após analisarem o material que Zé se apressara em digitalizar e lhes enviar.
Cerca de quarenta minutos depois, chegava a um aparelho da Resistência, onde fez mais contatos antes de entrar em uma reunião convocada as pressas. Sempre ouvia seus companheiros com paciência, mas daquela vez era diferente.
Interrompeu sem cerimônia Richard, o líder do aparelho:
- Sinto muito, mas a situação é urgente.
Detalhou seus contatos ao longo do dia, e o que acontecia com Patrícia. Alguns ficaram indignados mas Zé novamente os interrompeu:
- Temos que deixar de lado vaidades, pois esta é uma oportunidade como nunca antes tivemos!
Apontou para o gravador, e logo todos ouviam a fita que ele tirou, junto a algumas folhas de papel, do envelope que lhe havia sido dado.
As vozes de Josefo Dirce, Helena Hernandez e Luis Goshiro eram inconfundíveis. E o que falavam...
Assim que a gravação se encerrou, Zé levantou-se e falou para todos:
- Que fique muito claro, em hipótese alguma o que acabaram de ouvir pode sair desta sala! Uma outra fita, contendo a gravação original, já deve se encontrar em mãos de um colaborador na rede de TV. Cópias destes documentos estão sendo enviadas a simpatizantes por todo o país. Vejam bem, isto é nada menos que a chance de acabar com o reinado de horror de Laércio e sua corja!
Mané, um dos mais radicais, e que apoiava abertamente os atentados, inclusive contra celebridades “vendidas ao regime”, começou a vociferar. Um e outro passou a reclamar, e o jovem radical se entusiasmava mais e mais, dizendo que tinham que resgatar a escritora.
Zé tirou a arma, e a apontou para o colega, dizendo a todos:
- Os membros do Alto Conselho me ouviram, e deram carta branca! Querem mesmo jogar uma oportunidade dessas fora?
Depois de tensos momentos, os ânimos serenaram. Mané sentou-se frustrado, mas aparentando estar conformado. Richard parecia um dos mais abalados, e enfim perguntou:
- Mas... Meu Deus, como eles podem tramar isso? Quantas pessoas irão morrer!? Sabemos qual a potência da arma?
- É uma ogiva tática, deve ser capaz de atingir no máximo alguns quarteirões.
- E qual é o alvo?
Zé puxou um jornal que comprara de manhã e o estendeu sobre a mesa. Um grande anúncio de primeira página noticiava a chegada de milhares de participantes para certo evento, que iria ocorrer dali a dois dias em São Paulo.
- Alguém é capaz de pensar em coisa melhor?
Alguns mencionaram os aliados que viriam para o evento, mas Zé disse:
- Para o tipo de gente que são Dirce e seu bando, muitas vezes é conveniente que um aliado se torne um mártir, para insuflar novo vigor a sua revolução!
Ainda havia dúvidas quanto ao alvo, e de onde viria o ataque. Mas todos afinal entenderam que era preciso agir. Aliados dentro do governo tentavam obter mais detalhes do monstruoso plano, que seriam repassados para os dissidentes. A questão é se isso seria feito a tempo.
Zé lembrou-se do colapso da União Soviética, como mais do que depressa o Brasil ofereceu-se para custodiar parte de seu armamento nuclear, a fim de que não caísse em mãos erradas. Pensou que os EUA e outros países nunca haviam cometido erro tão grave.
Voltou a ler as notícias no jornal, sobre o grande evento. Torcia para que o que Fábio lhe dissera não fosse verdade. Mas sabia que era aquilo mesmo que pediriam a sua amiga.
Patrícia, longe dali, recebeu mais uma visita. Armando Calmon entrou na suíte. Era amigo de sua família, assim não deveria parecer estranho que fosse conversar com ela.
- Está sabendo? Laércio quer que eu defenda seu governo no Fórum Democrático Mundial. Disse que assim libertaria Marco.
Calmon não respondeu. Olhou para Patrícia com expressão de pavor nos olhos.

A Lista 8 capítulo 4


Patrícia experimentava as roupas que haviam lhe fornecido. Laércio, e especialmente Josefo Dirce, não se cansaram de mencionar o quanto sua aparência seria fundamental. A espera de dois dias havia sido angustiante. O que Calmon lhe disse era tão monstruoso, que Patrícia duvidava que de fato o levariam adiante.
Em águas territoriais argentinas, o destróier ainda aguardava.
O movimento do serviço secreto da ditadura havia crescido com a aproximação da data do Fórum, e os dissidentes tinham que ser ainda mais cuidadosos.
A informação chegara a eles. Equipes haviam sido formadas, e o plano finalmente posto em prática.
Zé preferiria ter ido ao antigo Anhembi, transformado sob Laércio no Espaço Democrático Fidel Castro. A absurda incoerência de colocar tal adjetivo em tudo nem passou pela sua cabeça. Verificou as armas que carregava, enquanto sua equipe preparava a invasão. Iriam tomar o principal estúdio da maior rede de Tv do país, precisamente onde eram produzidos todos os telejornais da casa.
O Fórum Democrático Mundial movimentava a cidade havia semanas, e uma multidão imensa compareceu ao antigo Anhembi. O trânsito na zona norte estava bloqueado, e apenas os veículos de autoridades podiam passar.
Os dissidentes dominaram os vigias do estúdio. A segurança, graças a seu pessoal lá dentro, estava menos rígida. Usaram suas armas com silenciador apenas contra os agentes da inteligência a postos.
Precisamente a uma da tarde, a organização iniciou o evento com uma grande queima de fogos. Calculou-se que um milhão de pessoas de vários países compareceram, além de enviados de vários governos.
O míssil foi finalmente disparado do navio brasileiro.
Afinal, Laércio iniciou seu discurso. Falou como sempre direto ao povo, em seu jeito simples. A seguir, apresentou como amiga e companheira a escritora Patrícia Chede.
Ela levantou-se e ficou defronte aos microfones:
- Meus amigos, cheguei a meu país há alguns dias, para negociar o exílio do conhecido dissidente Marco Henriques. O presidente me pediu para falar a vocês, hoje. E o que digo, é que está mais do que na hora de dar um basta ao totalitarismo deste governo!
Ela olhou sorrindo para Laércio e Dirce, que a encaravam perplexos. Voltou-se para o microfone, e gritou:
- Chega de ditadura, basta de arbitrariedade, acabem com a censura! Chega de Laércio, viva a liberdade!
Muitos foram os que aplaudiram entre a multidão, e um tumulto se iniciou. Um segurança de Dirce apontou sua arma para Patrícia, mas Fábio atirou-se em frente a ela, recebendo o disparo.
Telões exibiam tudo em rede nacional. Mas aqueles sintonizados no maior canal do país subitamente tremeram e saíram do ar, e logo surgiu o cenário do maior telejornal do canal. Dissidentes encapuzados ocupavam as cadeiras, e um deles leu:
- A tirania do regime comunista de Laércio Inácio começa a terminar hoje, quando estamos finalmente prontos a revelar, para todo o oprimido povo brasileiro, a infâmia de um plano tecido na calada da noite por colaboradores deste governo.
A gravação foi tocada. Patrícia amparava Fábio, enquanto a primeira voz ouvida era de Josefo Dirce:
- Com esse golpe, poderemos finalmente acabar com a ameaça argentina. Se todos pensarem que sua marinha lançou o míssil de suas águas, uma reação armada de nossa parte encontrará pouca resistência internacional.
- O alvo tem que ser o Fórum Democrático Mundial, era a vez de Luis Goshiro falar. Qualquer capitalista adoraria atacá-lo, ainda mais com as presenças de Chavez e Fidel.
- E ainda teríamos todo o direito de vingar nossos companheiros, disse Helena Hernandez. Sem falar da tremenda oportunidade de expurgar esse lixo capitalista, esse cancro burguês que São Paulo continua sendo!
Os três concordaram que o presidente Laércio não deveria saber do plano.
Fábio agonizou, e morreu nos braços de Patrícia após agradecer por seu esforço e suas lágrimas.
Quando a gravação terminou, a imagem voltou para os dissidentes, sendo exibida até por outros canais. Um deles disse:
- Exatamente ao final da queima de fogos, o destróier brasileiro Che disparou um míssil de cruzeiro com uma ogiva nuclear tática, apontado precisamente para o antigo Anhembi. O tempo de impacto estimado é de vinte minutos. Gostaríamos de pedir que deixem a região o mais depressa possível. Agora todos sabem do que esse governo é capaz.
A imagem saiu do ar. E o pandemônio começou.
Laércio estava fugindo com sua equipe assim que a gravação terminou. O serviço secreto praticamente o arrastou para o heliponto.
Em meio ao tumulto, dissidentes trocaram tiros com homens do governo, mas conseguiram resgatar Patrícia. Os dissidentes correram entre a multidão e conseguiram escapar, quando o míssil caiu no estacionamento.
A única explosão foi de seu combustível. Entre as vítimas, toda a comitiva de Fidel Castro, incluindo o próprio.
Dois dias depois, na embaixada norte-americana em Buenos Aires, Patrícia e Zé ainda experimentavam as emoções conflitantes dos eventos.
- Nossos amigos conseguiram salvar Marco em Cumbica, disse Zé. Agora, está a salvo em Londres. Quem sabe, possamos nos ver em breve.
Patrícia nada disse. O amigo também sofria pelo irmão e demais companheiros que tombaram, e falou baixinho:
- Fábio foi um herói. Ontem ouvi de um general que a vontade do Exército é que seja enterrado como tal. É o mínimo que merece, e farei de tudo para que aconteça!
Goshiro fora encontrado morto em seu gabinete. Suicídio. Josefo e Helena foram presos, e ainda se discutia a respeito do quê seriam acusados.
A marinha argentina afundara o destróier. Entre os sobreviventes, um técnico disse antes de morrer que havia desligado a ogiva. O governo argentino, junto ao americano, oficialmente ainda analisava a situação. Chavez, da Venezuela, declarara guerra ao Brasil pela traição, e os embates na fronteira seguiam, mas suas forças eram inferiores.
Os partidos políticos foram liberados, e Zeverino Camargo um dos primeiros a sair do partido do governo. Não havia mais a mínima condição de controle ou censura a imprensa, e se especulava que, com os caos no país, Laércio renunciaria em breve.
- Vai demorar para curarmos as feridas, disse Patrícia sorvendo uma xícara de chá. Felizmente, conseguimos dar o primeiro passo.
Ela comentou um email de Ayrton Senna que havia recebido. O veterano heptacampeão, também vencedor de Indianápolis e Le Mans, era o mais famoso dissidente, e a parabenizava pelo que iniciara, fazendo também votos de que em breve pudessem finalmente retornar a seu querido país.
- Como eu gostei da última vez que ele derrotou aquele alemãozinho, disse Zé.
Patrícia riu, pela primeira vez em dias. Demandaria tempo, claro, mas a liberdade voltaria. Acesa aquela chama, era impossível apagá-la. Enquanto isso, pensava em como relatar todos aqueles eventos para a Lista.

Hoje, Primeiro de Abril, considerei que valia a pena publicar esta história aqui, pois o Dia da Mentira é um bom dia para debater um sistema integralmente baseado na mentira, não? Felizmente nossa realidade teve a imensa sorte de não permitir que tal totalitarismo fosse aqui instalado.

Aproveitando ainda, convido os leitores a conhecer mais histórias dA Lista:



Até a próxima!