quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Fantomius o ladrão de casaca parte 1

E finalmente se inicia uma nova série aqui no Escritor com R. E novamente com a Disney, a exemplo do que fiz anteriormente comentando a série Star Tranko, magnífica homenagem a Jornada nas Estrelas, e também a maravilhosa saga As Novas Aventuras do Superpato e sua sequência, Superpato Nova Era.

Tenho escrito mais para o Corujice Literária, e em termos de Disney já falei ali das edições Lendas Disney, Disney Saga e O Melhor da Disney Brasil. Como igualmente lá comentado, nós fãs da Disney passamos atualmente por um período de dificuldades no Brasil, pois em julho último foi interrompida a impressionante trajetória de 68 anos de publicações da Editora Abril. As ações da atual diretoria da empresa são inaceitáveis, e nosso prejuízo como fãs sequer se compara ao dos funcionários demitidos, que não receberam o pagamento devido. A eles, toda a solidariedade.


Dessa forma, quadrinhos Disney atualmente somente podemos encontrar em sebos, seja lá fora ou online. E foi dessa maneira que completei recentemente uma bela coleção de histórias, das quais começarei a tratar a partir de agora. Como ficou evidente, sou um grande fã do Donald e de seu alter-ego heroico, o Superpato! Lendo no Corujice o texto sobre Lendas Disney 1 pode-se saber um pouco mais sobre esse sensacional personagem, e recomendo ainda que fiquem de olho em bancas e supermercados, pois esse volume tem aparecido com bom desconto por aí.

O fato crucial que levou Donald a se tornar o maior herói de Patópolis foi o achado do Diário de Fantomius. Isso se deu quando nosso pato preferido recebeu, por engano, uma correspondência destinada ao detestável primo Gastão, um prêmio de loteria concedendo a propriedade de uma mansão na periferia de Patópolis, chamada Vila Rosa. Foi lá que nosso herói encontrou esse Diário, descrevendo as Espantosas Façanhas de Fantomius, ladrão cavalheiro (chamado nas saudosas publicações da Abril de ladrão de casaca), que assombrou Patópolis no início do século XX. Donald, cansado de tantas injustiças contra si, tomou o manto de Fantomius e se tornou o Superpato, e o resto é história conhecida.


Mas uma pergunta sempre restou aos fãs do herói: quem foi Fantomius? Para respondê-la, o quadrinista italiano Marco Gervasio iniciou em 2002, na Topolino 2455, a publicação de histórias onde esse misterioso personagem era mais explorado. E desde então e até hoje, ele continua elaborando as fabulosas aventuras de Fantomius. No Brasil, além das edições especiais de que falarei nesta série, as publicações aconteceram até este ano, quando a Tio Patinhas 634 apresentou a última história de Fantomius, até o momento, a ser traduzida para o português e publicada aqui. Enquanto aguardamos que isso mude em breve, damos início então a esta série de artigos descrevendo essas histórias. Pode haver um e outro spoiler, então fiquem avisados!

Superpato e a Sombra de Fantomius


História publicada na Topolino 2455 em 2002, e aqui no Brasil na Disney Big 13, de fevereiro de 2012. Uma série de roubos assombra Patópolis, e a vítima do primeiro deles é Patacôncio. Ele vê o ladrão, que usa a máscara azul de Fantomius, mas o toma pelo Superpato. Enquanto isso Huguinho, Zezinho e Luisinho visitam as ruínas de Vila Rosa em uma excursão da escola, e um estranho alega que o Superpato é um impostor e logo todos saberão disso. O Tio Patinhas, nesse meio tempo, obriga Donald a ficar de vigia na Caixa-Forte diante do que todos acham serem ações do Superpato.

Na noite seguinte o misterioso ladrão aparece, e claro que nosso pato preferido está dormindo. Donald, diante das notícias, decide averiguar e, como o Superpato, segue para Vila Rosa. Surge então um caminhão, que penetra em uma passagem secreta que o herói ainda não conhecia, e ele o segue. Tem início então um duelo, e com seus conhecimentos sobre os segredos do local o Superpato é vitorioso. O sujeito era um ladrão com passagem pela polícia e que, invadindo as ruínas, encontrou um exemplar do Diário de Fantomius e passou a cometer roubos, pretendendo que a culpa caísse sobre o Superpato. Mas claro, Tio Patinhas depressa arruma outro serviço para o pobre Donald.

Superpato e o tesouro de Dolly Páprika


Esta trama foi publicada em Topolino 2675 em 2007, e no Brasil em Tio Patinhas 573 de abril de 2013. Antes vale uma lembrança da trama A Fabulosa Noite do Superpato, publicada pela última vez aqui em Lendas Disney 1, que foi a primeira história na qual vimos a aparência de Fantomius e sua parceira e namorada, Dolly Páprika. A história de que falamos agora é igualmente importante, pois também pela primeira vez vemos o casal em ação, no caso escapando após um roubo na mansão da Condessa Stravagantis. Depois de se livrarem da perseguição policial com os truques de seu carro, Fantomius e Dolly seguem para seu esconderijo na Vila Rosa, quando ela faz uma terrível descoberta: perdeu o pingente que era a chave do cofre de seus roubos.

Na atualidade essa história está sendo lida pelo Tio Patinhas em um livro sobre mitos e lendas que encontrou em sua biblioteca. Entra Brigitte, eterna apaixonada pelo avarento, que insiste em levá-lo a uma festa na mansão da condessa Stravagantis, descendente da personagem do parágrafo acima. O zilionário resiste, mas aceita ir quando a quase namorada diz que haverá uma gincana e o pingente de Dolly será o prêmio.

Margarida pretende levar Donald à mesma festa, fantasiados como o casal de anti-heróis. O pato se preocupa diante das semelhanças entre seus uniformes, mas a pata ciumenta e chantagista está irredutível. Após concordar Donald é chamado pelo Tio Patinhas, que até diz já ter conversado com Margarida e adivinhem: ela disse que vai com o Gastão!

Por que nosso herói perde tempo com essa sirigaita, mesmo?

Na Caixa-Forte, onde está de vigia, Donald encontra o livro que o muquirana lia e descobre seu intento de se apossar do pingente e do tesouro. Nosso herói ruma para seu esconderijo, e confere informações no Diário de Fantomius que mais ninguém conhece. Novamente o Superpato entra em ação em nome da vingança!

Depois de tirar o primo do caminho, Donald chega à festa com a máscara de Fantomius. Ele finge ser Gastão e acompanha o Tio Patinhas na gincana, assim como Brigitte e Margarida. De pista em pista, Donald faz Patinhas gastar um dinheirão com táxi até rumarem para Vila Rosa. Encontram o pingente e descem até o cofre do ladrão de casaca, mas este está vazio. De novo com seu conhecimento do lugar o Superpato regressa à superfície sorrateiramente com o pingente, e ainda assiste ao primo Gastão levar a culpa. Nessa parte Donald ainda dá vários chega-pra-lá na Margarida, que tem medo das ruínas, completando sua vingança.

No epílogo vemos que Dolly ainda tentou sem sucesso encontrar o pingente na mansão Stravagantis, mas de volta a Vila Rosa Fantomius a consola, dizendo que possuía outra chave que ficará para sempre com ela. Um anel de brilhantes é o final romântico para essa ótima história.

Superpato e o segredo de Fantomius


Publicada na Itália na Topolino 2902 de 2011, e no Brasil em Tio Patinhas 574 de maio de 2013, sempre com autoria de Marco Gervasio, essa história inicia novamente com Fantomius e Dolly em ação, utilizando seus fabulosos dispositivos tecnológicos para enganar a polícia após um roubo na mansão da Duquesa Hajagrana. Voltamos ao presente para descobrir que esse é na verdade o primeiro capítulo do mais novo livro de Stephen Quack, e no lançamento estão presentes Donald, Pardal e o primo deste, Galileu. Ainda presente está outro escritor, Dan Broom, desafeto de Quack, e como ficou evidente, vemos aqui pela primeira vez as primeiras das inúmeras referências literárias, cinematográficas ou mesmo da realidade dos primeiros anos do século XX a serem inseridas nas tramas por Gervasio. Encontrá-las é sem dúvida um dos grandes “baratos” de toda a saga de Fantomius escrita pelo genial quadrinista italiano!

Naquela noite Donald e Margarida vão até a mansão da Condessa Hajagrana, bisneta da duquesa. E nosso pato preferido, escapando da chatice da festa, presencia um assalto exatamente como descrito no livro. O tomo faz bastante sucesso na cidade, e até Tio Patinhas ganhou um exemplar, acompanhada de uma lâmpada. Esse artefato o faz dormir, e Donald, lendo o livro e temeroso da possibilidade, ruma como o Superpato para a Caixa-Forte. Lá é despistado pelo ladrão, e inicia uma investigação. O próprio Quack e seu rival Broom são descartados como suspeitos, e conversando com Pardal e Galileu, Superpato tem mais uma revelação.

Ele descobre que Copérnico, amigo de Fantomius (na verdade Lorde John Quackett, e essa é a primeira história em que é mencionado seu nome) foi bisavô do nosso também querido inventor, e auxiliava o ladrão de casaca com seus inventos. No livro de Quack o próximo roubo é de uma pintura que foi comprada por Patacôncio, e o Superpato prepara uma armadilha para o ladrão.

O esquema funciona, e o culpado é Galileu Pardal, que revela que encontrou o diário do bisavô dos dois, descrevendo como auxiliava Fantomius com seus inventos. Quackett pouco menciona Copérnico para que o inventor não tivesse problemas com a lei, e graças aos car-cans, caramelos canceladores de memória, Superpato faz todos se esquecerem do assunto. No curto epílogo Fantomius e Dolly chegam em casa, e o elegante ladrão vai parabenizar seu amigo, o inventor Copérnico Pardal, em sua primeira aparição. Falando nisso, sabiam que o nome completo de nosso inventor dos tempos atuais é Arquimedes Pardal?

Superpato, o passado sem futuro


História publicada em Topolino 2933 em 2012 e em Tio Patinhas 577 em julho de 2013. Nesta trama vemos retratado o primeiro encontro de Dolly Pata, a identidade civil da jovem do início do século XX, com Fantomius. Outro pioneirismo desta trama é apresentar pela primeira vez as cores mais esmaecidas das tramas do ladrão de casaca, uma marca das histórias de Marco Gervasio. Donald lê como foi Dolly que inspirou Fantomius a escrever o Diário, e ruma depois como Superpato ao laboratório do Pardal. Acontece um incidente, e nosso herói viaja ao passado, para a mesma festa onde Dolly estava, impedindo que esta conhecesse Fantomius.

Sem opções Superpato foge e ruma para Vila Rosa, encontrando Copérnico e explicando a situação. O cientista vai trabalhar no problema enquanto nosso herói vai dormir, e quando é acordado temos mais uma menção cinematográfica quando ele diz que sonhou ter viajado no tempo para 1920. Naquela noite Fantomius atacará novamente, e Superpato se disfarça de Lorde Quackett para livrar Dolly de um nobre chato e ir com ela à festa, onde o ladrão de casaca estará.

Graças à ajuda indireta do Comissário Pinko (eternamente derrotado por Fantomius e que apareceu pela primeira vez na história anterior) Donald consegue que Dolly conheça Fantomius. Nosso herói retorna a Vila Rosa e, inspirado em seu relato, Copérnico constrói um cuco do tempo que o manda de volta para casa. Quackett chega momentos depois e comenta com o amigo inventor (que esqueceu tudo graças aos car-cans) que conheceu uma linda pata, e que graças a ela escreverá um Diário de suas façanhas.

Assim teve início a impressionante série de histórias de Fantomius, o ladrão de casaca, escritas por Marco Gervasio. Vale a pena mencionar que, em Aventuras Disney 12, de 2006, e Mega Disney 1, de 2012, foi publicada a história dinamarquesa O Retorno de Fantomius, que não tem nada a ver com esta série, e despreza a figura original de Fantomius vista em A Fabulosa Noite do Superpato, apesar de ser uma boa trama. Após o triste final de publicação no Brasil, a Topolino já apresentou outras três histórias de Marco Gervasio, nas edições 3273, 3275 e 3280. Já li as duas primeiras e posso tranquilamente afirmar que a genialidade do quadrinista italiano continua intocada.

Estas quatro tramas, que preparam o terreno para as histórias cheias de mistério, ação, aventuras, roubos e fugas mirabolantes de Fantomius, foram recentemente publicadas em Portugal no volume zero de As Melhores Histórias Disney, Os Fabulosos Feitos de Fantomius, Ladrão Cavalheiro, pela editora Goody. Sorte de nossos irmãos mais velhos, que podem desfrutar delas!

Esta série de artigos será semanal, e o próximo texto apresentará uma análise das primeiras histórias nas quais Fantomius, o ladrão de casaca, foi o protagonista, publicadas no Brasil na histórica edição Superpato – O Legado.

Até a próxima!

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Superpato e o Fluxo do Tempo

TRÊS DIAS DE DISNEY

Neste segundo dia desta pequena maratona Disney, apresento mais um artigo já publicado anteriormente no Escritor com "R" da Uol. Aquele blog será desativado em 15 de dezembro, e considero que este texto se tornou muito importante para ser perdido, razão pela qual torno a apresentá-lo aqui aos leitores.

Para mim, de longe, o melhor personagem Disney sempre foi nosso querido Donald. Ele é muito mais imperfeito e humano que o Mickey, e portanto muito mais completo também. Por cima, ainda tem não somente um, mas dois alter-egos heróicos, Superpato e Donald Duplo, além de ter dado origem a outro personagem fascinante, Fantomius.

Temos, claro, uma inversão, pois dentro deste universo foi Fantomius, cuja identidade verdadeira é Lorde John Quackett, a inspirar Donald a se tornar o Superpato. As histórias de Fantomius, por sinal, estão sendo escritas com brilhantismo pelo genial quadrinista italiano Marco Gervásio, e essa será a novidade que apresentarei a vocês nesta quarta-feira: o primeiro de uma série de artigos analisando as aventuras desse personagem! Será um verdadeiro guia de episódios da saga do Ladrão de Casaca, cujo diário levou à criação do Superpato!

Quanto a este, desde sempre sou fã de carteirinha de suas aventuras, e conforme explico abaixo, quando descobri o universo de Ficção Científica do Superpato, foi amor à primeira vista. Como infelizmente a maioria das histórias dessa série não saiu no Brasil, precisei recorrer às facilidades da internet para conhecê-la melhor, e garanto que boa parte das tramas não deve nada ao melhor que o gênero já produziu!

Vamos então a uma viagem pelo tempo, guiados pelo maior herói da Disney, o Superpato!

Superpato e o Fluxo do Tempo

Caros leitores, por favor me perdoem pelo longo hiato, temos uma crise bravíssima e com ela chegam necessidades e correrias... enfim, a maioria certamente entende. Neste retorno, que espero definitivo, falarei daquele que é de longe o maior herói da Disney: o Superpato!

Ah, vocês pensaram em Star Wars e Marvel, é? Então me digam qual herói desses outros universos deteve uma invasão alienígena sozinho? Hein, hein? Pois é, somente o Superpato, alterego do Pato Donald, conseguiu, mas já chego lá.

Atualmente nas bancas encontramos a Disney Big número 46, em que o Superpato é acompanhado na capa pela bela Lyla Lay, a jornalista e apresentadora do Canal 00 que é na verdade uma viajante do tempo, agente da Tempolícia e uma androide! Na primeira história da edição, intitulada O Fluxo Temporal, ela está sendo entrevistada (enquanto dá uma cruzada de pernas digna de Sharon Stone, fiu, fiu!), e diz que uma das primeiras atrações de seu novo programa será o Superpato. O herói entende a dica e eles se encontram, somente para serem emboscados por androides inimigos, e depois iniciam uma surpreendente viagem pelo tempo.


Os dois heróis descobrem que algo está bagunçando a linha do tempo, fazendo surgir vários futuros alternativos. Eles são finalmente encontrados por um improvável aliado e conseguem reunir pistas sobre o que está acontecendo, e fica cada vez maior a duvida: conseguirão salvar a continuidade do espaço-tempo e descobrir o responsável? A trama apresenta conceitos avançados de ficção científica, viagens no tempo e universos paralelos, no nível de uma graphic novel, e vários momentos podem ser reconhecidos como referências a Doctor Who, e também a De Volta para o Futuro!

Mas esperem um pouco, androides, viagens no tempo, como assim? Afinal, o Superpato opera a partir do porão da casa do Donald, e seus casos normalmente envolvem vilões em Patópolis como os Metralhas tentando assaltar a Caixa-Forte do Tio Patinhas! Calma, em várias edições desse universo FC do nosso herói a Disney colocou explicações, e este escriba irá resumi-las para vocês.

O universo futurista do Superpato surgiu na Itália em 1996, e entre os autores envolvidos estavam Tito Faraci, Alessandro Sisti, Ezio Sisto e Francesco Artibagni, e uma das fontes de inspiração foram as HQs da Marvel. Aqui no Brasil foi primeiro publicado em Superpato – Novas Aventuras, em edições maiores e com nível de graphic novel, em seis números entre abril e setembro de 1998. Em janeiro de 2013 foi publicada a Disney Temática 13 As Novas Aventuras do Superpato – A Origem, que finalmente trazia as primeiras histórias desse universo futurista, mostrando como ele surgiu.


Basicamente o Tio Patinhas decidiu comprar a Ducklair Tower (Patofuts Tower como foi traduzido em Novas Aventuras de 1998) e colocar o Donald como zelador. O prédio hiper-tecnológico abriga muitos segredos, e em sua investigação Donald, como o Superpato, conhece Um, a inteligência artificial que controla o edifício. Everett Ducklair foi um empresário e inventor, um pouco como Tony Stark, que desapareceu misteriosamente, mistério aliás que seria melhor explorado em outras histórias no decorrer da série.

Nas tramas da edição de 2013 somos então apresentados à Lyla Lay, ao vilão e ocasional aliado Lança-Raios, e aos principais antagonistas dessa série, os alienígenas Evronianos (Antarianos conforme traduzidos nas edições de 1998, sendo que atualmente apenas as nomenclaturas originais são usadas), além do jornalista investigativo Angus Fangus, que detesta o Superpato. Portanto as tramas se dividem, algumas envolvendo Lyla, a Tempolícia e problemas de viagens no tempo, e aquelas nas quais o Superpato combate os Evronianos.


Meu primeiro contato com esse sensacional universo foi quando me emprestaram, no final dos anos 1990, Novas Aventuras 4 – Retrato de um Herói. Fiquei evidentemente maravilhado, e somente com o lançamento de A Origem, em 2013, fora alguns exemplares achados em sebos, retomei o contato com o universo FC do Superpato.

A história do número 1 de Novas Aventuras, Sombras sobre Vênus, foi republicada em Disney Big 18, de novembro de 2012, em uma história envolvendo os Evronianos, Angus Fangus e mais segredos da Ducklair Tower, entre os quais o fato de ela ter um hangar para uma nave interestelar! Infelizmente, essa primeira série teve no Brasil menos de dez histórias, incluindo Novas Aventuras de 1998 e Origem de 2013. Na Itália, sob o título Paperinik New Adventures, a série teve um total de 50 números!

Seguiu-se na Itália a série PK2 com 18 números, também inéditos no Brasil, e depois os 20 números igualmente inéditos no Brasil de PK Pikappa, cuja intenção era ser o reboot da série. Na verdade, dois números de PK Pikappa saíram no Brasil em Donald Super 1 e 2, em abril e junho de 2003, e só, ainda republicadas em Disney Jumbo 2.


A série seguinte na Itália foi PKNE, que ignora os fatos da série PK Pikappa, retomando de onde PK2 havia parado. Esta é a série atual de Ficção Científica do Superpato cujo início de publicação no Brasil aconteceu em Mega Disney 7, de dezembro de 2014, com a maxissérie Poder e Potência (aquela na qual o Superpato impede a invasão evroniana). Então aqui vai uma lista com as edições de Paperinik New Adventures e PK2, com seus títulos em inglês:

Paperinik New Adventures 

PKNA 0 - Evronians
PKNA 0/2 - The Winds of Time
PKNA 0/3 - Xadhoom
PKNA 1 - Shadows on Venus
PKNA 2 - Two
PKNA 3 - Day of the Cold Sun
PKNA 4 - Earthquake
PKNA 5 - Portrait of the Young Hero
PKNA 6 - Spores
PKNA 7 - Invasion
PKNA 8 - Silicon
1997 SPECIAL: Missing
PKNA 9 - Fountains of the Moon
PKNA 10 - Trauma
PKNA 11 - Urk
PKNA 12 - Second Draft
PKNA 13 - The Darkest Night
PKNA 14 - Carpe Diem
PKNA 15 - Camera/Action 
PKNA 16 - Special Maintenance
PKNA 17 - Shooting Star
PKNA 18 - Ancient Future 
PKNA 19 - Absolute Zero
PKNA 20 - Mekkano
SPECIAL 1998 - Zero Slash One 
PKNA 21 - Tyrannic
PKNA 22 - Fragments of Autumn
PKNA 23 - Memory Lapse
PKNA 24 - Twilight
PKNA 25 - Crossfire
PKNA 26 - Time Flies
PKNA 27 - The Mastiffs of the Universe
PKNA 28 - Metamorphosis
PKNA 29 - Virus 
PKNA 30 - Phase two
PKNA 31 - Beato Angelico
PKNA 32 - Underground
SPECIAL 1999 - The End of the World
PKNA 33 - The Day that Will Come
PKNA 34 - Nothing Personal
PKNA 35 - Stowaway on Board
PKNA 36 - Far, Far Away
PKNA 37 - Under a New Sun
PKNA 38 - In the Fog
PKNA 39 - Chronowreck 
PKNA 40 - A Single Breath 
PKNA 41 - Agdy Days 
PKNA 42 - The Ulysses Syndrome
PKNA 43 - Time to Time
PKNA 44 - On the Dark Side
PKNA Special 2000 - Super 
PKNA 45 - Operation Hephaestus
PKNA 46 - In the Shadow
PKNA 47 - Before Dawn
PKNA 48 - The Parts and the Whole
PKNA 49/50 - If...

PK2

PK2 1 - Ducklair 
PK2 2 - Just a Little Fear 
PK2 3 - The Voice of Darkness
PK2 4 - Memory Lines 
PK2 5 - End of History
PK2 6 - Alpha Waves
PK2 7 - One More Day
PK2 Special 2001 - Duckmall
PK2 8 - Just a Friend
PK2 9 - Degrees of Separation
PK2 10 - High Volume
PK2 11 - The Weight of Memories
PK2 12 - Blackout
PK2 13 – Everything and Nothing 
PK2 14 - The Last Hunt
PK2 15 - The True Enemy
PK2 16 - Soldier of Fortune
PK2 17 - In the Fire
PK2 18 - Family Affairs

Em recente evento para o lançamento da primeira edição de Os Anos de Ouro de Mickey, o editor Paulo Maffia foi perguntado sobre quando sairia um encadernado de capa dura de nosso herói, e afirmou que a única informação que poderia adiantar seria o lançamento dessa aguardada edição em 2018. Mas vendo a quantidade de títulos destacada acima... Qual a opinião dos amigos, lançar todas em alguns volumes, ou um único volume com as histórias mais interessantes e relevantes para a fase atual?


Como disse, mais recentemente busquei acompanhar tudo que saísse relacionado ao Superpato, o que incluiu, depois de A Origem, Superpato – O Legado, de setembro de 2013, na qual foram publicadas pela primeira vez as aventuras de Fantomius, o personagem que inspiraria, um século depois, o Donald a assumir o manto de Superpato. Este ainda é o herói clássico, e não a versão futurista, mas a edição vale muito a pena como um histórico do personagem. Por cima Fantomius é um perfeito anti-herói, e quem imaginaria isso em uma HQ da Disney?


Depois veio a Disney Big 38, de abril de 2016, com a trama O Raio Negro dentro do universo PKNE, e foi a partir desta que descobri que a aventura anterior e a primeira do retorno, Poder e Potência, havia saído em Mega Disney 7. Demorei a encontrar essa edição, e somente com as facilidades de sebos ligados à internet como a Estante Virtual foi possível conferi-la. E.. UAU!

Nessa história o Lança-Raios leva Donald ao futuro, quando a Terra foi dominada pelos Evronianos. Reencontrei um personagem muito legal que já havia visto em Novas Aventuras, Odim Eidolon, que alerta nosso herói para fazer o que deve ser feito, e ele é devolvido ao presente para uma silenciosa Ducklair Tower. Após os eventos de PK2, pelo que pude apurar, Um não está mais no prédio, sendo substituído por uma outra AI sem qualquer empatia, e que pega no pé de Donald o tempo todo. Os eventos e confrontos se precipitam, e no final dramático os Evronianos obrigam o Superpato a um ato extremo para salvar o mundo, destruindo aparentemente a Ducklair Tower. E sim, é aqui que o Superpato salva o mundo sozinho, superequipe é para os fracos!


Depois, em O Raio Negro em Disney Big 38, descobrimos que o prédio foi na verdade parar em um mundo em outra dimensão, onde nosso herói precisa enfrentar um novo e poderoso inimigo, Moldrock. Seguiu-se a trama Crime Temporal, em Disney Big 43 de fevereiro de 2017, onde se confrontam os dois alteregos de Donald, Superpato e Donald Duplo! A trama é muito legal pois voltam a aparecer Um e Lyla, em uma história cujo objetivo é ser o reboot de DD, ficando estabelecido que o agente secreto é o futuro do herói. Essas viagens no tempo tornam essas reuniões improváveis possíveis, e o desfecho dessa história é simplesmente sensacional!


Em tempo, DD ou Donald Duplo é uma estupenda paródia de James Bond, o agente secreto 007 com licença para matar. A Abril já lançou duas edições especiais com o título As Novas Aventuras de Donald Duplo de abril e maio de 2011, e em Crime Temporal voltamos a encontrá-lo em suas aventuras para a Agência, que combate a criminosa Organização. Esta última, aliás, promete dar trabalho também ao Superpato no futuro.


Nessa viagem pelo fluxo do tempo do universo futurista do Superpato retornamos à Disney Big 46 e a O Fluxo Temporal. Amei, por sinal, a divulgação da Disney para essa edição, fazendo uma clara menção a Doctor Who. E prestem atenção à base da Tempolícia que se localiza fora de qualquer dimensão temporal, no nada absoluto! Qualquer menção a arquitetura de Gallifrey não deve ser mera coincidência...


Havia surgido a informação que na Disney Big 48, a ser lançada em dezembro deste ano, seria publicada a história seguinte, A Marca de Moldrock. No entanto foi tomada a decisão de publicar outra trama, e a sequência das aventuras do Superpato deve vir somente em 2018.

As histórias de Ficção Científica do Superpato trazem conceitos incrivelmente avançados e atuais, traduzindo o que de melhor o gênero pode produzir. Acompanhar essas tramas tem sido um enorme prazer, e espero ansiosamente que os volumes encadernados em capa dura prometidos possam preencher, ao menos em parte, o grande hiato que infelizmente tivemos no Brasil com relação a esse espetacular universo do Superpato. Conforme os textos explicativos publicados com as histórias Poder e Potência e O Raio Negro, essas tramas buscam alcançar leitores mais maduros e têm um cuidado maior na arte (como pode ser conferido nas imagens) além de uma agilidade narrativa verdadeiramente cinematográfica. Ao lado do típico humor Disney convivem situações dramáticas, como o momento em Poder e Potência no qual o Donald, em meio à luta final contra os Evronianos, grava uma mensagem se despedindo dos sobrinhos! Já em O Fluxo Temporal um salto espaço-temporal de Lyla e Superpato tinha só 50 por cento de chance de dar certo, e a alternativa seria a pura e simples aniquilação no nada absoluto.


Adendo: A cruzada de pernas de Lyla, uhn...

E sim, são gibis da Disney! Confiram, aliás, o post anterior em que falamos de outra obra-prima da casa do Tio Walt, Star Tranko, série com o núcleo do Mickey que homenageia Jornada nas Estrelas, e vejam como a Disney está com uma “pegada” fabulosa em termos de Ficção Científica!

E ainda quero sugerir que visitem o magnífico site Guia dos Quadrinhos, um espetacular compêndio de todas as HQs produzidas e publicadas no Brasil, de onde tirei a maioria dos links que estão em azul em meio ao texto, responsáveis ainda pelo ótimo evento Festival Guia dos Quadrinhos (confiram nossos comentários sobre o evento de 2017 lá no Corujice Literária).

Com este texto, espero ter completado a retomada do blog, com posts mais frequentes. Recomendo fortemente que acompanhem o universo As Novas Aventuras do Superpato, uma das melhores obras de FC publicadas no Brasil nos últimos tempos. A história A Marca de Moldrock foi a mais recente a sair na Itália na Topolino, e ainda aguardamos sua publicação aqui. Sobre o encadernado, ou encadernados em capa dura, só nos resta torcer, já descobri um e outro site que apresenta uma descrição de algumas das histórias de PKNA e são fantásticas, podem se preparar até para chorar em algumas delas! Aguardemos o que a Disney, que tem recebido merecidíssimos elogios pelas fabulosas edições em capa dura, irá nos apresentar relacionado a seu maior herói.

Adendo: A publicação envolvendo o Superpato mencionada acima foi lançada em janeiro de 2018, o primeiro número de Lendas Disney. Essa belíssima edição foi analisada lá no Corujice Literária, bem como os outros volumes trimestrais que foram Disney Saga e O Melhor da Disney Brasil. Lamentavelmente, com o deplorável final de publicações por parte da Abril, essas excelentes edições não tiveram sequência. Chegou a ser anunciada e colocada em pré venda a segunda Lendas, dedicada ao Gastão, e tivemos informações que o número 2 de Sagas traria histórias de Fantomius.

Outra tristeza que essa situação nos causou foi a interrupção das histórias de PKNE, ou Superpato Nova Era, que ao contrário de Novas Aventuras estava saindo com regularidade no Brasil. Tenho informações que ao menos uma estava escalada para sair na Disney Big ainda em 2018, e no momento a Topolino está publicando o título Droidi dessa série. Já são quatro as tramas inéditas desse universo em nosso país, e nos resta torcer pela sua publicação aqui uma vez que as revistas Disney retornem para nossas bancas, se acontecer.

Como consegui versões digitais da série Novas Aventuras, traduzidas para o inglês por fãs, pretendo no futuro próximo apresentar aqui uma análise de todas elas, em uma nova série de artigos.

Já quanto a Fantomius, que como exposto será a novidade deste blog a partir de amanhã, tivemos muito mais sorte. Todas elas, incluindo as quatro prévias, foram publicadas em nosso país com regularidade. De novo a deplorável situação da Abril, diante da péssima atuação de seus controladores, nos privou de três histórias já publicadas na Itália. Li duas delas na Topolino, que pode ser encontrada em algumas bancas de São Paulo, e posso dizer que Marco Gervásio continua arrasando em suas tramas!


A partir de amanhã, portanto, e em toda quarta-feira, será apresentada uma série de artigos analisando todas as histórias de Fantomius, o Ladrão de Casaca, aqui no novo Escritor com "R". Espero que gostem!

Até a próxima!

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Star Tranko da Disney: Além da Fronteira Final

TRÊS DIAS DE DISNEY.

Prosseguindo com as repostagens dos textos mais importantes publicados no velho Escritor com "R" da Uol (lembrando que a Blogosfera daquele portal será desativada em 15 de dezembro), chega a vez de revisitarmos um dos textos mais prazerosos que já escrevi.

Como trekker desde criança, foi um imenso prazer acompanhar a saga Star Tranko, publicada nas revistas Disney da Editora Abril entre 2015 e 2016. Chamada Star Top na Itália, onde foi publicada em sete edições da Topolino, a sátira de Jornada nas Estrelas protagonizada pelo núcleo do Mickey fez um monumental sucesso entre os fãs brasileiros de Star Trek. Aqui revivemos um pouco desse tempo gostoso e recente.

E aproveitando, nestes três dias até a próxima quarta-feira serão publicados aqui mais um texto sobre uma saga Disney nesta terça, e em dois dias iniciaremos uma série de artigos inéditos, cujo assunto será revelado amanhã. Vamos então iniciar mais uma Jornada...

Star Tranko da Disney: Além da Fronteira Final

Como!?

Essa questão tem ocupado minha mente nos últimos dias.

Como!? Como a Disney, dona da Marvel e de Star Wars, consegue manifestar tanta atenção, cuidado e especialmente carinho para com JORNADA NAS ESTRELAS, de uma forma que nunca a Paramount, proprietária do universo criado pelo saudoso Gene Roddenberry, jamais mostrou a nós, fãs e trekkers?


Por sinal, por várias vezes o que sentimos é que a Paramount enxerga Star Trek como um estorvo, lembrando de lamentáveis episódios ocorridos inclusive no Brasil, onde sabemos muito bem que determinados indivíduos dessa companhia não estão nem aí para com Jornada nas Estrelas e seus fãs. Inclusive por não usar essa nomenclatura clássica, de inesquecíveis lembranças para todos aqueles quanto apreciam o maior universo espacial da história da Ficção Científica.

O fato é que a Disney, com a série Star Tranko, realizou a mais bela e divertida homenagem a Jornada nas Estrelas desde o fabuloso e engraçadíssimo filme Galaxy Quest, de 1999. Publicadas originalmente na Itália na revista Topolino com o título Star Top, chegaram ao Brasil nas edições 872, 873 e 874, de abril a junho de 2015 na revista do Mickey, e a segunda parte da saga foi publicada em Disney Big 41, de outubro de 2016. A partir de agora, o leitor pode se deparar com um e outro leve SPOILER, então siga com cuidado, ou não.


Pode-se afirmar de início que Star Tranko guardou e explorou de maneira incomparavelmente melhor os temas, ambientações e cenários de Jornada nas Estrelas do que todos os três filmes da Era Abrams vistos recentemente nos cinemas. DE LONGE, acrescente-se! Em Mickey 872 somos apresentados à F.E.S.T.A, Frota Estelar Sol, Terra e Arredores, e ao comandante Mickey Tiberius Tirk Neto, que vive à sombra dos feitos de seu pai e seu avô. Este último conseguiu impedir os maléficos planos de Gran-Kan-Khan 60 anos antes, porém o planeta não saiu dessa batalha incólume, pois atravessa uma severa crise de energia. O trabalho de Mickey é conseguir uma tripulação para sua nave, a USS Enterplay, e percorrer o Universo à procura de novas fontes de energia.

Ah, repararam no nome do vilão, evidentemente, remetendo ao poderoso e benevolente KHAAAAAAAAAAAAAAAN!!!

Adendo: Neste vídeo William Shatner fala sobre o saudoso Ricardo Montalban.


Auxiliado pelo engenheiro Scotch e pela inteligência artificial Esqualiprise, Mickey seleciona os tripulantes, começando com seu velho amigo, o deuocano Patetock, a oficial de comunicações Clarahura, o auferes Amadeu Corcov e a médica de bordo Doutora McMinnie. Nem precisa explicar a relação de cada personagem com seus correspondentes na venerável Série Clássica de Jornada nas Estrelas, não é mesmo?

Vale aqui relembrar um de meus momentos preferidos nesse primeiro episódio, por sinal com o título A Terceira Geração, falando ao mesmo tempo da tecnologia de Jornada nas Estrelas. Todo trekker sabe que a Enterprise viaja distorcendo o espaço-tempo contínuo, comprimindo o tecido da realidade à sua frente e expandindo atrás, a famosa velocidade de dobra que é um modo de contornar o limite de velocidade universal da luz, conforme comprovado na Relatividade de Einstein (e que a NASA está atualmente estudando, sim!). O grande gênio comprovou assim que o espaço-tempo pode ser esticado e puxado, tal como um elástico... e daí o Motor Sti-Lling da Enterplay, elaborado por Scotch e uma das sacadas mais geniais da série! Acompanhar a sequência onde esse revolucionário e econômico motor é acionado é absolutamente sensacional!

No episódio 2, em Mickey 873, a tripulação da Enterplay vai parar no Planeta dos Desejos, onde tudo que se quer acontece. Sem dúvida evocando o extraordinário filme O Planeta Proibido, além do episódio Shore Leave da Série Clássica, essa segunda parte traz importantes revelações sobre o passado. Já em Mickey 874, no episódio Suspensos no Tempo, nossos heróis se defrontam com os temíveis gringons comandados por Bafotrok (também não preciso dizer quais grandes vilões de Star Trek estão sendo homenageados, não?) e temos uma piada bem divertida sobre o teletransporte. Em meio ao conturbado encontro com os gringons Mickey e Patetock caem em um limbo temporal, chamado pela mitologia deuocana (a raça de Patetock) de Limbo da Verdade.


Pergunta, por que raios não é mais explorada a mitologia vulcana, hein? Enfim, nesse vórtex temporal, Mickey experimenta a maior revelação dessa primeira saga, que terá repercussões importantíssimas na sequência da aventura. E claro, o melhor é ver o comandante Tirk derrotando os gringons com base na astúcia e inteligência!

Novamente, já nessa primeira parte da saga de Star Tranko a Disney (relembrando, a dona de Star Wars) mostrou um respeito e um carinho por Jornada nas Estrelas que nunca vimos do lado da Paramount. Foram necessários três filmes até que o terceiro realmente agradasse os trekkers, isso depois de um horrendo primeiro trailer que mais parecia de um genérico pessimamente feito de Star Wars. Isso posto, o senhor Chris Pine deveria, com o perdão da palavra, ter levado uma senhora comida de rabo pelo absurdo que andou falando, de que “hoje já não se pode fazer Star Trek com o tom cerebral de antes”.

Star Tranko, da Disney, é a prova mais que contundente que pode e DEVE, sim!

Em Disney Big 41 pode ser lida a sequência, Star Tranko: A Rainha Gélida, composta por quatro episódios. No primeiro nossos heróis se defrontam com os ci-borgs (e de novo as referências são absolutamente auto-explicativas para qualquer trekker!). Logo descobrem que a líder dos seres cibernéticos é uma antiga rainha deuocana, que faz a saudação “vida longa e áspera”. Patetock vai corrigi-la, dizendo que o correto é “vida longa e pr...”, mas é infelizmente interrompido! De novo, o comandante Tirk abusa da inteligência para salvar o dia.

Em Zona Neutral, segundo episódio, a tripulação da Enterplay tem um novo confronto com os gringons e acolhe um novo tripulante, Solu Solista. Para derrotar os inimigos os heróis usam o velho ditado de que “o inimigo de meu inimigo é meu amigo”, e os rotulanos entram em cena. Contudo acontece uma virada na trama enquanto nossos amigos se aproximam da solução do grande mistério, a verdadeira identidade de Gran-Kan-Khan.


No episódio três, A Cilada, Mickey elabora um plano para finalmente obter as informações que somente Bafotrok conhece, com direito a uma cena que evoca a triste cena de Á Procura de Spock, com a venerável Enterprise queimando na atmosfera do Planeta Gênese (pausa para enxugar uma lágrima). E de novo, o estratagema de enganar o comandante gringon é usado com muita inteligência, e ajuda de um dispositivo tecnológico que a equipe do Capitão Picard, da Enterprise-D, utilizava constantemente.

Viu como Jornada nas Estrelas pode ser cerebral no século XXI, Chris Pine? Ou quer que desenhe? Ah, claro, está desenhado, hehehe. E um abraço para o grandíssimo George Takei, aliás, que diante do desastre do primeiro trailer de Sem Fronteiras, falou de forma corretíssima que aquilo não era o universo roddenberriano que todos amamos.

A Caminho de Casa, parte 1, tem vários momentos deliciosos, como uma brincadeira com os diários de bordo e pessoais, além de uma brilhante referência ao Universo Espelho, onde depois de muitas agruras nossos heróis de novo salvam o dia. A Caminho de Casa, parte 2, tem a sensacional conclusão da saga, onde a tripulação da Enterplay auxilia os moradores da realidade alternativa e Patetock, que era prisioneiro dos rotulanos, consegue ao mesmo tempo dissuadir uma ameaça contra o planeta natal deuocano e ajudar seus amigos da Enterplay a voltarem para casa. Embora o final seja aberto (que ótimo, claro, significando novas, emocionantes e divertidas aventuras!), tudo tem aquele sabor indescritível dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas.

Sabemos que a série continua saindo lá fora, e ficamos na torcida para o lançamento de um volume de capa dura caprichadíssimo como vários que a Disney, através do excelente trabalho da Editora Abril, tem produzido para nosso mercado. Star Tranko é obrigatório para qualquer fã de Jornada nas Estrelas e da boa e velha Ficção Científica da melhor qualidade, com tramas muito cerebrais, discussões filosóficas como nos bons tempos de Kirk, Spock e McCoy, e muita ação e aventura de encher os olhos.

Só nos resta dar os maiores parabéns e um MUITO OBRIGADO ao roteirista Bruno Enna, aos artistas Andrea Freccero, Alessandro Perina e Marco Mazzarello, além de nosso amigo da Editora Abril Paulo Maffia, e encerrar com as palavras agora bem conhecidas:


Espaço, a doideira final.

Estas são as viagens da nave estelar Enterplay, catapultada para além do universo conhecido, onde nenhum rato jamais pousou a cauda...

Adendo: Na época em que este texto foi escrito a informação que existia era que a saga Star Tranko iria prosseguir na Topolino, mas infelizmente isso não aconteceu. Neste link está uma relação de todas as edições da revista italiana que trouxeram estas histórias, bem como respectivas capas. Star Top foi publicada em um especial na série Definitive Collection, que está inclusive saindo em Portugal pela editora Goody, trazendo várias sagas Disney. Aqui no Brasil ainda aguardamos a retomada das publicações regulares, possivelmente pela Panini, e de novo manifestamos nosso total apoio aos ex-funcionários da Abril, tratados de forma lamentável e inaceitável pelo corpo dirigente atual da editora.

E claro, celebrando os 90 anos do Mickey!

Amanhã, um texto sobre a versão de ficção científica do maior herói da Disney, e quarta-feira o início de uma série inédita de artigos.

Até a próxima!

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Mais três contos dA Lista

Depois da primeira publicação o universo, ou melhor dizendo o multiverso dA Lista foi se ampliando. Como a próxima edição da Sci-Fi News sairia em dezembro, foi natural buscar contar uma história natalina. Depois o conto 2 seguiu muito o contexto político da época, ao passo que o de número 3 já discutia o racismo bem antes de, por exemplo o excepcional filme Pantera Negra.

A respeito deste, aliás, os nomes dos personagens principais foram alterados quando outra história da Lista, Letras da Igualdade, foi publicada na antologia A Fantástica Literatura Queer da Tarja Editorial em 2011. Conto que, aliás, foi o mais elogiado do Volume Laranja.

Ainda vale comentar que entre meus projetos atuais está o de escrever roteiros para uma série de televisão dA Lista, e o primeiro é baseado no primeiro conto, já publicado aqui no novo Escritor com "R". Boa leitura!

A Lista, Natal 2004

Com o final de ano, a Lista foi tomada por mensagens sobre o Natal. Nessa época as diferenças vividas pelos participantes eram das mais acentuadas.

O mundo de Bárbara, por exemplo, havia abolido as religiões organizadas. Mas as datas mais importantes de cada uma delas eram sempre lembradas.

Serguei, cronista de um mundo em guerra havia anos, contou em uma longa e emocionante mensagem como as pessoas, mesmo diante da brutalidade da guerra e violência, esforçavam-se para celebrar a esperança. Nem mesmo os escassos recursos, a ausência de entes queridos, a saudade de casa, eram obstáculos. Por uma noite ao menos, esforçavam-se para sonhar.

Era estranho para os que conheciam o Natal explicar seu significado para os que viviam em outras realidades em que, por variados motivos, nunca houve Natal. Os mais religiosos certamente sentiam um calafrio diante disso.

Ana era escritora em um mundo cruel e tirânico, dominado pelo Império Romano, e onde não existia nenhuma noção de amor ao próximo, compaixão e irmandade. Tais qualidades eram sinônimo de fraqueza, e alguns infelizes chegavam a terminar seus dias na escravidão. Outros mundos eram semelhantes e em alguns, entre os quais o de Ana, as mensagens da Lista haviam sido espalhadas e muito bem recebidas por um surpreendente número de pessoas.

Houve violência quando os que dominavam tais mundos sentiram seu poder ameaçado. Muitos mártires foram criados, mas a mensagem da fraternidade, ao contrário do desejo dos poderosos, apenas se tornou mais forte.

Samuel, desde que se unira a Lista, era um de seus mais elogiados poetas. Seus versos falavam em liberdade, fraternidade e amor ao próximo, valores sempre prestigiados naquele meio, e muito comentados naqueles dias.

Ele conectou-se naquela noite, respondeu as mensagens e ainda teve tempo para conversar com o pessoal antes de ser obrigado a desligar. Aquilo, tristemente, soava muito familiar a vários dos participantes. Todos eram profissionais ou entusiastas das Letras, escritores, cronistas, poetas, jornalistas, editores, professores, todos ligados a leitura e escrita, aos livros e ao conhecimento. Exatamente a classe de pessoas que em incontáveis regimes totalitários eram as primeiras a serem caçadas e caladas.

Samuel era um desses. Ele vivia em um mundo onde a religião fora proibida. Deuses e deusas, orações e cultos, tudo fora abolido após tragédias ocasionadas por fanáticos, que engolfaram sua Terra em guerras sem fim.

Samuel desconectou, cobriu o equipamento com um pano e deixou o porão, subindo com cuidado a pequena escada que conduzia de volta a sala de estar de sua casa. Rezava todos os dias para nenhum agente do governo descobrir a ligação clandestina. Fechou com cuidado a porta e colocou sobre a mesma um tapete, apoiando sobre o mesmo uma mesinha de centro.

Samuel suspirou. Pensou na ditadura que oprimia seu Brasil. Em outros países já existiam movimentos pela volta da democracia, algumas vezes de forma mais ou menos livre, em outras sendo brutalmente reprimidos. Ele esforçou-se para imaginar aqueles outros Brasis, verdadeiros caldeirões culturais, em que os vários credos coexistiam em harmonia.

Olhou para a esposa e a filha de sete anos, prontas para sair.

Desafiando o toque de recolher chegaram à casa de um amigo. Foram recebidos com alegria, e se dirigiram ao porão. Cerca de vinte pessoas aguardavam. Os recursos eram escassos, mas havia peru e castanhas, e um padre para rezar a Missa do Galo. Após a meia noite todos trocaram presentes.

José vivia em uma Lisboa quase medieval. As autoridades, no sermão de várias missas nos últimos dias, lembravam do Natal e pediam o expurgo dos infiéis.

E ele não gostava dessa deturpação. A Europa vivia imersa em conflitos, pobreza e guerra, o Oriente permanecia isolado, e as Américas, África e Oriente Médio muçulmanos experimentavam prosperidade que parecia não ter fim, com espaço até mesmo para a convivência entre religiões. Ele era professor, e fora várias vezes advertido por seus métodos de ensino. Seus superiores não admitiam que ele ensinasse valores que não fossem os aprovados pelas autoridades. Especialmente que lembrasse com frequência aos alunos as liberdades pagãs dos países infiéis.

Ele questionava se o entendimento pelos muçulmanos de que o mundo, como obra de Deus, tinha que ser estudado a fundo para a compreensão de sua Obra, não deveria ser seguido.

E acima de tudo, questionava quais motivos levavam a elite religiosa a afastar-se das palavras de Jesus, que sempre pregavam a tolerância, a irmandade e o respeito, especialmente com as diferenças.

Roberta, jornalista numa realidade que jamais conhecera o Natal, leu todas as mensagens, respondeu as mais pertinentes e desconectou.

Suspirou pensando nos outros mundos, onde seria noite de festa. Ao mesmo tempo sentiu-se aliviada, pois onde vivia tampouco existia um regime totalitário, como os descritos por vários colegas.

Vestiu um casaco, pegou a bolsa e saiu. Demorou para conseguir um táxi, e chegou a se irritar com o trânsito pesado da hora do rush. Não queria chegar atrasada.

De início acompanhou aquele homem por puro dever jornalístico. Mas havia algo especial nele que a cativava. A ela e a um número sempre crescente de pessoas.

Chegou enfim ao bar onde ele se apresentava, e conseguiu entrar.

Encontrou-o já sentado em seu banquinho, com o violão apoiado numa das pernas. Vestia-se com simplicidade, calça jeans e camisa branca. Ele fazia questão de sorrir para todos os que apareciam, e com ela não era diferente. Aliás, toda pessoa que falava com o homem sentia-se tratada de forma absolutamente especial.

Ele começou cantando, sempre com sua voz potente e melodiosa, profunda e clara. O bar abarrotado ouvia com verdadeira devoção.

E ele, depois de terminar, colocou o violão de lado, alisou os longos cabelos e começou a falar. Roberta e o restante da audiência ouvia com toda atenção. Ela continuava escrevendo sobre aquele homem para o jornal, e sabia que por dever profissional tinha que ser imparcial. Mas era muito difícil, pois as coisas que ele falava...

Coisas sobre amor ao próximo, perdoar para ser perdoado, amar para ser amado. Alguns o chamavam de profeta, outros de agitador, mas ninguém ficava indiferente. Suas aparições em todas as mídias, cada vez mais frequentes. Seus seguidores aumentavam, um fenômeno que já preocupava os poderosos.

Ela, como os demais ali, não ligava para nada daquilo. Só ouvia. E suas palavras finais naquela noite foram:

- Ouvir minhas palavras e as praticar, assemelha-se a um homem que planta os alicerces da casa que constrói na rocha. Nem a pior tormenta pode então derrubá-la. Mas ouvir minhas palavras e não as praticar, equivale a um homem erguer uma casa sem alicerces; a tormenta se abateu, e a casa ruiu.

Dedicado a minha querida amiga e madrinha Silvia, que me deu a idéia para este conto.

Publicado originalmente na edição 82, de dezembro de 2004, da revista Scifi News.


A Lista 2

Jorge estava furioso, e mal chegara do curso noturno, foi logo destilando todo seu ódio em seus contos macabros.

Em suas histórias, lobisomens, vampiros e outras bestas eram sempre mortíferas, sombrias e sanguinárias. Ele mantinha um site, que recebia freqüentes visitas de fãs do gênero terror.

Quase meia noite, e ele decidiu ver os e-mails. Rapidamente deletou os que não tinham importância, e finalmente resolveu conferir as mensagens da Lista.

O Moderador havia atuado, e era a primeira vez que Jorge tinha a oportunidade de vê-lo. Então, ele existia mesmo! Até tentou obter sua localização, mas foi impossível.

O Moderador sempre respondia aos e-mails que lhe enviavam de forma reservada, mas nunca deixava pistas sobre sua localização. E muito menos explicava qual, afinal, era o objetivo da Lista.

Jorge achava que era o mais louco PBEM de que já participara, e enquanto ia lendo as mensagens, esquecia-se por completo do visto que o Consulado dos Estados Unidos lhe havia negado.

- Pronto, eu tinha que lembrar, maldito Bush!

Odiava aquele governo, mais que tudo. Bem quando já estava com a passagem para o intercâmbio na mão, os documentos da família americana que o hospedaria, tudo certinho... E mais uma vez aquele gringo nojento do consulado negava-lhe o visto!

Todo aquele papo de guerra contra o terrorismo... Para Jorge, os maiores terroristas eram os EUA e seus aliados, isso sim! Por que tivera que concordar com aquele intercâmbio? O pior é que isso contaria pontos na sua nota final, quando terminasse o colegial.

Resolveu contar isso na lista, quem sabe aparecesse alguém com idéias interessantes, ou ao menos, algum assunto que o fizesse esquecer. E, depois de poucos minutos, um de seus conhecidos, Ramon, apareceu:

- Jorge, por que tanta zanga?

- É esse país maldito! Odeio esse Bush, bem que poderiam mandar outro avião, na cara dele!

- Você não deveria xingar assim. Só porque lhe negaram o visto? Mas quanta gente está muito pior que você?

- Eu não devia ter concordado com esse intercâmbio! Poderia ter feito como outro colega, ir pegar onda e umas “minas” na Nova Zelândia! Aquilo é que é país, com a vantagem que não ficam te fichando como se fosse um Zé ninguém!

Ramón era poeta, e vivia no Caribe. Nunca precisara exatamente onde, o que no fundo pouco interessava Jorge. Ele gostava de trocar mensagens com o amigo, sempre paciente, sempre dando conselhos valiosos.

- Jorge, lendo tudo que mandou, sua História, vejo que você reclama de barriga cheia. Imagine se os EUA não tivesse atuado na Segunda Guerra?

- Não teriam cometido assassinado em massa com as bombas atômicas, em primeiro lugar!

- Aquilo era uma guerra, Jorge, e guerras nunca são bonitas. Que tal lembrar dos civis mortos pelos países do Eixo? Ou mesmo das outras vítimas dos bombardeios aliados? Parece que aí só lembram das bombas sobre o Japão.

- Você quer dizer, Ramón, que os EUA são sempre os bonzinhos?

A resposta do amigo demorou um pouco, e Jorge aproveitou para ler algumas de outras mensagens. Quando o sinal sonoro anunciou a chegada de novo e-mail, ele logo viu que era de Ramón, e finalmente leu:

- Em relações internacionais, amigo, nunca existem santos. Acha mesmo que teria sido melhor que os nazistas houvessem vencido a guerra? E quanto a Guerra Fria? Você preferiria o comunismo? A Alemanha Oriental, por exemplo, de acordo com os arquivos que mandou, era um estado policial, vigiando todos os cidadãos! Você conseguiria viver num lugar assim?

- É, você tem razão... Mas mesmo assim, não gosto desse Bush!

Ramón demorou um pouco, e finalmente Jorge pôde ler:

- Hehehehe, conhece aquele ditado, “há males que vêm pra bem”? E, mudando de assunto, como andam seus contos?

Jorge comentou que estava escrevendo muito, e a série sobre os lobisomens estava quase pronta. Ramón pediu que os enviasse, mas apenas na noite seguinte, pois tinha muito o que fazer. Depois de uma rápida despedida, ambos desconectaram-se da Lista.

Ramón sorriu, acendeu um cigarro, e soltou largas baforadas. Os amigos sempre lhe diziam para largar o vício, mas ele nunca atendia. Dizia que ajudava a pensar, a liberar as idéias e ampliar a percepção de sua mente. E isso era necessário, ainda mais naqueles tempos tão difíceis, tão decisivos.

Olhou pela janela, para a noite. Havana era muito bonita, toda iluminada, capital do último lugar livre do Caribe, o local mais ao sul da Terra ainda não controlado pelas forças ditatoriais.

Ramón suspirou fundo. O mundo de Jorge seria um paraíso, para ele e para bilhões de outros seres humanos de seu mundo. E talvez fosse por isso que ele, Ramón, fora chamado para a Lista.

Por todos aqueles meses, desde que começara a participar da mesma, recebera tantas mensagens de esperança, de tantos outros lugares, outros mundos, alguns melhores que o seu, e uma grande parte muito pior... Ramón suspirou fundo, e redigiu o e-mail:

“Senhores, não podemos mais esperar. Os Estados Unidos têm que ser chamados, de uma vez por todas, a responsabilidade! Aquilo que esta grande nação negou ao mundo, quando foi decidido não tomar parte na Segunda Guerra Mundial, agora tem que ser feito, com a maior presteza possível.

A Europa Nazista, deixada livre para atuar, estendeu seus tentáculos por todo o planeta. Hoje, apenas Rússia e China, além de Estados Unidos, Canadá e alguns poucos países, mantêm-se livres do jugo nazista.

Os presidentes anteriores, todos eles a partir dos anos 1950, escolheram a coexistência, mas o mundo pagou um alto preço por essa negligência. Lamentavelmente, meus amigos, existe apenas uma única e dolorosa resposta. A guerra.

Felizmente, nossos cientistas não descansaram, e hoje, todos nós acreditamos, os Estados Unidos estão com seu arsenal pronto! Os contínuos conflitos em seus territórios enfraqueceram os nazistas, e nós mesmos temos auxiliado secretamente a Resistência, em todos os pontos do Globo onde a mesma pode ser ajudada.

Por isso, venho por meio desta, em uma mensagem de esperança, incentivar todos os nossos amigos a aconselharem o presidente Bush a atacar, de forma rápida e certeira, o Reich. É pena que apenas agora, os Estados Unidos têm um presidente que não teme fazer escolhas duras e difíceis.

As mesmas são, nada menos, que o grande teste de qualquer estadista. Meus amigos, tempos ainda mais escuros se aproximam de nós, mas se Deus nos ajudar, nossos filhos irão nos agradecer!”.

Ramón enviou a mensagem. Esperava que levassem um bom tempo para decidir. Qual não foi sua surpresa quando, no meio da madrugada, foi acordado por uma série de rugidos. Quando abriu a janela, divisou na escuridão da noite incontáveis rastros de mísseis nucleares.

Um misto de alegria e temor apossou-se dele no mesmo instante. Torcia desesperadamente para que a libertação do mundo houvesse finalmente começado.


Publicado originalmente na edição 83, de janeiro de 2005, da revista Scifi News.


A Lista 3

William esforçava-se para caminhar com tranqüilidade, enquanto percorria os corredores da prisão. Os mesmos sempre lhe pareciam intermináveis.

Passou pela revista, com detectores de metal, e finalmente teve permissão de sair. A segurança ali era sempre rígida, adequada a um estabelecimento que só comportava inimigos do Estado.

E esse era o caso de seu irmão, Emerson. Um famoso e premiado escritor, talvez o mais festejado do ocidente. Os irmãos eram descendentes da tribo Guarani, e já haviam desfrutado de uma vida confortável.

William lembrou-se dos velhos tempos com um misto de saudade e tristeza. Era editor e crítico cultural, e havia desistido de lutar pela libertação do irmão. Infelizmente, como em quase tudo, na área dos direitos humanos o Brasil ainda engatinhava.

Finalmente ele chegou em casa, depois de tomar dois ônibus, intercalados por uma viagem de metrô. O padrão de vida da família havia caído com toda a confusão envolvendo Emerson e suas obras, e William acabou pagando um preço muito caro por defender o irmão e suas idéias.

Haviam até mesmo sido obrigados a se mudar para uma área menos nobre da cidade, próxima ao gueto dos brancos. A violência e pobreza ali, tão perto de casa, eram assustadoras, muito mais do que a mostrada pelos telejornais.

Resignado, William sentou-se defronte ao computador, e pôs-se a escrever, escrever sem parar por horas. Uma vez por semana, era aquela sua sina.

Por que fazia isso? Amaldiçoava-se sempre, por defender o irmão, coisa que quase lhe havia custado a prisão, também por ir contra as políticas oficiais.

“Os brancos são inferiores, nos subjugaram por séculos, são violentos e incapazes, a única opção é seu controle, confinando-os aos seus guetos!”, mais de uma vez ele ouviu.

Toda sua vida aquilo pareceu perfeitamente normal. Após a Abolição, e principalmente depois de proclamada a República, os antigos escravos uniram-se aos índios, e logo o país inteiro era engolfado pela guerra civil.

Poucos milhões de mortos e vinte anos depois, um novo regime tomava o poder. Desde então, aos brancos cabia um único papel, o de cidadãos de segunda classe.

Apenas negros e índios podiam votar, eleger-se para qualquer cargo, freqüentar universidades, viajar pelo país e ao exterior... Até mesmo, nos tempos recentes, gravar um disco, publicar um livro, e utilizar a internet, tudo, era privilégio da classe dominante!

Ao contrário do que pudesse parecer, o Brasil era um país próspero e em franco crescimento. Até mesmo a guerra, entre o final dos anos 70 e início dos 80, com a África do Sul, que tinha um regime similar, mas cuja classe dominante era a dos brancos, contribuiu para a prosperidade.

Aquele país fora completamente subjugado, e tornara-se a porta de entrada para os produtos e ideologias brasileiros no continente africano. Ali, também, os negros e índios eram agora os líderes.

Europa e Estados Unidos, temerosos, acabaram adotando a política da boa vizinhança. Viram que não era sábio contrariar os interesses de um bloco muito mais numeroso, e em plena fase de crescimento, como nunca antes se vira na História!

William pensava em tudo isso, enquanto amaldiçoava sua memória fotográfica. E também seu caráter, seus ideais de democracia e igualdade, que o levavam, toda semana, a divulgar a obra do irmão.

Nas visitas semanais a prisão, muito pouco eles falavam a respeito de família, da vida em geral. Emerson simplesmente ditava o que imaginava ou escrevia, e William apenas ouvia, gravando em sua mente novos contos, ou capítulos de livros inéditos, palavra por palavra. Tinham a lei ainda a seu lado, pois aquelas conversas eram privadas.

William publicava os textos do irmão em um site na internet, hospedado em um provedor localizado nos Estados Unidos. O governo brasileiro já fizera furiosos pronunciamentos, junto a tentativas de derrubar aquele servidor, para impedir a difusão daquelas idéias que tanto haviam marcado a obra de Emerson. Que, aliás, estava toda ela proibida.

Ele pregava, em seus romances e contos, nada menos que uma sociedade de iguais, os mesmos direitos para todos. Se aquilo era visionário ou apenas fruto de uma mente ingênua e infantil, William não sabia dizer. Só sabia que, por algum motivo, era importante que fosse divulgada.

Sabia que a obra de Emerson jamais fora ingênua e infantil. Enquanto conformara-se com as políticas oficiais, fora um dos autores mais prestigiados, pela mídia e alta sociedade. Quando começou sua pregação pelos direitos humanos, tornou-se do dia para noite um pária, alguém contrário aos interesses vigentes.

Mas, e William sabia disso, aqui e ali já se ouviam débeis ecos de concordância no Brasil e no mundo. Na Europa, o lugar que liderava a luta pelos direitos humanos, já que até nos Estados Unidos ainda existiam políticas segregacionistas, exilados brasileiros, de todas as raças, pregavam a libertação de Emerson. Um e outro líder fora assassinado, certamente por agentes do governo brasileiro, mas as vozes contrárias ao regime aumentavam em número e intensidade.

William sabia ler nas entrelinhas, e via a situação chegando a um ponto sem retorno. Se o governo iria ceder, ou se um conflito com potencial de transformar-se em guerra eclodiria, ele não sabia dizer.

Já de madrugada, finalmente ele havia terminado mais dois capítulos. Aquela visita havia sido muito proveitosa, e seus contatos nos Estados Unidos como sempre deram os retoques finais ao site. William ficou impressionado com os dígitos do marcador de visitas, que chegavam a correr celeremente.

Ainda triste, mas satisfeito, acendeu um cigarro e soltou largas baforadas. Hesitou um pouco, mas finalmente conectou-se, entrando na Lista.

Sendo um dos mais antigos membros, convidado diretamente pelo Moderador, ainda se admirava com o que lia ali. Outros mundos, outras realidades, outros Brasis. Havia até aquelas variantes que eram quase um oposto ao país em que vivia!

Ia respondendo algumas das mensagens, e logo recebia outras, de vários de seus amigos, situados a uma distância tão inimaginável quanto uma galáxia distante, muitas vezes também medida apenas pela espessura de um fio de cabelo. Os companheiros gostavam muito dele, e também e especialmente, das obras de seu irmão.

As mesmas, segundo sempre lhe diziam, eram um permanente e poderoso incentivo. Tanto aonde desfrutava-se liberdade, quanto onde a mesma era negada. E ali, William sabia que a mensagem embutida nas histórias de Emerson era sempre entendida, sonhada e praticada, privilégio que escritores como eles faziam questão de compartilhar com todos.

Publicado originalmente na edição 84, de fevereiro de 2005, da revista Scifi News.


Até a próxima!