segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Star Tranko da Disney: Além da Fronteira Final

TRÊS DIAS DE DISNEY.

Prosseguindo com as repostagens dos textos mais importantes publicados no velho Escritor com "R" da Uol (lembrando que a Blogosfera daquele portal será desativada em 15 de dezembro), chega a vez de revisitarmos um dos textos mais prazerosos que já escrevi.

Como trekker desde criança, foi um imenso prazer acompanhar a saga Star Tranko, publicada nas revistas Disney da Editora Abril entre 2015 e 2016. Chamada Star Top na Itália, onde foi publicada em sete edições da Topolino, a sátira de Jornada nas Estrelas protagonizada pelo núcleo do Mickey fez um monumental sucesso entre os fãs brasileiros de Star Trek. Aqui revivemos um pouco desse tempo gostoso e recente.

E aproveitando, nestes três dias até a próxima quarta-feira serão publicados aqui mais um texto sobre uma saga Disney nesta terça, e em dois dias iniciaremos uma série de artigos inéditos, cujo assunto será revelado amanhã. Vamos então iniciar mais uma Jornada...

Star Tranko da Disney: Além da Fronteira Final

Como!?

Essa questão tem ocupado minha mente nos últimos dias.

Como!? Como a Disney, dona da Marvel e de Star Wars, consegue manifestar tanta atenção, cuidado e especialmente carinho para com JORNADA NAS ESTRELAS, de uma forma que nunca a Paramount, proprietária do universo criado pelo saudoso Gene Roddenberry, jamais mostrou a nós, fãs e trekkers?


Por sinal, por várias vezes o que sentimos é que a Paramount enxerga Star Trek como um estorvo, lembrando de lamentáveis episódios ocorridos inclusive no Brasil, onde sabemos muito bem que determinados indivíduos dessa companhia não estão nem aí para com Jornada nas Estrelas e seus fãs. Inclusive por não usar essa nomenclatura clássica, de inesquecíveis lembranças para todos aqueles quanto apreciam o maior universo espacial da história da Ficção Científica.

O fato é que a Disney, com a série Star Tranko, realizou a mais bela e divertida homenagem a Jornada nas Estrelas desde o fabuloso e engraçadíssimo filme Galaxy Quest, de 1999. Publicadas originalmente na Itália na revista Topolino com o título Star Top, chegaram ao Brasil nas edições 872, 873 e 874, de abril a junho de 2015 na revista do Mickey, e a segunda parte da saga foi publicada em Disney Big 41, de outubro de 2016. A partir de agora, o leitor pode se deparar com um e outro leve SPOILER, então siga com cuidado, ou não.


Pode-se afirmar de início que Star Tranko guardou e explorou de maneira incomparavelmente melhor os temas, ambientações e cenários de Jornada nas Estrelas do que todos os três filmes da Era Abrams vistos recentemente nos cinemas. DE LONGE, acrescente-se! Em Mickey 872 somos apresentados à F.E.S.T.A, Frota Estelar Sol, Terra e Arredores, e ao comandante Mickey Tiberius Tirk Neto, que vive à sombra dos feitos de seu pai e seu avô. Este último conseguiu impedir os maléficos planos de Gran-Kan-Khan 60 anos antes, porém o planeta não saiu dessa batalha incólume, pois atravessa uma severa crise de energia. O trabalho de Mickey é conseguir uma tripulação para sua nave, a USS Enterplay, e percorrer o Universo à procura de novas fontes de energia.

Ah, repararam no nome do vilão, evidentemente, remetendo ao poderoso e benevolente KHAAAAAAAAAAAAAAAN!!!

Adendo: Neste vídeo William Shatner fala sobre o saudoso Ricardo Montalban.


Auxiliado pelo engenheiro Scotch e pela inteligência artificial Esqualiprise, Mickey seleciona os tripulantes, começando com seu velho amigo, o deuocano Patetock, a oficial de comunicações Clarahura, o auferes Amadeu Corcov e a médica de bordo Doutora McMinnie. Nem precisa explicar a relação de cada personagem com seus correspondentes na venerável Série Clássica de Jornada nas Estrelas, não é mesmo?

Vale aqui relembrar um de meus momentos preferidos nesse primeiro episódio, por sinal com o título A Terceira Geração, falando ao mesmo tempo da tecnologia de Jornada nas Estrelas. Todo trekker sabe que a Enterprise viaja distorcendo o espaço-tempo contínuo, comprimindo o tecido da realidade à sua frente e expandindo atrás, a famosa velocidade de dobra que é um modo de contornar o limite de velocidade universal da luz, conforme comprovado na Relatividade de Einstein (e que a NASA está atualmente estudando, sim!). O grande gênio comprovou assim que o espaço-tempo pode ser esticado e puxado, tal como um elástico... e daí o Motor Sti-Lling da Enterplay, elaborado por Scotch e uma das sacadas mais geniais da série! Acompanhar a sequência onde esse revolucionário e econômico motor é acionado é absolutamente sensacional!

No episódio 2, em Mickey 873, a tripulação da Enterplay vai parar no Planeta dos Desejos, onde tudo que se quer acontece. Sem dúvida evocando o extraordinário filme O Planeta Proibido, além do episódio Shore Leave da Série Clássica, essa segunda parte traz importantes revelações sobre o passado. Já em Mickey 874, no episódio Suspensos no Tempo, nossos heróis se defrontam com os temíveis gringons comandados por Bafotrok (também não preciso dizer quais grandes vilões de Star Trek estão sendo homenageados, não?) e temos uma piada bem divertida sobre o teletransporte. Em meio ao conturbado encontro com os gringons Mickey e Patetock caem em um limbo temporal, chamado pela mitologia deuocana (a raça de Patetock) de Limbo da Verdade.


Pergunta, por que raios não é mais explorada a mitologia vulcana, hein? Enfim, nesse vórtex temporal, Mickey experimenta a maior revelação dessa primeira saga, que terá repercussões importantíssimas na sequência da aventura. E claro, o melhor é ver o comandante Tirk derrotando os gringons com base na astúcia e inteligência!

Novamente, já nessa primeira parte da saga de Star Tranko a Disney (relembrando, a dona de Star Wars) mostrou um respeito e um carinho por Jornada nas Estrelas que nunca vimos do lado da Paramount. Foram necessários três filmes até que o terceiro realmente agradasse os trekkers, isso depois de um horrendo primeiro trailer que mais parecia de um genérico pessimamente feito de Star Wars. Isso posto, o senhor Chris Pine deveria, com o perdão da palavra, ter levado uma senhora comida de rabo pelo absurdo que andou falando, de que “hoje já não se pode fazer Star Trek com o tom cerebral de antes”.

Star Tranko, da Disney, é a prova mais que contundente que pode e DEVE, sim!

Em Disney Big 41 pode ser lida a sequência, Star Tranko: A Rainha Gélida, composta por quatro episódios. No primeiro nossos heróis se defrontam com os ci-borgs (e de novo as referências são absolutamente auto-explicativas para qualquer trekker!). Logo descobrem que a líder dos seres cibernéticos é uma antiga rainha deuocana, que faz a saudação “vida longa e áspera”. Patetock vai corrigi-la, dizendo que o correto é “vida longa e pr...”, mas é infelizmente interrompido! De novo, o comandante Tirk abusa da inteligência para salvar o dia.

Em Zona Neutral, segundo episódio, a tripulação da Enterplay tem um novo confronto com os gringons e acolhe um novo tripulante, Solu Solista. Para derrotar os inimigos os heróis usam o velho ditado de que “o inimigo de meu inimigo é meu amigo”, e os rotulanos entram em cena. Contudo acontece uma virada na trama enquanto nossos amigos se aproximam da solução do grande mistério, a verdadeira identidade de Gran-Kan-Khan.


No episódio três, A Cilada, Mickey elabora um plano para finalmente obter as informações que somente Bafotrok conhece, com direito a uma cena que evoca a triste cena de Á Procura de Spock, com a venerável Enterprise queimando na atmosfera do Planeta Gênese (pausa para enxugar uma lágrima). E de novo, o estratagema de enganar o comandante gringon é usado com muita inteligência, e ajuda de um dispositivo tecnológico que a equipe do Capitão Picard, da Enterprise-D, utilizava constantemente.

Viu como Jornada nas Estrelas pode ser cerebral no século XXI, Chris Pine? Ou quer que desenhe? Ah, claro, está desenhado, hehehe. E um abraço para o grandíssimo George Takei, aliás, que diante do desastre do primeiro trailer de Sem Fronteiras, falou de forma corretíssima que aquilo não era o universo roddenberriano que todos amamos.

A Caminho de Casa, parte 1, tem vários momentos deliciosos, como uma brincadeira com os diários de bordo e pessoais, além de uma brilhante referência ao Universo Espelho, onde depois de muitas agruras nossos heróis de novo salvam o dia. A Caminho de Casa, parte 2, tem a sensacional conclusão da saga, onde a tripulação da Enterplay auxilia os moradores da realidade alternativa e Patetock, que era prisioneiro dos rotulanos, consegue ao mesmo tempo dissuadir uma ameaça contra o planeta natal deuocano e ajudar seus amigos da Enterplay a voltarem para casa. Embora o final seja aberto (que ótimo, claro, significando novas, emocionantes e divertidas aventuras!), tudo tem aquele sabor indescritível dos melhores episódios de Jornada nas Estrelas.

Sabemos que a série continua saindo lá fora, e ficamos na torcida para o lançamento de um volume de capa dura caprichadíssimo como vários que a Disney, através do excelente trabalho da Editora Abril, tem produzido para nosso mercado. Star Tranko é obrigatório para qualquer fã de Jornada nas Estrelas e da boa e velha Ficção Científica da melhor qualidade, com tramas muito cerebrais, discussões filosóficas como nos bons tempos de Kirk, Spock e McCoy, e muita ação e aventura de encher os olhos.

Só nos resta dar os maiores parabéns e um MUITO OBRIGADO ao roteirista Bruno Enna, aos artistas Andrea Freccero, Alessandro Perina e Marco Mazzarello, além de nosso amigo da Editora Abril Paulo Maffia, e encerrar com as palavras agora bem conhecidas:


Espaço, a doideira final.

Estas são as viagens da nave estelar Enterplay, catapultada para além do universo conhecido, onde nenhum rato jamais pousou a cauda...

Adendo: Na época em que este texto foi escrito a informação que existia era que a saga Star Tranko iria prosseguir na Topolino, mas infelizmente isso não aconteceu. Neste link está uma relação de todas as edições da revista italiana que trouxeram estas histórias, bem como respectivas capas. Star Top foi publicada em um especial na série Definitive Collection, que está inclusive saindo em Portugal pela editora Goody, trazendo várias sagas Disney. Aqui no Brasil ainda aguardamos a retomada das publicações regulares, possivelmente pela Panini, e de novo manifestamos nosso total apoio aos ex-funcionários da Abril, tratados de forma lamentável e inaceitável pelo corpo dirigente atual da editora.

E claro, celebrando os 90 anos do Mickey!

Amanhã, um texto sobre a versão de ficção científica do maior herói da Disney, e quarta-feira o início de uma série inédita de artigos.

Até a próxima!

Um comentário:

  1. Oi Renato!

    Puxa, eu sou fã incondicional de Star Trek e não conhecia o Star Tranko, amei o "espaço, a doideira final" porque se pararmos para pensar é isso mesmo né?

    Gratidão por esses textos... eu conheci os quadrinhos Disney porque meu pai era aficionado e comprava toda semana, tínhamos caixas e caixas de quadrinhos que, infelizmente, acabaram se perdendo por falta de cuidados e pela triste mentalidade do "é só gibi". De vez em quando aparecem algumas relíquias quando mexemos em algum guardado antigo...

    Vou procurar em sebo para ver se encontro esse Star Tranko, gostaria de ler e guardar.

    Muito show seus artigos, sucesso aqui no blog!
    Vida longa e áspera (quer dizer próspera... rsrsrsrsrs)

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