segunda-feira, 3 de outubro de 2022

VÓ NENA E OS CAÇADORES: O FUSCA AMALDIÇOADO


 - Puta que pariu.

Vó Nena repetira várias vezes o xingamento, enquanto observava a placa amarela e enferrujada que tinha em mãos. O conteúdo, MZ 3192, mais a foto queimada que Otaviano exibia, combinada à imagem original na tela do celular não deixavam margens à dúvidas.

Tatiana não conseguia ficar muito perto do carro condenado, aturdida com o que sua vidência revelava, enquanto Daniel examinava o interior do veículo.

- É a fotografia original? - perguntou a Caçadora.

- Sim senhora - respondeu Otaviano, atual dono do pobre Fusca.



Vó Nena largou a placa original sobre uma bancada e conversou com os jovens.

- O que fazemos?

- Vó, eu só quero sair daqui o mais depressa possível. As coisas que vejo...

- Calma, filha. E você, Daniel?

O neto mais velho dela dirigiu-se ao dono do carro:

- Já contou pro seu amigo?

- Deus me livre! Já tive problema demais quando caí na besteira de comprar esse carro! Achava que valeria uma boa nota caso o l...

- Nem pense em mencionar o nome desse Voudemorte brasileiro do caralho! - berrou Vó Nena.

- Você achou mesmo que os seguidores desse filho da puta iriam pagar uma nota pelo carro? - perguntou Daniel. - Justo essa gente que vende até a mãe se ganhar algo com isso?

- Pelo amor de Deus, me ajudem!

- Melhor mandar essa porra de carro pro ferro-velho - disse Vó Nena.

- E perder o dinheiro que esse amigo quer me pagar pelo carro? Lógico que não!

Os Caçadores se entreolharam, conversaram um pouco aos cochichos, e Vó Nena finalmente fez que sim com a cabeça.

De uma bolsa a tiracolo Daniel tirou um lápis que parecia muito antigo, e o rapaz disse a Otaviano:

- Abra as portas, capô, porta-malas... você tem ferramentas? E um macaco jacaré?

O dono do carro estranhou, mas apressou-se em fazer o que o jovem Caçador pedira.

O lápis artesanal que Daniel segurava na mão era feito com madeira de pau-brasil consagrada, e com ele o rapaz escreveu breves encantamentos e desenhou símbolos arcanos por dentro daquelas partes do carro. Dentro do Fusca removeu parte da forração do teto próxima ao vidro traseiro e fez o mesmo, dizendo:

- Você comentou que seu amigo quer personalizar o carro, talvez queira instalar um teto solar, aqui é mais provável que o encantamento dure mais.



Daniel terminou o serviço se enfiando embaixo do carro e escrevendo os feitiços no chassis e no bloco do motor.

- Com isso ninguém vai saber que o carro foi usado por... ele?

- Você tá de brincadeira? – perguntou Vó Nena. – Se esse seu amigo é colecionador como diz vai pesquisar o documento do carro e vai achar o nome do tinhoso, ladrãozinho de merda. Esses feitiços são pra bloquear as más energias que podem incentivar o sujeito a desfazer o negócio, como você disse que aconteceu das outras vezes.

- Daí, já que o cara quer personalizar o Fusca, não deve se importar muito com essa história.

Os Caçadores foram embora depois de muitos agradecimentos de Otaviano, que naquela mesma noite mandou uma mensagem pelo celular dizendo que o negócio havia sido fechado.

- Puta que pariu – comentou Vó Nena quando saíram de São Bernardo do Campo, na viagem de volta a Boa Graça.



- Eu repetiria, Vó, mas estou aliviada por ficar longe daquele carro. O feitiço já estava funcionando, as más energias ficaram bem mais fracas.

- O que o Otaviano estava pensando?

- Só no dinheiro, achando que os animais que seguem esse corrupto iriam gastar dinheiro no carro. Justo essa turma que não liga nada pra História, ou cultura, ou nada que seja bom – comentou Vó Nena.

- Agora entendo o que você sente quando vamos pra Brasília, amor – disse Daniel. Tatiana segurou sua mão brevemente, apertando-a.

- São Bernardo não fica muito atrás – disse Vó Nena. – Também, não tem culpa, do canalha que escolheu viver e começar suas sem-vergonhices aqui.

- Pelo menos aquela foto rendeu bons memes – terminou Daniel.

Pelo resto da viagem eles conversaram sobre assuntos mais leves, como caça a vampiros, monstros e assombrações que eram sua especialidade.


Esta é uma obra de ficção. Toda e qualquer semelhança suposta e alegadamente maliciosa com pessoas vivas ou mortas não passará de coincidência não intencional. Ou não. 

Vó Nena e os Caçadores retornarão.


Espero que tenham apreciado mais esse mini-conto de nossa equipe de caçadores de assombrações e monstros preferida! Vem mais por aí, muito mais, pois felzmente ideias não faltam. A próxima a ser publicada aqui no Escritor com R será uma dA Lista, aguardem!

Sobre carros amaldiçoados, malditos e malvados, fez sucesso o seguinte meme:




Querem saber mais? Pois não!

Ford Sportka, o irmão gêmeo maligno do Ka:



O Carro, a Máquina do Diabo (1977):



Christine, o Carro Assassino (1983):



Fusca Azul:



Extra: Se Meu Fusca Falasse (The Love Bug, 1997), Horace, o anti-Herbie:



Evidentemente também recomendo, além das tags abaixo onde podem conferir todo o conteúdo do blog por categoria, os e-books deste universo de fantasia, terror, folclore e lendas urbanas:



Vem mais por aí, muito mais!
Até a próxima!

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