A Maldição do Faraó
Esta trama foi publicada em 5 de fevereiro de 2014 na Topolino 3036, e no Brasil em Tio Patinhas 592 de outubro de 2014. Destacamos o brilhante trabalho do então editor de redação Sérgio Figueiredo e do jornalista Paulo Maffia, responsáveis pelas tramas escritas e desenhadas por Marco Gervásio chegarem a nosso país pouco tempo depois da publicação italiana. Como frequente na maioria destas histórias iniciais, vemos Lorde John Quackett novamente tendo um desempenho nada elogiável em um esporte, desta vez a esgrima. E novamente com uma referência a nossa realidade, uma vez que Nedo Naduck é a versão disneyana de Nedo Nadi, italiano considerado o maior esgrimista de todos os tempos, vencedor de seis ouros olímpicos em 1912 em Estocolmo e 1920 em Antuérpia, e único a vencer a medalha de ouro nas três armas (florete, espada e sabre) em uma única Olimpíada.
A história começa um pouco antes disso, no Vale dos Reis no Egito, na expedição de Lorde Patovon e Howard Pato, versões pato do egiptólogo Howard Carter e de Lorde Carnavon, descobridores da tumba do faraó Tutankhamon em 4 de novembro de 1922. Ao ouvir a notícia enquanto discute com Naduck, John fica evidentemente muito interessado.
De volta a Vila Rosa (e como é bom ver o lugar em seu esplendor durante os anos 1920!) Dolly se mostra preocupada com a maldição, mas Quackett está irredutível no plano de roubar o tesouro do faraó que será exposto no Museu de Patópolis. Afirma-se que os participantes da expedição foram perseguidos pela múmia do faraó, mas isso não demove John, e até Copérnico quer conferir a mostra, pois Howard Pato foi seu colega de estudos.
Todos se encontram no Museu, quando Patovon e Howard comentam seus encontros com a múmia. Dolly ainda insiste com John, mas eles se concentram na exposição. Dolly fica com um vaso de ouro, e estranhamente Howard afirma que o objeto não estava entre os achados da tumba. Chega nesse momento o comissário Pinko, afirmando que o vaso foi encontrado com um ladrão e enviado ao Museu. Copérnico desconfia, e relendo as notícias descobre uma foto de Howard e Patovon na tumba, com o vaso bem visível.
Pinko e um policial estão de guarda no museu quando a múmia ataca novamente, porém é confrontada por Fantomius, revelando-se como Howard Pato. O vaso guardava um papiro que descrevia algo mais valioso que ouro, e o arqueólogo o escondeu. Depois do roubo, e passou a atacar como múmia pensando estar com algum outro membro da expedição, só voltando a encontrá-lo no Museu.
Fantomius naturalmente escapa deles, e reparem antes disso, enquanto eles conversam, em um quadrinho com Dolly Páprika aguardando na moto com sidecar do casal. Ao fundo podemos ver nitidamente um edifício quase idêntico ao Empire State Building de Nova York, um dirigível, e o prédio mais famoso de Patópolis sobre uma também famosa colina... sim, primeira aparição em uma história de Fantomius! Nossos heróis retornam a seu refúgio, quando Copérnico faz uma importante descoberta sobre o papiro, e John decide que eles devem viajar ao Egito.
A edição conta ainda com um extra, Os Ruidosos Anos 20 de Fantomius, analisando como Marco Gervásio explorou brilhantemente essa época de grande efervescência cultura em suas histórias, as inovações tecnológicas do período, além de suas famosas personalidades. Sim, histórias em quadrinhos sempre foram cultura!
A Oitava Maravilha do Mundo
Esta excelente história, uma das mais repletas de referências de toda a série, saiu na Topolino 3037, de 12 de fevereiro de 2014, e em Tio Patinhas 593 de novembro de 2014. No início da trama novamente vemos Lorde John Quackett em uma competição esportiva, no caso automobilismo. Ele disputa posição com o rival Temporali, e os resultados, como de costume, não são lá essas coisas.
Aqui vale uma pausa, pois para um fã de automobilismo como este escriba essa foi uma das mais sensacionais referências inseridas nas histórias de Fantomius pelo grande Marco Gervásio. Temporali é a versão de carne, osso e penas de Tazio Nuvolari (16/11/1892 – 11/08/1953), italiano considerado de forma unânime pela imprensa especializada mundial como um dos maiores monstros sagrados da história do automobilismo. Em 1994 a revista Quattroruote fez uma reportagem especial sobre Ayrton Senna, e nela se afirma que o legendário piloto italiano era um análogo do brasileiro entre os anos 1920 e 1930. Sua maior vitória, contra todas as expectativas e que o transformou em lenda, aconteceu no Grande Prêmio da Alemanha de 1935 em Nurburgring.
Nuvolari era piloto da Alfa Romeo, e em fotos da época se pode ver o conhecido símbolo da Ferrari em seu carro. Ele corria pela escuderia de Enzo Ferrari, que somente depois da guerra passou a construir seus próprios carros. Era um período de renovação no esporte, onde vigorava na classe Grand Prix um regulamento impondo peso de 750 kg para os monopostos, sendo que os motores eram livres.
Os fabricantes alemães, contudo, conseguiram colocar motores incrivelmente potentes em seus carros. O Mercedez-Benz W25 (oito cilindros em linha e 314 HP) e o Auto Union Type B (16 cilindros em V e 375 HP) dominavam as corridas, atingindo velocidades máximas superiores a 300 km/h. O Auto Union, aliás, com motor central, fora projetado por Ferdinand Porsche, criador do Fusca e, depois da guerra, de sua própria marca.
Tazio, enquanto isso, alinhou no grid do GP da Alemanha seu Alfa Romeo B P3 (oito cilindros em linha e 215 HP), que chegava a 230 km/h e cuja tecnologia de estrutura e suspensões igualmente estava bem defasada diante dos carros alemães. Ele largou na primeira fila pois a ordem de largada era por sorteio, e o chamado Inferno Verde (apelido do circuito de Nurburgring), com quase 23 km de extensão, estava molhado pela chuva que caía.
Por sinal, neste vídeo se pode ver a volta do Porsche 919 estabelecendo um novo recorde nesse extraordinário e perigoso circuito em 29 de junho de 2018. Agora podem ter uma vaga ideia de como deveria ter sido correr na chuva, com carros sem cintos de segurança e pneus finos, em 1935... Outra prova sensacional que ocorre ali anualmente é a 24 Horas de Nurburgring, na qual mais de 120 carros largam.
Então, quase como uma prévia de outra sensacional corrida debaixo de chuva que aconteceu na Inglaterra, em Donington, em 1993, Nuvolari combateu os pilotos dos carros alemães e, com seu imenso talento, venceu a prova debaixo do silêncio da torcida alemã. Que depois, claro, aplaudiu entusiasticamente um dos mais extraordinários feitos da história do automobilismo! Por isso que para mim foi um imenso prazer ler essa história, com a merecida e divertida homenagem de Marco Gervásio ao grande Tazio Nuvolari!
Como sempre, durante a discussão entre Quackett e Temporali, outro personagem fala a respeito da chegada a Patópolis do cineasta Carl Quackham após sua visita à misteriosa Ilha da Caveira. Quackham afirma ter descoberto a Oitava Maravilha do Mundo, que exibirá na noite seguinte no grande teatro de Patópolis. Evidentemente John, ou Fantomius, se interessa.
Evidentemente a referência aqui é Carl Denham, cineasta vivido em King Kong de 1933 por Robert Amstrong, e na de 2005 por Jack Black. Por sinal Quackham parece ser de fato a versão patopolense deste último! Comparecem ao Teatro D.U.C.K. a nata da sociedade, e ao lado de John, Dolly e Copérnico se sentam o comissário Pinko e sua esposa Adelaide. Surge Quackham fazendo as apresentações, e antes do surgimento da Maravilha, vemos duas patas com um pato entre elas na plateia. Os três são Matilda, Patoso e Hortência, as duas são as irmãs do Tio Patinhas, sendo que Patoso e Hortência são os pais de Donald e Dumbella!
Finalmente surge Gong, o gorila gigante capturado por Quackham na Ilha da Caveira. Enquanto eles se exibem Dolly fica indignada pelo macaco ter sido retirado de seu habitat, e o casal por fim decide mesmo roubá-lo, mas com o intuito de mandá-lo de volta para casa. Nisso, os flashes das fotos dos jornalistas terminam por iniciar a confusão. Gong fica arisco e termina por levar Dolly. Enquanto Pinko chama o exército, John decide vestir a roupa de Fantomius em uma cabine telefônica. Nem preciso comentar a referência, não é?
Nosso herói segue o rastro de confusão e observa Gong subindo o Empire Duck Building, prédio mais alto de Patópolis. E lá ao fundo está, novamente, o edifício mais conhecido da cidade... Os aviões militares se aproximam enquanto Dolly se preocupa que, enquanto tentam salvá-la, eles acabem ferindo Gong. Fantomius escala o prédio, enquanto Copérnico segue pelos subterrâneos da Vila Rosa atrás de um veículo apropriado, o Fantomarino.
Fantomius resgata Dolly e eles seguem para o porto, com Gong logo atrás. No porto, finalmente chega Copérnico com o Fantomarino, nada menos que um sofisticado submarino inspirado em outro veículo subaquático, descrito na obra de certo pioneiro máximo da Ficção Científica. Alguns podem conhecê-lo, seu nome é Julio Verne. Mas a versão se assemelha mais a de outro autor, Alan Moore, em parceria com o artista Kevin O'Neill.
Com Gong a bordo, tomando todo o estoque de suco de chicória para desespero de Copérnico, eles rumam para a Ilha da Caveira após outra referência. Na superfície Quackham reclama com Pinko que Fantomius o fez perder milhões, mas o comissário diz que somente esse furto do Ladrão de Casaca ele aprova. Merian Cooper conversa então com Quackham querendo fazer um filme sobre o evento, e depois vemos o cartaz anunciando King Kong de 1933, dirigido pelo próprio Merian Cooper e tendo no elenco Fay Wray, Robert Armstrong e Bruce Cabot.
Mais uma belíssima e divertida declaração de amor ao cinema de Marco Gervásio em uma estupenda história de Fantomius! Marco disse que o King Kong original é um de seus filmes preferidos, e na HQ quis dar-lhe o final com que muitos sonhavam. E que ficou nada menos que brilhante!
Fantomius na Neve
História publicada em Topolino 3039, de 25 de fevereiro de 2014, e que vimos no Brasil em Tio Patinhas 594, de dezembro de 2014. De novo Lorde Quackett mostra suas “habilidades” no esporte, desta vez o esqui, em uma história onde o humor é a característica mais forte. Começa com as “vítimas” de nosso herói caindo, acompanhadas de um considerável monte de neve, aos pés de Hercule Patorot, lendo tranquilamente seu jornal na estação de esqui do Pico Calvo.
Devem se lembrar de Brutfagor, história analisada na parte 2 deste especial, onde pela primeira vez aparece o detetive belga, inspirado em Hercule Poirot de Agatha Christie. Ele veio para o aniversário da Baronesa Del Fuxico, que será presenteada pelo marido com um colar de brilhantes. Em sua residência de inverno, a Casa da Marmota, John e Dolly elaboram seu plano, quando chega Copérnico, que foi fazer um reconhecimento e testar os esquis a jato de vapor que devem ser utilizados na fuga. E que estão somente com um “pequeno” problema nos freios...
O inventor descobriu que o barão irá se fantasiar de Fantomius, fingir roubar o colar e, rendido pelo comissário Pinko, revelará sua identidade e finalmente presenteará a esposa com as gemas. Na mesma noite Pinko se prepara quando chega Patorot, e fica claro que o comissário não morre de amores pelo detetive. Depois dessa discussão chega o barão já fantasiado, que recebe o colar de Pinko e invade a festa. Porém ele escapa pela janela, revelando-se como o verdadeiro Fantomius!
Começa então uma perseguição pela neve, e Fantomius revela ser um ótimo esquiador, dando um salto digno das Olimpíadas (e a modalidade de fato estreou nos Jogos de 1924. Pinko, como sempre, está mais para ator de pastelão, e Fantomius retorna ao esconderijo mesmo com o freio dos esquis novamente falhando. Copérnico descobre que o colar é falso, e John revela já saber disso.
De volta à festa, Patorot revela que trocou as jóias prevendo a ação de Fantomius, para a alegria da baronesa. Esta agradece ao detetive francês e vai apanhar as gemas. Patorot se indigna, dizendo ser na verdade belga, e nesse momento “se toca”. Corre ao quarto dos barões e encontra o casal dormindo. A baronesa, claro, era Dolly, e nossos heróis comemoram o golpe enquanto John escreve no Diário! Em outro dia, em Londres, uma dupla de personagens lê as notícias sobre Fantomius superar Patorot, e um deles proclama: “elementar”!
Na pesquisa para escrever esta série de artigos descobri que a Casa da Marmota apareceu pela primeira vez em uma história de Marco Gervasio publicada em 13 de novembro de 2001 em Topolino 2398. O título italiano é Paperinik contro le Giovani Marmotte, e em Portugal a trama foi publicada em Pato Donald (2ª Série) 118 de 2005, traduzida para Donald Contra os Escoteiros-Mirins. Na trama Donald visita uma biblioteca e, em um livro dedicado a Fantomius, descobre a existência de mais esse refúgio do Ladrão de Casaca. Conforme o site Inducks, que pode ser consultado nos links destacados, permanece inédita no Brasil, portanto fica mais uma sugestão para a futura editora que deve retomar a publicação de quadrinhos Disney aqui em 2019.
Essas histórias mostram uma nitída evolução, seja na complexidade e elaboração das tramas, as referências sempre geniais e no ambiente geral, posicionando Fantomius nos anos 1920 de forma precisa. São sempre deliciosas para ler, e encontrar cada referência e aprender com elas é sempre uma alegria, como toda boa história.
Na Itália e em Portugal estão sendo publicados encadernados, dentro da série As Melhores Histórias Disney, trazendo a sequência de todas as histórias de Fantomius. Aqui no Brasil, até o final da publicação dos quadrinhos pela Abril, em julho de 2018, todas as histórias vinham sendo publicadas completas e na ordem correta, coisa raríssima em nosso país, e os nomes dos personagens eram cuidadosamente modificados, conforme o caso, a fim de bater com as referências. De novo, um brilhante e primoroso trabalho dos responsáveis.
Esperemos que a nova editora dos quadrinhos Disney no Brasil, anunciada pelo site Planeta Gibi conforme repercutimos na parte 2, tenha esse mesmo cuidado e mantenha os nomes já consagrados, voltando a publicar as histórias de Fantomius de Marco Gervásio com regularidade e mantendo a ordem correta. Os sinais, conforme aquele site publicou, são muito promissores. Não merece menos essa sensacional saga!
Até a próxima!
Cheguei só agora, mas procurei e li também as partes 1 e 2 dessa série de posts sobre o Fantomius. Adoro as HQs desse personagem. Espero que em breve possam voltar a serem publicadas aqui no Brasil. Continue com esses posts. São sensacionais.
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