O Senador
Brasília, 25 de junho, 23:47 h.
O hospital tinha uma segurança férrea, como seria de se esperar. Afinal, as principais personalidades da República costumavam frequentá-lo. E obviamente, os ecos dos supostos “problemas” ocorridos com o presidente Neves em 1985 se faziam sentir.
Aqueles pensamentos passaram rapidamente pela mente de Fred Nunes. Mas nem mesmo aquele elevado nível de segurança salvaria o senador.
O senador Bernardo Dante Negroponte, desta vez iria morrer.
Para um mercenário experiente como Nunes não houve qualquer dificuldade em penetrar no hospital. O equipamento que instalou no sistema de vídeo impedia que as câmeras de vigilância o captassem. Dez minutos, no máximo, era todo o tempo que necessitava.
Depois de se esconder para deixar passar dois dos seguranças do senador, Fred entrou em um quarto vazio, separado daquele ocupado por Negroponte por outro cômodo idêntico. Verificou as armas com silenciador, o cabo de aço que poderia usar para estrangulamento, e o punhal que sempre trazia consigo, e só então saiu pela janela, sentindo o ar frio do inverno de Brasília. Não teve qualquer dificuldade para arrombar a janela do quarto do senador e entrar sem ruído.
Entretanto, não esperava que Negroponte estivesse acordado. Assim que entrou Fred deu de cara com aquele homem detestável, olhando para ele com ar de pânico. Isso era verdadeiramente saboroso, mas o movimento que Negroponte fez, em direção ao botão da campainha de alarme, despertou o mercenário.
Sem a menor cerimônia apontou-lhe a arma, dizendo com voz fria:
- Se erguer a mão mais um centímetro, senador, nunca saberá quem foi seu assassino...
O velho “cacique” da política nordestina e nacional tremia de forma nítida. Baixou a mão devagar, e Fred novamente saboreou com prazer seu pavor.
Arrancou o capuz preto e revelou seu rosto. O velho, diante de seu algoz, ainda pensou em gritar, mas acabou engolindo em seco, e murmurou com voz apagada:
- O... o que você... q-quer...?
- Ora, senador, ainda não adivinhou? Quero ter a imensa satisfação em vê-lo morto, seu filho da...! Pensou mesmo que iria se safar, depois do que aconteceu em 1996?
Aproximou-se, guardando a arma e apanhando o punhal. Iria novamente cortar a garganta do maldito, e desta vez, de forma que nenhum médico em sua folha de pagamento pudesse consertar o estrago.
Negroponte lutou, agarrando o mercenário, e tentando atingi-lo. Mas estava debilitado e apavorado demais para conseguir.
- Como é desfrutar de todo esse poder, toda essa influência comprada com seu dinheiro sujo, senador, e mesmo assim sentir-se totalmente indefeso?
Fred cochichou isso em seu ouvido, imobilizando-o e erguendo a faca. Seria apenas um golpe seco. Em instantes, tudo estaria terminado.
Brasília, 24 de junho, 20:04 h.
- Fred, de todas as idéias estúpidas que já teve, essa é de longe a pior!
Angelina tentava demovê-lo, e olhou com expressão de desespero para Franco. O mais velho do trio de hackers, que editavam o mais conhecido newsletter do submundo sob o título de O Farol, viera sozinho a Brasília, e pensou alguns instantes antes de responder:
- Cara, se matar Negroponte, como iremos conseguir as informações sobre Varginha que ele conhece? Sem contar o que acabamos de descobrir... E a atenção que irá despertar!
O mercenário terminou de arrumar a gravata borboleta, examinou mais uma vez seu impecável smoking no grande espelho do quarto, e respondeu:
- Realmente não estou interessado em suas pesquisas. Tenho a oportunidade de terminar isso, e não vou ignorá-la. Negroponte morre hoje!
- Não te incomoda isso? - perguntou Franco. - Você contribuiu para que o envolvimento desse cara com o Caso Varginha fosse exposto...
- Naquele seu jornal maluco, cujos textos vocês nem assinam, não é mesmo? É, vocês desfrutam mesmo de muita credibilidade!
A fala do mercenário pareceu ofender Franco, que cruzou os braços com ar contrariado. Foi Angelina quem respondeu:
- Fred, até hoje perguntam a Negroponte sobre o caso. Claro que ele nega, mas se continuam perguntando, é porque os rapazes divulgaram a informação que você conseguiu!
Era nítido que Nunes estava irredutível, porque aproximou-se de Angelina, e disse:
- Não venha você me dar um sermão sobre ética, Angelina! Você é a primeira a mover-se por seus próprios interesses. Aliás, e ao contrário do que acontece comigo, nenhum de nós sabe qual é seu verdadeiro nome!
- Alguns de nós sabem mais que os outros – reagiu Franco. - Se ela tem um lugar sempre reservado no que fazemos, Fred, é porque suas atitudes a fizeram merecê-lo! Bem ao contrário de você, não é mesmo?
Fred olhou para Franco, sorriu, examinou mais uma vez o equipamento que iria levar, o baralho que tinha uma função fundamental no plano, apanhou sua pasta e saiu. Antes de fechar a porta, disse:
- Não precisam me aguardar.
Pela janela, momentos depois viram quando ele saiu com um carro alugado, com destino a recepção que ocorreria em uma das mansões a beira do lago Paranoá.
E então, o que acham? O corrupto senador Bernardo Negroponte, há décadas uma das figuras mais influentes da política brasileira, irá finalmente pagar por seus inúmeros crimes? Que sebredos inconfessáveis ele ainda conhece? O loiro e atraente mercenário Fred Nunes finalmente terá sua vingança?
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Até a próxima!
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