Steampunk
Já havia escrito dois contos
anteriormente, um que por sinal se tornou um e-conto lançado pela Estronho, mas
minha história Steampunk mais bem sucedida foi Utopia e Nova Atenas: Um Provável Passado. Lançada na Steampunk Tales Collection, faz parte ainda da
antologia Steampunk: Contos do Mundo do Vapor da Dragonfly, e tenho recebido
muitos elogios por ela.
Abaixo um trecho:
Abaixo um trecho:
Nova
Atenas começou a ser construída na planície, e aos poucos novos níveis foram
subindo pelas encostas da cordilheira, com a Torre Atenas sobressaindo do ponto
mais alto desta. De seu último pavimento era possível ter uma visão irrestrita
de ambas as cidades. Utopia, construída na planície após a serra ao leste, era
mais convencional, com construções ficando progressivamente mais altas conforme
se aproximava do centro. Havia grandes edifícios, mas nada remotamente
semelhante à Nova Atenas.
De
fato, o nome não chegava a reproduzir perfeitamente o que era a cidade vizinha.
Para Pedhro seu aspecto era até bem comum, lembrando os bairros da planície em
Nova Atenas. Havia mais autocarros e trens funcionando, e tudo era mais limpo
que em sua cidade. Mas pelas ruas ele observou que a vida nem de longe era mais
fácil. Multidões se locomovendo a pé, a maioria vestindo roupas bem
desgastadas, e muitos rostos exibindo um ar de desesperança que era bem
familiar. Aguardando a liberação para atravessar uma grande avenida, ele
observou o jornal que era lido por um homem a seu lado.
Os
cabeçalhos das notícias eram reclamações sobre o alto custo dos serviços, as
dificuldades de reconstrução, e questionamentos sobre os projetos conjuntos com
os inimigos. Pedhro se surpreendeu, pois aquilo diferia e muito da ideia que
faziam sobre os vizinhos em Nova Atenas.
Impaciente,
ele se adiantou quando o guarda de tráfego ordenou a parada dos veículos,
permitindo a passagem dos pedestres. Depois de andar mais alguns quarteirões,
chegou ao destino.
O
Gazeta de Utopia era o maior jornal da cidade, cujas edições eram disputadas
até mesmo em Nova Atenas. O trem inaugurado havia pouco permitia uma cobertura
muito maior dos acontecimentos nas duas cidades, e a troca de informações e
notícias mais rápida que proporcionava poderia mesmo ser um motor para os novos
tempos que todos ansiavam. Pedhro observou tanto na fachada quanto no interior
que aquele prédio igualmente já passara por dias melhores, e espantou-se pelo
intenso movimento no interior.
Deu
seu nome à recepcionista, e recebeu as indicações necessárias. Subiu ao sexto
andar, e logo encontrou a mesa da pessoa que viera encontrar. O nome estava
escrito em uma pequena tabuleta, e a ocupante estava distraída datilografando
um texto.
—
O que é? – perguntou ela continuando a dividir sua atenção entre notas
manuscritas em um surrado caderno e a folha na máquina de escrever.
Ele
hesitou um pouco. Fazia muito tempo que não se dirigia a uma moça,
especialmente uma que fosse bonita. Pigarreou e finalmente disse:
—
Sou Pedhro Sullivan. Fui mandado pelo professor Artemius Roots para...
—
Ah, sim, o sujeito de Nova Atenas – interrompeu a moça. – Espere um momento.
Ela
continuou datilografando em uma velocidade que impressionou Pedhro, até que
finalmente parou, puxou a folha da máquina e passou os olhos atentos sobre ela.
Satisfeita, fez uma rubrica no canto inferior direito, refestelou-se na cadeira
e pela primeira vez olhou para o visitante.
Marcie
Almara era bonita. Cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo, rosto delicado,
vestia camisa branca e calças pretas. Um blazer preto estava pendurado no
encosto da cadeira onde estava sentada. Observou Pedhro de alto a baixo,
levantou-se, vestiu o blazer e saiu andando.
Quatro
passos depois parou, virou-se e perguntou:
—
Como é, você não vem?
Pedhro,
nada acostumado com aquela mulher tão diferente das que conhecia, a seguiu
depois de alguns segundos.
O e-conto já mencionado, O Império, o Meteoro e a Guerra dos Mundos, saiu pela Editora Estronho e traz várias
referências, a principal sendo evidente, o livro A Guerra dos Mundos do
pioneiro H. G. Wells. Segue um trecho:
O
General incentivou o cientista-chefe a ir direto ao assunto. Isabel herdara não
apenas o trono mas também o gosto do pai pelo conhecimento e pela ciência.
Macedo
explicou que vinha acompanhando um objeto desconhecido em seu telescópio no
Observatório Nacional pelas últimas três noites, e chamou sua atenção que essa
coisa vinha se tornando mais brilhante a cada nova observação.
-
Majestade, – disse Macedo – tenho quase total certeza de que se trata de um
bólido celeste, um meteoro. E ele segue diretamente para nós. Temo que possa
cair nesta noite.
-
E o senhor já determinou onde se dará tal queda?
Octávio
olhou para Ferdinando, tornou a encarar a imperatriz, e finalmente respondeu:
-
Calculei o local do impacto, Majestade, entre o leste do estado de São Paulo e o
sul do Mato Grosso. É uma região relativamente desabitada, mas como ainda tenho
dúvidas quanto ao tamanho do bólido...
-
Não pode precisar o potencial de destruição, estarei correta?
-
Sim, Majestade.
-
Há mais algum perigo em potencial, Doutor?
Isabel
abraçou o livro que tinha nas mãos, e nesse momento Octávio pôde ler o título
na capa: “A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells”. O cientista-chefe se permitiu a
ousadia de sorrir levemente, dizendo:
-
Minha amada Imperatriz, se está se referindo ao perigo em potencial contido na
leitura que tem em mãos, posso assegurar-lhe que quase certamente não é o caso.
A obra do cavalheiro Wells, apesar de muito instigante, resume-se somente a
ficção produzida por sua prodigiosa imaginação, nada mais.
Valente
se absteve de fazer comentários, e Isabel suspirou aliviada, mas recomendou:
-
Gostaria que enviassem, de qualquer forma, pessoas capacitadas para as
proximidades do local do impacto, se este produzir vítimas. Tem certeza que
nenhuma área povoada pode ser atingida?
-
Sim senhora, essa certeza ao menos é absoluta – respondeu Macedo.
-
Se é do desejo de Sua Majestade – disse o General Valente – tomarei
providências para que a nau aérea Espírito Santo parta imediatamente para
aquela região.
-
Agradeço, General, e devo dizer que também estou imensamente satisfeita com os
preparativos da festa da vitória contra a Intentona Republicana. O povo precisa
saber que a Casa Imperial sempre estará aqui para servi-lo.
-
Apenas cumpro meu dever, Majestade!
Maria
acelerava o mais que podia o autocarro, sem se abalar pelo golpe de vento que
se seguiu ao impacto. Observou ao longe um dirigível da Armada Aérea rumando na
mesma direção, e acelerou pela estrada de terra tentando acompanhá-lo.
Cerca
de quarenta minutos após o evento, e baseando-se em uma estimativa grosseira da
distância do local até o observatório, a moça presumiu que estava se
aproximando.
Contudo,
não estava preparada para o que viu a seguir. Um estrondo pavoroso a fez frear
o carro, estacioná-lo na lateral do caminho e seguir a pé. A estrada subia
levemente, e quando Maria chegou ao ponto culminante, não conseguiu acreditar
no que via.
A
distância de cerca de quatro quilômetros se estendia uma grande planície, e
sobre esta o dirigível que avistara antes queimava. E queimava porque era alvo
de estranhas máquinas sustentadas por três longas pernas, emitindo disparos que
destroçavam a aeronave.
Maria
contou horrorizada um total de dez máquinas que se distanciaram do ponto ainda
fumegante da queda do bólido, e depois de destruírem o dirigível rumaram
ameaçadoramente para a direção em que estava.
A
jovem correu de volta ao autocarro, dando graças por tê-lo mantido funcionando,
deu a volta e disparou para Araçatuba. Sob a fraca luz da lua crescente, no
assento a seu lado ela viu de relance a capa do livro que estava lendo.
A
Guerra dos Mundos, de H.G. Wells.
-
Não é possível! – gritou Maria. Ela acelerou ao máximo, tentando fugir dos
monstros que a perseguiam.
A
jovem finalmente encontrou um local de observação, em meio a árvores e
arbustos, de onde poderia ver tanto a cratera quanto o terreno além dela.
Olhou, e surpreendeu-se com o que viu.
No
momento em que o pensamento de correr de volta ao autocarro atravessou-lhe a
mente, foi agarrada e imobilizada. Tentou gritar, mas uma mordaça rapidamente
sufocou seus apelos, enquanto suas mãos eram amarradas atrás das costas.
Indefesa e apavorada, foi arrastada na direção da cratera.
Fez
pontaria contra o mais distante e disparou o mosquete. O homem caiu morto no
mesmo instante, e enquanto o segundo sujeito olhava atônito o companheiro,
Rober aproximou-se e transpassou-o com a baioneta. O inimigo teve a boca
inundada de sangue, e caiu sem dizer palavra.
A
moça ainda se debatia e o soldado correu até ela. Primeiro livrou seus pés e a
colocou no chão, dizendo:
-
Olá, senhorita, sou o Tenente Rober Santos e a livrarei em um instante!
Correu
até a porta, ainda a tempo de ver o pequeno dirigível decolar. Fez novamente
pontaria com o mosquete e disparou até acabar a munição. O militar no
dirigível, que começou a expelir fumaça do motor, devolveu o fogo com sua
pistola obrigando Rober a se abrigar. A aeronave finalmente desapareceu por
trás dos morros que circundavam a grande planície.
Maria
surgiu na porta lutando por dizer alguma coisa. Assim que Santos lhe livrou a
boca, ela disse:
-
Que tipo de resgate é este? E um dos inimigos ainda se mexe lá dentro!
Rober
novamente a deixou sozinha e entrou novamente, mas a poucos passos porta
adentro reparou que o homem ensanguentado conseguiu chegar ao comando de
acionamento dos explosivos. Santos voltou a sair, segurou a jovem pelo braço e
a arrastou o mais depressa possível.
A
explosão a seguir os jogou ao chão, varrendo o que restava do acampamento
inimigo. Santos se recompôs e levantou, auxiliando a moça a também ficar de pé.
-
Está bem, senhorita?
-
Apesar de ainda estar com as mãos amarradas, sim. Se importa?
Maria
virou-se de costas, e Rober percebeu que segurava um livro. Enquanto a
desamarrava, perguntou:
-
Por que se preocupa em carregar isso, senhorita?
Maria
massageou os pulsos avermelhados, olhou no rosto de seu salvador e respondeu:
-
Porque é meu exemplar de A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells, e não quero
perdê-lo de vista.
Referências cinematográficas? Muitos comentam
sobre o filme As Loucas Aventuras de James West de 1999, mas eu prefiro o muito
mais divertido A Liga Extraordinária, de 2003:
Calma, é claro que a HQ A LigaExtraordinária, de Alan Moore e Kevin O´Neil (com a qual o filme praticamente
não tem nada a ver) é um material incomparavelmente melhor. Como falamos de Steampunk
aqui, os dois primeiros volumes são os mais adequados. Absolutamente
recomendada!
Como referências visuais não poderia deixar ainda de recomendar que conheçam o trabalho do ilustrador brasileiro Alvin Correa. O próprio H. G. Wells se encantou com suas ilustrações, e recentemente a editora Suma lançou uma caprichada edição de A Guerra dos Mundos com suas belas artes!
Dieselpunk
Para mim tanto o Steampunk como o
Dieselpunk são gêneros muito visuais, razão pela qual os ilustrei com as
imagens que os leitores podem apreciar. Por sinal acima podem ser conferidas
duas imagens do V-3, um dos protótipos do Fusca construído e testado em 1936.
Abaixo outro veículo, este que faz parte de minha obra, o caça britânico
Supermarine Spitfire, um dos mais importantes da Segunda Guerra Mundial.
Uma grande inspiração para mim foi o
filme Capitão Sky e o Mundo de Amanhã de 2004. Já pelo trailer dá para ver que
a película, com Jude Law, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie, é espetacular!
O que pouca gente sabe é que primeiro os
produtores realizaram um curta metragem, tão lindo visualmente quanto o filme:
A produção me inspirou primeiro a
escrever um livro, e me valendo ainda de muita leitura e pesquisa sobre a
Segunda Guerra Mundial. Uma das fontes foram fascículos da coleção Guerra nos
Céus, os anos 1980 foram uma época maravilhosa, por vezes acho que o mundo era
melhor nesse tempo...
O livro permanece inédito, e estou no processo
de contatar editoras interessadas. Felizmente tive o grande prazer de escrever
um conto baseado nele e que, na visão geral da história é um prequel desta,
para a antologia Retrofuturismo - Um Compêndio do Comendador Romeu MartinsSobre As Variantes do Punk, da saudosa Tarja Editorial (eis aí outra época que
foi deliciosa!). O conto tem o título Céu de Guerra: A Batalha da Inglaterra,
uma versão de minha autoria para um dos momentos mais importantes da Segunda
Guerra Mundial.
A premissa que torna este universo
diverso do nosso é que aqui Santos Dumont, o Pai da Aviação, criou uma
indústria aeronáutica no Brasil, que levou adiante a vocação de inovação do
pioneiro. Apreciem um trecho:
O
avião de Ricardo Almeida havia acabado de pousar em uma base próxima a capital
britânica, e o capitão apanhou sua exígua bagagem. Desceu, e à distância acompanhou a decolagem
de um grupo de Hurricanes, saindo para mais uma patrulha.
Ricardo
caminhou até o carro que, segundo as informações recebidas, aguardava por ele.
Apresentou suas credenciais ao motorista, um sargento que fez uma continência
desleixada e o convidou por gestos a se sentar. O rádio repetia as palavras do
discurso de Winston Churchill, proferidas em 13 de maio último: “Lutaremos nas
praias, lutaremos nos campos de pouso, lutaremos nas campinas e nas ruas;
jamais nos renderemos!”.
O
brasileiro considerou as palavras inspiradoras, mas ao mesmo tempo pensou que a
Inglaterra estava em severa desvantagem, sozinha contra um inimigo cruel e
impiedoso, que tomara a maior parte da Europa e agora se voltava contra o
Império Britânico.
À
sua espera havia uma figura baixa e franzina, que ele conhecia muito bem.
Trocaram um abraço e um aperto de mão, e ele disse:
-
Kirk, você não mudou nada!
Matheus
Kirk, com seu ar de moleque mal saído da adolescência, realmente não aparentava
o fato de ser um gênio da mecânica. Respondeu:
-
Ricardo, amigo, não faz tanto tempo assim, não é mesmo?
Fazia
cerca de um ano desde que eles haviam trabalhado juntos na Base Aérea de São
José dos Campos, nas instalações da Aeronáutica Dumont, a inovadora indústria
fundada em 1923 por Alberto Santos Dumont. Fiel aos princípios do Pai da
Aviação, a empresa colocava sua marca de inovação em todos os projetos que
elaborava. O avião quadrimotor em que Almeida fora passageiro e voara para a
Inglaterra, por exemplo, o Dumont D-55, era o exemplo máximo dessa filosofia.
Seus quatro motores sobrealimentados faziam dele o avião mais veloz e de maior
alcance em sua classe, desde seu primeiro voo em 1934. Seria um sucesso
comercial se a ditadura Vargas não tivesse cortado seu desenvolvimento.
Santos
Dumont, depois de mais atritos com o ditador, havia desaparecido em dezembro de
1934, sendo declarado morto no ano seguinte. Os dois amigos entraram no edifício,
e Kirk fez uma pergunta:
-
Alguma notícia de Valentina?
A
americana Valentina Sheridan era a principal razão do exílio de Almeida. Os
dois haviam se apaixonado no momento em que o piloto participava dos testes de
mais dois dos inovadores produtos da Dumont, o jato de pesquisa D-89 de um
motor, seguido meses depois pelo D-90 de duas turbinas e já um protótipo de um
futuro caça a jato. Almeida não resistiu à insistência da namorada jornalista,
e a levou para conhecer os aviões.
-
Já mostramos como nossos Spitfire com motores radiais Centaurus se mostram
melhores em elevadas altitudes que os modelos normais. O pessoal da Hawker,
fabricante dos Tornado e Typhoon, também insiste para o Alto Comando dar
atenção a nossos relatórios, mas os imbecis dos burocratas insistem que motores
refrigerados a ar são menos eficientes.
-
Bom, continuemos usando o que temos, Kirk, é o jeito!
-
Você não entende, Ricardo! A Hawker vai se concentrar no Typhoon, e não teremos
mais nenhum Tornado. E para reequipar os Spitfire com o Centaurus, só pegando
exemplares já danificados.
-
Por que não tentar melhorar o Rolls-Royce Merlin, então?
A
pergunta foi feita por Denise Landron, que entrava naquele momento. Ela se
sentou no sofá ao lado de Almeida, e continuou olhando o engenheiro até que ele
respondesse:
-
Estamos trabalhando em uma forma de aumentar a potência do Merlin. Os primeiros
ensaios com turbocompressores que fizemos com seu avião, Ricardo, foram
promissores. O pessoal da Rolls-Royce ficou bem interessado, e disseram que vão
começar seus próprios testes.
-
E o sistema de injeção? – perguntou Denise. – Os diabos dos Messerschmidt
Me-109 usam, e ficamos em maus lençóis quando somos obrigados a persegui-los em
grandes altitudes, no momento em que os nazistas entram em mergulho invertido.
Nossos carburadores engasgam e o motor chega a parar, tomei um susto danado no
outro dia.
Ricardo
empurrou os manetes das duas turbinas ao máximo para frente, e sentiu a pressão
de toda a potência contra as costas. O caça subia em velocidade vertiginosa,
acima de 750 km/h. Nos testes ele já havia levado o D-90 a 14,8 mil m sem
forçar muito, e estava confiante em conseguir atingir a altitude necessária
para dar combate ao intruso.
Ele
acompanhava pelo rádio as mensagens da batalha que ocorria muito abaixo. Os
pilotos das bases do sul da Inglaterra haviam abatido mais de trinta
bombardeiros alemães naquele dia, além de outros quarenta caças, e isso
contando com números bem inferiores aos dos alemães. Não havia sido por outro motivo
que o próprio Winston Churchill havia declarado no dia 20 de agosto: “nunca
antes no campo do conflito humano, tantos deveram tanto a tão poucos”.
-
Meu Deus, esse troço é enorme! Pelo menos do tamanho do Hindenburg!
Ele
já conseguia ver nitidamente o imenso dirigível, totalmente prateado e com a
suástica nazista pintada nos lemes traseiros. Ricardo reparou que havia uma
grande gôndola na parte inferior, e em sua metade traseira portas se abriram no
fundo, começando a liberar bombas.
A
tripulação do dirigível deveria tê-lo notado, pois disparos traçantes passaram
zunindo muito próximo de seu avião. Almeida acelerou mais, chegando a 790 km/h,
e naquela velocidade os artilheiros não conseguiam enquadrá-lo. Fez uma
passagem por baixo do dirigível, disparando na direção da gôndola. Conseguia
ver através das janelas os alemães correndo ali dentro, e viu pipocar focos de
incêndio.
Mas
também viu outra coisa. Um objeto cilíndrico saiu ou foi lançado da parte
traseira da gôndola, caindo na vertical. Ricardo teve a impressão de ver o
objeto estender asas que estavam dobradas ao longo de sua fuselagem, mas não
teve tempo de pensar naquilo.
Mas
Almeida não pôde responder. O avião foguete voltou a atirar nele, agora vindo
diretamente por cima. Almeida fez seu jato girar para o lado, mas mesmo assim
sentiu o impacto das balas em seu avião. O foguete passou por ele, e o
brasileiro iniciou uma perseguição.
O
avião foguete nazista liberou um cilindro de sua parte traseira, com o que sua
velocidade foi sensivelmente diminuída. Ricardo viu aí uma chance e disparou,
mas no mesmo instante um segundo foguete voltou a disparar na traseira do
inimigo, e ele fez uma longa curva ascendente. Almeida o seguiu, forçando suas
duas turbinas ao máximo, e em um rápido relance dos instrumentos percebeu que
teria combustível no máximo para mais cinco minutos.
Prosseguiu
na subida, e por um momento ficou maravilhado com a extraordinária máquina que
perseguia. A fuselagem era alongada, e as três asas giravam ao redor dela
estabilizando-a. O pensamento de que tais aeronaves avançadas poderiam dar aos
nazistas uma vantagem decisiva lhe deu calafrios.
Escrevi este conto entre 2010 e 2011, e
estou perfeitamente ciente de que o avião foguete nazista descrito é
praticamente o mesmo que o Caveira Vermelha usa para escapar da explosão da
fábrica em Capitão América: O Primeiro Vingador, também de 2011, um dos
melhores filmes da Marvel! Este, por sinal, é outro ótimo exemplo
cinematográfico de Dieselpunk.
Cyberpunk
Referência cinematográfica de Cyberpunk?
A maioria irá falar de Matrix, mas o divertido Jogador Número 1 também é muito
legal, inclusive pelas inúmeras referências nerd.
Explorei essa vertente da literatura
punk no conto A Chave, publicado em 2011 na antologia Imaginários 4 da Editora
Draco. Aí vai mais um trecho:
Arisia
sentou-se na beirada da mesa, cruzou as pernas e tirou de um bolso interno da
bota esquerda uma plaqueta de dados de memo-cristal translúcido e atirou sobre
a mesa. O dispositivo de memória caiu precisamente no slot de leitura do
terminal de Malthus. Ele examinou a lista e respondeu:
-
Tenho praticamente tudo, meu bem, menos um item. Mas isso não sairá barato.
-
E qual seria o preço, “meu bem”?
Malthus
examinou Arisia de cima a baixo e sorriu. Ela completou:
-
Se for sexo, garanto que pode ser menos prazeroso do que imagina. O sujeito da
noite passada teve fratura na bacia após eu terminar com ele. Fratura nem um
pouco virtual, se me permite acrescentar.
-
De fato, a mente pode pregar peças no corpo – riu-se Malthus. – Você tem
talento, minha cara, se consegue provocar reações psicossomáticas assim.
Ele
mexeu em mais alguns comandos do terminal, e descarregou vários arquivos para o
memo-cristal de Arisia. Entregou o dispositivo para a moça, que o guardou no
mesmo lugar de antes, e recostou-se sem deixar de olhar para ela.
-
Só isso? – Arisia perguntou.
Malthus
levantou e caminhou pelo escritório. Os pedaços gementes de seus capangas já
haviam sumido após estes obviamente terem desconectado. Bons capangas
continuavam sendo artigo raro mesmo em um mundo tecnológico como aquele, pensou
o empresário. Ele virou-se para Arisia e finalmente respondeu:
-
Na verdade, disponibilizei em seu cristal todos os itens que pediu, mas a senha
para abrir os arquivos e o lugar onde poderá encontrar o encriptador
quadrifásico só fornecerei se participar de uma... aventura comigo!
-
Que aventura?
Sem
dizer nada, entrou pela porta depois que ele lhe deu passagem. Viu-se em um
tipo de boxe onde havia duas hipermotos com as carlingas transparentes abertas.
Diante deles, uma pista incrivelmente extensa com variados trechos que mais
pareciam um pesadelo.
-
Se chegar na frente darei tudo o que quer, benzinho, talvez até mais!
Arisia
apertou um botão de comando em sua pulseira, e seu traje mudou instantaneamente
para uma roupa inteiriça e justa. O capacete pendia como um capuz em suas
costas, ela o vestiu e ajeitou os óculos, dizendo apenas:
-
Duvido que estará em condições de fazer qualquer outra coisa ao terminarmos,
Malthus.
-
Ah, sempre determinada, gosto disso. Vamos correr!
Arisia
viu a capota transparente fechar-se sobre ela quando deitou e agarrou o guidom.
As duas hipermotos alinharam-se na linha de partida, e ao sinal verde
dispararam.
Não
demorou para atingirem velocidade supersônica, cruzando a interminável reta do
deserto como dois raios. Malthus obviamente sabia o que fazia, pois logo tomou
a dianteira.
No
final do deserto, havia o impressionante muro de uma cordilheira, com apenas uma
estreita passagem para onde o caminho apontava. Arisia chegou a emparelhar, mas
percebeu que Malthus não iria aliviar por nada que fosse. As laterais dos
veículos roçaram, se esfregaram e bateram. E como um morto não estaria em
condições de fornecer informação nenhuma, ela permitiu que o sujeito entrasse
na passagem primeiro.
Dali
seguiram por um circuito sinuoso em meio a uma floresta, repleto de subidas,
descidas e curvas fechadas. Malthus pilotava como um maníaco e Arisia estudava
suas trajetórias a fim de descobrir como ultrapassá-lo.
Saíram
e foram andando, sem se importar com a chuva que caía. Conversavam sobre a
experiência, e Arisia estava entusiasmada:
-
Marc, todos os personagens são mesmo IAs? O servidor de vocês deve ser
monstruoso!
-
A empresa tem o que de melhor está disponível, querida. Não sabe como fiquei
contente quando consegui o emprego!
Depois
de alguns instantes, ele acrescentou:
-
Faz muito tempo, um filósofo da Universidade de Oxford chamado Nick Bostron
disse que, se a humanidade conseguisse mesmo criar um mundo virtual tão
convincente quanto o mundo real, então não haveria como provar que o mundo real
que já conhecíamos não fosse também ele uma simulação.
-
Quer dizer – disse Arisia – Que podemos agora estar em uma realidade virtual
sem saber?
-
Exatamente! E o Postulado Bostron, como ficou conhecido, diz isso, se
criássemos uma realidade virtual seria então muito provável que outros já
tivessem criado essa simulação antes de nós. Seríamos então apenas programas em
uma R.V. ainda maior e impossível de descobrir.
-
Nossa!
Sim, essa parte sobre Nick Bostron é
autêntica, o cara realmente disse isso.
Então esses são alguns exemplos de meus trabalhos
dentro dos vários gêneros da literatura punk. Aprecio bastante experimentar
criar fora da caixa, como se diz por aí, me aventurando por outras vertentes
das letras. Vocês podem encontrar o que está disponível nos links, e espero que
gostem e comentem!
Até a próxima!
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