quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Fantomius o ladrão de casaca parte 5

O nobre por trás da máscara

Sem dúvida uma das melhores e mais emocionantes histórias de Fantomius elaborada pelo quadrinista italiano Marco Gervásio, foi publicada em Topolino 3107 de 10 de junho de 2015. No Brasil saiu em Tio Patinhas 607 de janeiro de 2016. Nesta trama finalmente podemos vibrar com a história de transformação do nobre John Quackett em Fantomius!


Lembram de O Tesouro do Doge, apresentada na Parte 4 deste especial? Pois os tons em preto e branco retornam no início da trama, passada em Londres em 1895, quando Andrew Quackett vai lembrar ao filho John que a família irá comparecer a uma festa a fantasia. O pequeno John diz que está fazendo a lição e detesta tais reuniões sociais, mas acaba derrubando o livro A Lenda de Patin Hood, provocando uma discussão com o pai. O jovem fica de castigo e em seguida sua mãe, Marie Lamont, vai conversar com ele lembrando das obrigações deles como nobres. Ela ainda acrescenta que por vezes temos que fazer coisas que não queremos, até sob uma máscara. E John repete que nunca usará uma.

O tempo corre até Patópolis em 1910, e nos encontramos em uma festa na Vila Von Duck, de propriedade do barão de mesmo nome. Todos comentam que John Quackett compareceu sem fantasia e se isolou na varanda. O Lorde está meditando sobre quem teria roubado um rubi do conde Quatrolhos, e pensa que seria ótimo um Patin Hood dos tempos modernos que desse uma lição nos arrogantes e fúteis nobres. John não suporta a hipocrisia do meio em que é obrigado a viver.

Por sinal, A Lenda de Patin Hood é a tradução da história La leggenda di Paperin Hood, de autoria de Romano Scarpa e publicada em Topolino 228 e 229 em fevereiro de 1960. Conforme o site Inducks permanece inédita no Brasil, infelizmente. Mas essa é somente uma das muitas referências apresentadas na trama. Encontramos outra na primeira imagem da Vila Von Duck, na qual ao fundo se pode novamente observar o prédio mais famoso de Patópolis!

A festa é interrompida pela chegada de um estranho de óculos e jaleco branco, que Von Duck ridiculariza sem dó. John sai da mansão atrás dele, e conhece então o inventor Copérnico Pardal. O nobre o leva até seu laboratório, e entre as primeiras invenções que podemos observar estão botas amarelas com molas. Na parede, enquanto Copérnico abre a geladeira, é possível observar o projeto de um carro, exatamente o mesmo que vemos no Diário de Fantomius quando Donald o lê em O Diabólico Vingador! Também vemos a foto do filho do inventor, com a legenda “Lembrança do Krakatoa”, e a afirmação de que está acompanhando um ricaço.

Acredito que entenderam esta última referência! Será que preciso dizer que é parte de uma certa Saga produzida pelo grande mestre Don Rosa?


Copérnico então relata que Von Duck havia pedido a ele um dispositivo para abrir cofres, alegando haver esquecido a combinação do seu próprio. Após entregar o pedido Von Duck disse ao inventor para apanhar seu pagamento naquela noite, provocando a cena na festa.

Nesse momento chega a polícia, e o inspetor Pinko afirma que o inventor foi acusado por Von Duck pelo roubo de um diamante. A pedra é de fato encontrada no bolso de Copérnico, que é preso. John, indignado, promete que auxiliará o amigo. A poltrona em que ele se senta é a mesma de Vila Rosa de O Diabólico Vingador, quando o Superpato nocauteia policiais com luvas de boxe que saltam de seus apoios. Quackett logo chega à conclusão de que Von Duck incriminou Copérnico para atribuir também a ele o furto do rubi de Quatrolhos. John decide então que, para apanhar um ladrão mascarado de cavalheiro como Von Duck, é preciso um cavalheiro mascarado de ladrão.

Virando a página voltamos no tempo a 1895, novamente em tons de preto e branco, quando o pequeno John conversa com o irmão Henry. Este já está com sua fantasia, e John comenta que heróis como Patin Hood não usam máscaras ou capas, que ele diz serem coisas de ladrões. Henry então lhe presenteia com um livro, dizendo que máscaras nem sempre escondem, mas também revelam. O volume tem o título de “A Máscara de Zollo”, evidente referência a Zorro, personagem criado em 1919 pelo norte-americano Johnston McCulley, conhecido autor de histórias para as então famosas revistas pulp. E frequente protagonista do Almanaque Disney por anos a fio, tendo até realizado crossovers com Mickey e Pateta.

E claro, não preciso dizer qual super-herói tem o Zorro diretamente envolvido em sua gênese, certo?


Do John de 1895 saltamos na página seguinte para 1910, e ele olha pensativo para o mesmo livro. Sobre a mesa a sua frente as botas com molas e o dispositivo de abrir cofres de Copérnico, além da ampola do fungo fritador de fechaduras. Na página seguinte, graças a uma velha fantasia que tira de um baú, John Quackett morre, e de suas cinzas nasce Fantomius, o Ladrão de Casaca! As falas, ações e imagens são uma réplica daquelas desenhadas por Guido Martina, em 1969, para mostrar a gênese do Superpato!


E sim, neste ano de 2019 nosso maior herói completa 50 anos, bom motivo para outro especial, não? Que tal algo relacionado ao fabuloso universo de ficção científica de As Novas Aventuras?

Fantomius também sai pela janela, apanha seu fabuloso carro e ruma para a mansão Von Duck. Após alguns problemas de aprendizado nosso ladrão favorito encontra o cofre e o rubi roubado de Quatrolhos. Mas para inocentar Copérnico, a polícia precisa encontrar a gema, portanto John, ou Fantomius, faz um telefonema denunciando o próprio roubo. Pinko logo chega e interroga Von Duck, e diante do rubi este confessa a tramóia. Assim que Pinko o declara preso Fantomius se revela, foge com o rubi e deixa um elemento já clássico em suas histórias, seu cartão de visita.

Enquanto a pergunta “Quem é Fantomius?”, que incendiou a imaginação dos fãs dos quadrinhos Disney por gerações, é estampada nos jornais do dia seguinte, John e Copérnico se afastam da prisão de carro. O inventor agradece enquanto o nobre diz que finalmente encontrou sua floresta de Sherwood e sua máscara, e enquanto rumam para a Vila Rosa e o novo laboratório de Copérnico, tem assim início uma das mais fascinantes sagas já publicadas pela Disney!


Os anéis de Cagliostro

Publicada em Tio Patinhas 613 de julho de 2016, depois de estrear na Topolino 3108 de 16 de junho de 2015. A trama se inicia nas proximidades de Viena em 1914, e como sempre em flashbacks os tons são em preto e branco. Em um suntuoso castelo Fantomius e Lady Mostarda, sua parceira na época, chegam ao topo de uma das torres após roubar os Anéis de Cagliostro. Porém a ladra chinesa trai o parceiro e foge, antes de Fantomius avisá-la de que os anéis são falsos.


A história é inspirada no anime O Castelo de Cagliostro de 1979, dirigido e roteirizado por Hayao Miyazaki. O filme segue as aventuras do ladrão cavalheiro Arsène Lupin III, e tem até cenas de perseguição em pequenas cidades e vilas italianas. Retornando ao universo Disney somos transportados a Viena em 1922, onde John Quackett e Dolly Pata comparecem a um congresso de tesourologia na Vila do Barão Von Bon. Para surpresa de John sua antiga parceira, Jen Yu, aparece se apresentando como Condessa de Cagliostro. Eles irão acompanhar a apresentação do Professor Quackson.

Durante a palestra Quackson exibe os sete Anéis, que são grandes círculos de ouro e evidentemente não servem para usar nos dedos. As luzes subitamente se apagam, e quando retornam o pequeno baú com o tesouro não está mais lá. Nossos heróis suspeitam que Jen Yu os passou a um comparsa, já que a ladra chinesa continua ali.

Depois, em seu quarto de hotel, Lady Mostarda descobre que há palavras escritas nos anéis, mas não consegue descobrir qual a ordem certa para ler o enigma de Cagliostro. Uma camareira chega com uma carta, e quando a abre Jen Yu descobre um cartão de visita de Fantomius. Essa distração foi tudo que nosso Ladrão de Casaca precisou para apanhar os Anéis. Em seu hotel John descobre a resposta, “Anéis reais, castelo de Cagliostro”, mas Dolly afirma que o alquimista não possuía um castelo. John responde que não é bem assim.

É um bom momento para apontar que Alessandro, Conde de Cagliostro, era o apelido de Giuseppe Giovanni Battista Vincenzo Pietro Antonio Matteo Balsamo, ocultista, alquimista, curandeiro, viajante e maçom (02/06/1743 – 26/08/1795). Ele afirmava possuir poderes paranormais e frequentava várias cortes européias aplicando golpes.

Jen Yu vai até Quackson, e ele revela ter descoberto o mesmo que Fantomius, acreditando ser uma fraude já que Cagliostro nunca possuiu um castelo. A chinesa afirma saber a resposta, e eles vão de trem a uma localidade chamada Cagliostro, onde existe um castelo de propriedade do Duque Von Ducon. Assim, o castelo fica em Cagliostro, e não pertenceu ao alquimista. E é claro, trata-se da mesma construção que Lady Mostarda e Fantomius invadiram em 1914!

Procurando por algum local com esse nome não o encontrei, porém descobri uma fortaleza de nome Forte di San Leo, em Rimini, na Itália, também conhecida como Castelo de Cagliostro já que o alquimista foi ali aprisionado até seu falecimento. Como sempre, o grande quadrinista Marco Gervásio coloca referências interessantíssimas em suas histórias!

Von Duckon os recebe, dizendo que tem dificuldades financeiras e por isso o castelo está em más condições. Quackson logo encontra os autênticos Anéis, porém seu significado ainda é misterioso, e ele se isola afirmando que precisa pensar a respeito. Contudo Jen Yu consegue descobrir o significado do enigma, no que é auxiliada por Von Duckon. Nesse momento acontece a traição do campanga da chinesa, que está trabalhando com o Barão Von Bon. Os larápios os aprisionam e correm atrás do tesouro, enquanto Quackson retorna e os liberta. E revela-se, claro, como Fantomius, que então impede a fuga dos dois meliantes.

Jen Yu fala em retomar a parceria, mas discorda quando Fantomius diz que dividirá o tesouro com Von Duckon. A ladra foge, pensando ter surrupiado as preciosidades, mas ninguém engana o Ladrão de Casaca, como o chefe de Lady Mostarda, o líder dos Guardiões de Veneza, descobre no final.

Nesse final, com a expressão “sursum corda”, Marco Gervásio faz mais uma referência ao Superpato, pois essas palavras também aparecem na história Paperinik e la scuola del krimen de Guido Martina, publicada em Topolino 835 de 1971. No Brasil saiu como Superpato, O Intrépido Vingador em Tio Patinhas 158, de 1978. Mais uma bela trama de reviravoltas e mistérios, bem ao gosto do quadrinista italiano.

Fantomius do Egito

Trama publicada em Topolino 3142 de 10 de fevereiro de 2016, e aqui em Tio Patinhas 614, de agosto de 2016. É importante ressaltar que antes desta saiu na Itália, em Topolino 3139, Il tesoro di Francis Drake, traduzida como O tesouro de Francis Drake em Tio Patinhas 620. Essa foi a única inversão de publicação em relação à ordem original em que saíram as histórias na Itália de toda a série de Fantomius até agora.


A história começa com novo flashback, onde os pais de John Quackett, em 1916, comentam preocupados o desaparecimento de seu filho mais velho, Henry. Depois seguimos para 1922 no Cairo, Egito, onde John e Dolly seguem as pistas descobertas em A Maldição do Faraó, comentada na Parte 3 deste especial.

As indicações do mapa indicam que a mina de prata que buscam está em Blad-El-Khouf, no Deserto do Saara, mas os patos encontram dificuldade para achar um guia que os leve. Finalmente eles conhecem El-Duck, que aceita a missão. O grupo se separa durante uma tempestade de areia, e já com seus uniformes Fantomius e Dolly Páprika são capturados por bandidos e levados a seu chefe que, sem surpresas, é El Duck. Eles acabam se entendendo e o árabe fala que dois patos europeus foram os últimos a entrar em Blad-El-Khouf. Diante da descrição de um deles, mais a mochila que El Duck guardou, John tem a certeza de que se trata de seu irmão Henry. Na mochila Fantomius encontra um caderno, no qual seu irmão desenhou os lugares que visitou, incluindo a misteriosa cidade perdida do deserto.

O casal de patos segue para a mina de prata e consegue encontrá-la, e por meio de um incidente encontram a misteriosa localidade de Antinea, mas que na verdade é Atlântida!

Cidades perdidas no continente africano não são novidade. Mesmo no recente sucesso de bilheteria Pantera Negra se faz a comparação entre Eldorado e Wakanda. E a teoria de que a Atlântida estaria no Saara foi realimentada com recentes notícias publicadas em vários sites, incluindo até a National Geographic. Tudo ainda muito hipotético, como não poderia deixar de ser.

A história foi inspirada no filme Totò Sceicco de 1950, e que recebeu o título de O Filho do Sheik no Brasil. Nele o personagem Antonio Sapore, depois de uma série de peripécias, também é levado para a subterrânea Atlântida no deserto do Saara, onde conhece a rainha Antinea. Retornando à trama de Marco Gervásio, este é na verdade o nome da soberana de Atlântida, por quem Henry Quackett se apaixonou. O irmão não reconhece Fantomius, e os patos mascarados vão para a prisão.

Mas nenhuma prisão detém o Ladrão de Casaca, e eles fogem para reencontrar Henry, e John se revela. O irmão mais velho comenta que seu companheiro de viagem que foi capturado junto com ele, o escritor Paterre Penoit, conseguiu fugir e escreveu sobre a Atlântida em um romance. Aqui vemos uma nova referência, pois o filme mencionado acima foi inspirado no livro Atlântida de Pierre Benoît.

São brilhantes as referências que Marco Gervásio consegue inserir em todas as suas histórias!


Por sinal, talvez tenhamos mais uma no final. No aeroporto Dolly e John se despedem de El Duck após assinalarem que ele mantém a liderança de Atlântida informada sobre tudo que acontece, pois eles conheciam fatos recentes sobre o mundo exterior. E o figurino de nossos heróis, embora partam do Cairo, é bastante parecido com o de Ingrid Bergman e Humphrey Bogart em Casablanca, de 1942! O que acham?


Nos dois quadrinhos finais da penúltima página, e em toda a página final dessa aventura, alguém muito conhecido retorna em total segredo a Patópolis. Mas só vamos dizer quem é na próxima parte deste especial!

Aproveito e convido os leitores a conferir Ducktales: O Implacável Vingador, uma fanfiction que é o roteiro de um possível episódio que introduza o Superpato na atual animação da Disney. Que, por sinal, já se encontra em sua segunda temporada no exterior. Espero que gostem e comentem!

Até a próxima!

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