O Ladrão e o Milionário
Os leitores devem se lembrar como, nas partes 4 e 5, mostramos pistas da chegada de um personagem a Patópolis, insinuando que ele teria uma participação fundamental em uma futura história de Fantomius. Pois chegou o momento, e já pela capa que publicamos abaixo, já não restarão dúvidas!
Essa história sensacional foi publicada em Topolino 3145 de 2 de março de 2016, e no Brasil em Tio Patinhas 615, de setembro de 2016. Ao longo de várias das tramas o autor Marco Gervásio forneceu pistas de que esse histórico encontro iria acontecer, mostrando a Caixa-Forte no Morro Matamotor ao fundo nos cenários que elaborava (dentro desta série aludi diversas vezes ao “prédio mais famoso de Patópolis”, podem conferir!), e mais recentemente nas histórias O Tesouro do Doge e Fantomius do Egito. Agora posso revelar que nos últimos quadros desta história aparece o próprio Tio Patinhas, naturalmente bem mais jovem.
A história começa a bordo de um transatlântico cruzando o oceano em uma noite em 1912, e nosso milionário preferido refuta uma oferta pelo famoso rubi listrado. A gema atrai a cobiça de outro personagem, que Patinhas confunde com Mestre Pardal, inventor com quem viveu aventuras nos Estados Unidos e no Oceano Pacífico. Contudo o personagem se apresenta como Cartésio, tio do amigo do milionário e também inventor. Na conversa, Cartésio se coloca a disposição de Patinhas, e de graça.
Dez anos depois, Cartésio visita a Vila Rosa, e não deixa nem por um instante de provocar o irmão Copérnico e John Quackett. Ele menciona o retorno de Patinhas à cidade em total segredo, e seu trabalho na instalação de dispositivos de segurança na Caixa-Forte. Copérnico narra como Cartésio sempre competiu com ele, causando inclusive sua expulsão nos tempos de universidade. Então Copérnico e John, juntamente com Dolly, decidem aplicar uma lição ao salafrário.
Na Caixa-Forte Dolly ocupa o lugar de Dona Cotinha, eterna secretária de Patinhas, e obtém informações sobre o edifício. Naquela noite chega Fantomius com uma asa delta, penetrando sem dificuldade no depósito e como sua namorada se maravilhando diante da gigantesca piscina de moedas. Mas a porta se fecha prendendo nosso ladrão, enquanto Cartésio aproveita para roubar o rubi listrado e fugir com a asa delta.
Fantomius, prevenido por Copérnico que viu detalhes estranhos nas fotos obtidas por Dolly, consegue fugir do depósito. Ao lado do inventor e a bordo de sua bicicleta voadora eles seguem Cartésio até o Castelo das Três Torres, local do laboratório secreto do irmão do mal. Eles se confrontam mas Cartésio foge na bicicleta, porém Copérnico, sendo mais inteligente, consegue derrotar o irmão.
Fantomius devolve o rubi listrado a Patinhas, pois como ladrão honrado não ficará com um item que ele próprio não roubou. Em um filme com som (mais uma invenção de Copérnico, anos antes da criação desse recurso) diz a Patinhas que não invadirá o depósito enquanto este for administrado por suas irmãs Matilda e Hortência. Porém, quando o magnata retornar em definitivo Fantomius promete roubar até seu colchão.
Patinhas retornaria a Patópolis somente uma década depois, e nesse ponto John Quackett já teria aposentado a máscara de Fantomius. Naquela noite, em casa, John fecha o Diário de Fantomious após sugerir ao leitor deste que, caso ele não possa cumprir a promessa, seu sucessor o faça.
É evidente que esta última é uma claríssima referência a O Diabólico Vingador, a história na qual Donald encontra o Diário de Fantomius e se torna o Superpato! Já as demais referências ao longo de O Ladrão e o Milionário, e que comentei de passagem neste texto, são claras. Marco Gervásio simplesmente prestou uma linda homenagem a monumental A Saga do Tio Patinhas de Don Rosa, reconhecida mundialmente como uma das mais humanas, dramáticas e sensacionais histórias Disney de todos os tempos! De fato esta trama se encaixa perfeitamente dentro do capítulo 11 da Saga, A Construção do Império em Calisota.
Resumidamente, Patinhas leva as irmãs Matilda e Hortência em uma de suas aventuras, porém diante de seus métodos questionáveis elas retornam para Patópolis. A caminho da reconciliação com elas o milionário vai viajando pelo mundo fazendo negócios por anos a fio, mandando todo o dinheiro para a Caixa-Forte. O mesmo transatlântico visto em O Ladrão e o Milionário aparece aqui (e não, não vou dizer qual é, somente que é muito famoso), então podemos dizer que a trama de Marco Gervásio se encaixa perfeitamente dentro desta de Don Rosa. O capítulo 11 da Saga, aliás, termina com o retorno definitivo de Patinhas a Patópolis, mas quem leu a Saga sabe o sabor amargo deste trecho...
Tema para uma resenha que estamos escrevendo para o Corujice Literária, aliás! Essa história, portanto, faz de Tio Patinhas 615 uma das edições mais especiais de todos os tempos, obrigatória em qualquer coleção!
O Tesouro de Francis Drake
Como comentamos na parte 5, esta trama saiu na Itália em Topolino 3139, de 20 de janeiro de 2016, antes portanto que Fantomius do Egito. Seria publicada no Brasil somente em Tio Patinhas 620, no único caso de inversão em relação a ordem original de toda a série.
A trama aborda muitos elementos criados pelo Homem dos Patos Carl Barks, principalmente com relação ao Duque Doido, Richard Quackett, antepassado de John Quackett. O Duque teve participação importante na fundação de Patópolis, depois de chegar aos futuros Estados Unidos no século XVI. A trama começa em 1585 em Nova Albion (primeiro nome de Patópolis) quando da chegada do navio do corsãrio Francis Drake.
Em sua fortaleza, Richard Quackett recebe a notícia da chegada do pirata pelo amigo, o nobre Malasorte, a quem presenteia com um autorretrato. Em 1922, na Vila Rosa, uma jovem bate à porta pedindo ajuda, dizendo que foi sequestrada e deixada ali. John e Dolly chamam a polícia, e descobrem que a moça é modelo e usava um vestido cravejado de pedras preciosas. A moça ainda reconhece o retrato do Duque Doido na sala, mas John afirma ao Comissário Pinko que é uma cópia que lhe foi dada pelo Conde de Malasorte, descendente do amigo de Richard Quackett.
Na casa de Malasorte a modelo reconhece a sala em que foi mantida cativa, e Pinko prende o Conde. Porém John compara o tempo em que a moça afirma que durou o trajeto de seu cativeiro até Vila Rosa, e confirma que é muito menor que a demora até chegarem de sua residência até a de Malasorte.
O tempo confere comente no caso de a jovem ter sido mantida no antigo castelo de Richard Quackett, mais próximo de Vila Rosa. Ali Fantomius e Dolly Páprika descobre uma sala idêntica a da mansão de Malasorte, além do diário de Francis Drake. O corsário descreve como, ao voltar para casa, descobriu que parte do ouro saqueado estava faltando, e deduziu que o responsável fora Richard Quackett.
O Duque Doido usou parte de seu furto para construir o castelo, e o restante doou para as pessoas necessitadas da região. Ou seja, foi o primeiro Ladrão de Casaca!
Retornando à mansão de Malasorte, eles descobrem pistas no retrato original de Richard, e uma frase em latim: “ars est celare artem”, ou arte é esconder a arte. Fantomius observa que o castelo atrás de Richard não é o dele, mas sim o Castelo das Três Torres. Nesse momento Howard Drake, descendente do pirata, aparece e os rende, afirmando que seu plano era reaver o ouro roubado do corsário e se vingar de Malasorte e de Quackett, embora esta última parte não tenha dado certo, com o roubo dos diamantes e a libertação da modelo em Vila Rosa.
Howard ruma para o castelo, mas Fantomius diz a Dolly que foi um estratagema pois desconfiava que eram vigiados. O ouro na verdade está no quadro, e como último golpe nosso ladrão liga para o Comissário Pinko e entrega Howard Drake. Como cavalheiro que é, Fantomius deixa parte do ouro para o amigo Malasorte, cuja família vinha enfrentando dificuldades financeiras. No epílogo, após a prisão de Howard, vemos que este na verdade era um peão de Cartésio Pardal. Assim esta história se passa logo antes de O Ladrão e o Milionário!
Dolly Páprika
Faltava contar a origem de outra personagem absolutamente essencial nas aventuras de Fantomius, e esta é Dolly, sua eterna amada. Essa outra excelente história saiu na Topolino 3194, de 8 de fevereiro de 2017, e em Tio Patinhas 624, de junho de 2017. E se as histórias anteriores variavam entre 24 e 26 páginas, esta tem 41, por motivos mais que justificados!
É 1913 em Patópolis, e Dolly e sua melhor amiga, Lucrécia, conversam e brincam enquanto provam as fantasias que usarão na festa daquela noite. Dolly se revela entediada com os nobres chatos e a amiga, brincando de adivinhação, diz que ela encontrará o pato especial que procura sob a máscara de Fantomius. Dolly diz que o Ladrão de Casaca é uma invenção da polícia para justificar seus fracassos, e a contragosto segue para a aula de balé. A professora a repreende pelo atraso e falta de disciplina, dizendo que deveria seguir o exemplo de Margareth, sua irmã. Descobrimos em seguida que a professora é Samantha, mãe de Dolly.
Na festa nossa futura heroína se entedia, e ao lado de Lucrécia vai até a varanda. A amiga a adverte contra o tipo estranho ali presente, mas Dolly fica, e nesse momento conhece John Quackett. Dolly diz que a máscara é obrigatória na festa, e John responde que aquela é sua máscara (temos aí uma menção a outro Cavaleiro das Trevas, talvez?). A conversa dura pouco, pois conforme Dolly diz seus carcereiros vieram apanhá-la. John responde que se verão de novo, afinal estão na mesma prisão.
Sete anos depois estamos em outra festa na mansão da Condessa de Snob (lembram da parte 1 deste especial?) e Lucrécia questiona Dolly por ainda procurar seu pato especial. Ao subir para tomar ar esta escuta barulho em um cômodo, e movida pela curiosidade abre a porta. Em meio à fraca luminosidade Dolly se vê diante de uma figura de capa esvoaçante, a capa de Fantomius!
O Ladrão de Casaca assegura que nada fará contra a dama, e diz que a Condessa sequer sentirá falta das jóias que ele acaba de roubar. Mas as gemas farão muita diferença na vida das pessoas pobres que as receberão, descontada, claro, a parte de nosso herói. Fantomius fala de seu desprezo pelos esnobes da nobreza, que castiga com seus furtos, e Dolly confirma que sente o mesmo. Ela pergunta se irão se ver de novo, e o ladrão responde que sim, pois estão na mesma prisão. Depois ele se vai.
Nas semanas seguintes os jornais continuam a falar das façanhas de Fantomius, e entre as notícias lemos também que nasceram os gêmeos de Hortência Macpatinhas. Dolly lê o jornal certa manhã ainda pensando em Fantomius, e descarta um convite do financista Desquack para um jantar. Nesse momento chega Lucrécia, que chorando revela que perdeu a Raposa Vermelha, jóia de família dada como garantia de um empréstimo. Como não conseguiu pagar a tempo o agiota, o já mencionado Desquack, ficou com ela. Dolly então decide aceitar o convite do financista, e assim termina a primeira parte.
Naquela noite, no Castelo de Duckermensil, residência de Desquack, Dolly e John se rencontram, e ela fica revoltada ao ver que o agiota mantém a Raposa Vermelha sob uma cúpula de vidro. Diante das riquezas expostas o nome de Fantomius surge, e Desquack assegura que o Ladrão de Casaca nunca conseguiria realizar aquele roubo. O agiota fala de um túnel subterrâneo não descoberto sob o castelo, e é novamente mencionado o Duque Doido, Richard Quackett, que visitou a propriedade.
De madrugada Fantomius invade o castelo pela passagem secreta, mas descobre que a Raposa Vermelha foi levada e ouve passos. Ele se esconde, mas é descoberto... por Dolly Pata! Nossa aristocrata preferida alude à fala dele, que por duas vezes disse que estão na mesma prisão, e diz que estão com problema já que o ladrão também quer a jóia. Mas Fantomius diz que a roubaria para dá-la a ela, e Dolly agradece e explica que se escondeu quando todos saíram, aguardando a vinda do Ladrão de Casaca para escapar.
Diante da pista dada pelo próprio Desquack, John descobriu a entrada do túnel sob o castelo, dando precisamente na passagem secreta da biblioteca onde estão. Os dois fogem pelo túnel, e o cavalheiro oferece sua capa para proteger a dama do frio do lugar. Eles trocam seu primeiro beijo, e John convida Dolly para ser sua parceira.
Copérnico os aguarda de carro na saída do túnel, e entrega como o amigo falava muito da garota, sentindo-se atraído por ela. Rumo a Patópolis eles discutem o nome de guerra de Dolly, que quer algo ligado à jóia que os uniu, e John sugere algo inspirado no temperamento picante da amada. Noites depois Lucrécia recebe a visita de uma estranha figura escarlate, que lhe devolve a Raposa Vermelha, e diz que seu nome é Dolly Páprika!
Uma excelente história de origem, destacando sempre como Dolly Pata é uma garota muito a frente de seu tempo, decidida quanto ao que quer e inconformada com o papel subalterno que a sociedade da época lhe imputava. Além disso os anos de treinamento em balé moldaram seu físico e suas habilidades, tornando Dolly a parceira ideal para Fantomius, em aventuras sempre recheadas de muito romance.
Na próxima parte, apresentaremos as três últimas histórias de Fantomius publicadas pela Abril. Como já sabemos que a editora Culturama irá publicar somente histórias inéditas a partir de março, é de se esperar que mais três histórias produzidas por Marco Gervásio, ainda inéditas, possam em breve ser lidas em português. Falaremos delas em breve!
Não esqueçam de conferir Ducktales: O Implacável Vingador, roteiro de um possível episódio da série animada que introduz o Superpato nesse universo, clicando aqui!
Até a próxima!
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