Os
gatinhos corriam pelo mato em desabalada carreira. O assassino de sua mãe vinha
logo atrás, rosnando e resfolegando.
Maria
era por alguns minutos a mais velha de seus cinco irmãos. Todos haviam
completado dois meses, e ainda mamavam. Agora, sem a mãe, e correndo cada vez
para mais longe de sua casa, sua sobrevivência dependeria exclusivamente da
sorte.
A
gatinha na verdade não refletiu muito tempo sobre isso. Em pânico como seus
irmãos, só o que importava naqueles momentos de terror era salvar a própria
vida.
E
seu perseguidor se aproximava cada vez mais...
Um
súbito clarão que iluminou toda a área fez todos os gatinhos pararem, e
buscarem um lugar seguro. Maria escondeu-se com dois de seus irmãos, enquanto
os outros dois enfiavam-se por baixo de uma moita próxima. Felizmente, ali o
mato era bem mais alto, cheio de lugares para se esconderem.
Maria
percebeu quando o imenso cachorro parou ao ver o clarão, afastando-se um pouco
em seguida, ganindo baixinho. Mas ela não tinha ilusões, sabia que ele voltaria
para tentar pegá-los.
Pegá-los
como fizera com sua mãe. A pequena gatinha sentia-se triste, pois não teria
mais o calor materno, nem seu quente leite que a alimentava tão bem. Não era
justo!
Esses
sentimentos abandonaram sua jovem mente, quando uma sombra grande veio andando
em sua direção. Era vagamente semelhante aos humanos que já conhecia, mas havia
algo errado. Seus braços, pernas e cabeça eram diferentes, as proporções dos
mesmos não eram de um humano normal. E definitivamente nenhum humano seria tão
magro.
Maria
viu a sombra aproximando-se cada vez mais. As folhas que a cobriam foram
afastadas, e a gatinha olhou para dentro de imensos olhos negros, mais escuros
que a noite que os envolvia.
Algo
aconteceu a seguir, enquanto ela sentia uma onda infinita de carinho e amor. A
sombra que via diante de si encolheu com uma rapidez espantosa, até ficar não
maior que sua própria sombra. Maria decidiu sair de seu esconderijo e
investigar, enquanto seus irmãos ainda se escondiam, temerosos.
Ela
era a mais velha, e agora tinha que cuidar da família.
Sua
surpresa chegou ao infinito ao ouvir um miado, idêntico aos que ela e seus
irmãos soltavam frequentemente.
Outro
gatinho surgiu, quase idêntico a todos eles. Maria aproximou-se devagar, preparada
para tudo, farejando e por vezes sibilando. Se fosse outro agressor, ao menos
dessa vez ela confiava que poderia encará-lo. Ser do seu tamanho ajudava em
muito.
Voltou
a sentir a onda de carinho, que inundou todo seu ser. Aparentemente também o de
seus irmãos, pois todos aproximaram-se do recém-chegado. Ele foi farejado
longamente por todos, e logo era aceito como parte da família, ao se esfregarem
mutuamente, ronronando de satisfação.
Algo
disse a Maria que o nome de seu novo irmão era Zed. Por que o sabia, não
conseguiria explicar. Na verdade, a gatinha estava muito satisfeita por ter
mais um irmão, mais um que ajudaria a defender o grupo.
Nesse
exato momento, ouviram um rosnado por trás deles.
Era
o cachorrão, o mesmo monstro que assassinara cruelmente sua mãe. A fraca luz da
Lua em quarto crescente, os gatinhos olharam aterrorizados para os olhos
faiscantes, e os dentes que breve, certamente, iriam destroçá-los
impiedosamente.
Todos
se encolheram, menos aquele recém-chegado. Zed encarou o cachorro com ar de
paciência, parecendo em sua muda linguagem, estar tentando fazê-lo desistir de
seus planos de trucidar aquela família.
O
cachorrão continuou rosnando, aproximando-se devagar. Quando mais próximo, mais
forte o rosnado. Maria manteve-se a frente dos irmãos, tentando ao máximo
protegê-los. Afastaram-se o quanto puderam, e ela via apenas as sombras de Zed
e do cão.
O
que seu novo irmão estava fazendo?
O
cachorro passou a latir, e finalmente atacou, soltando um rosnado que arrepiou
os pêlos de todos eles. Zed não poderia ter qualquer chance.
O
rapidíssimo movimento das sombras que Maria viu não lhe permitiu acompanhar
direito a cena. Mas os ruídos medonhos que escutou provaram que alguma coisa
espantosa estava acontecendo. Pois o cachorrão, aquele monstro temível que os
aterrorizara, de repente soltou um ganido, logo substituído por uivos de
desespero. Estes, por sua vez, logo deram lugar a urros de dor, uma dor
horrenda, indescritível...
O
mais arrepiante para Maria foi ouvir ruídos de mastigação, carne sendo
dilacerada, ossos sendo quebrados... Em instantes, tudo passou, e os arredores
voltaram a mergulhar no silêncio.
Maria
viu a sombra de Zed, e percebeu quando ele voltou a fechar uma boca
estranhamente imensa, muito maior do que se poderia esperar de um gatinho de
seu tamanho. Ela também ouviu quando ele emitiu alguns sons borbulhantes, como
se vomitasse algo.
Zed
por fim aproximou-se deles, sentou-se, e lambeu os pêlos sujos de sangue das
patas. Maria aproximou-se dele, cheirou-o, e percebeu que não estava ferido.
Ele ainda soltou um soluço, e cuspiu um grande objeto circular de couro, com
uma fivela de metal.
Como
esse objeto fora parar dentro de Zed, Maria também não sabia. Só o que sabia
era que, milagrosamente, estavam a salvo. Ronronou, esfregando-se em Zed, e
finalmente ambos conduziram seus ainda trêmulos irmãos para longe dali.
A
difícil e perigosa viagem de volta para casa havia começado.
Na
manhã seguinte, o sítio nas proximidades da periferia de Campinas estava bem
movimentado. Era aniversário da esposa do dono, e um churrasco estava sendo
preparado. Mas nem tudo era festa.
Fernanda
não havia parado de chorar, desde que dera pela falta da gata e dos filhotes. E
tudo piorou ainda mais, ao encontrarem o corpo dilacerado da mesma. Dos
pequenos, nenhum sinal.
Quem
não estava envolvido na preparação do churrasco encarregou-se de dar buscas na
propriedade, ver se encontrava os gatinhos. Já passava de onze da manhã, e
nada.
Leonardo
Ramos havia chegado, pedindo desculpas por haver se atrasado. Cumprimentou o
tio e a tia aniversariante, e explicou que seu telefone não havia parado a
manhã inteira:
-
Muita gente viu um objeto brilhante no céu, exatamente aqui pela região. Pode
se outro caso de ovni.
-
Quando é que você vai abandonar essas lorotas, rapaz, isso não existe!
Seu
tio sempre fora cético, só acreditava em coisas que pudesse ver e tocar. A tia,
com a mente menos fechada, gostava muito de ouvir e contar histórias, ligadas a
folclore, misticismo, e casos estranhos.
A
prima, Fernada, veio e abraçou Leonardo. Ainda tinha os olhos vermelhos, e
explicou o que havia acontecido. O tio, fazendo piada, disse:
-
Vai ver, esse tal de disco voador que você falou raptou os gatinhos...
A
menina, que fizera treze anos havia pouco, brigou com o pai e saiu andando.
Leonardo disse que o tio não tinha jeito, e foi atrás da prima, dizendo que
iria ajudá-la. E ainda completou:
-
Daqui a pouco Kássia chega com o namorado, eles podem ajudar também.
Zed
conduziu o grupo pelo mato alto com grande segurança. Maria não sabia em que
direção estavam indo, mas confiava que o amigo iria levá-los para casa.
Por
volta do meio dia, estavam todos com fome, e enquanto Maria ficava com os
irmãos, Zed foi caçar. Voltou minutos depois, trazendo dois peixes que havia
pego no riacho próximo. Saiu novamente, e voltou com mais dois. Maria não se
preocupou em refletir como um gato tão pequeno como Zed, do mesmo tamanho que
todos eles, poderia pegar peixes tão grandes.
Todos
comeram, e ainda ficaram um bom tempo ali descansando. A viagem poderia ser bem
longa, e valia a pena perder um pouco de tempo.
Kássia,
irmã de Leonardo, chegou por volta do meio dia com Roberto Azevedo. Desde que
se conheceram, enquanto pesquisavam um estranho caso ufológico na região de
Jarinu, eles sempre se falavam, e haviam afinal começado um namoro.
Assim
que chegaram, foram informados dos acontecimentos por Leonardo:
-
E enquanto preparam o churrasco, estamos tentando encontrar os gatos, mas sem
sucesso. Encontramos uma pista, em um terreno próximo ao limite da propriedade,
e...
O
casal estranhou que Leonardo parasse de falar de repente, e Roberto, por fim,
perguntou:
-
E o que mais, Leonardo?
Sem
dizer nada, ele apenas fez sinal para que o acompanhassem. Seguiram por uma
trilha até a cerca que delimitava a propriedade, onde havia uma porteira.
Depois de a atravessarem, ainda andaram uns cinco minutos, e de longe viram um
pequeno grupo de pessoas, colonos e funcionários daquele e de outros sítios,
reunidos em uma roda. Todos olhavam algo estranho no chão.
Quando
chegaram perto, já sentiram um cheiro esquisito. Roberto aproximou-se mais,
protegendo o nariz daquele fedor, e observou o que haviam encontrado.
Era
um amontoado de carne, ossos esmigalhados, sangue e outros materiais, obviamente
de origem animal. Um objeto nas proximidades era inconfundível, e parecia
denunciar que tipo de bicho era aquele.
Roberto
apanhou um graveto, erguendo a coleira, enquanto dizia:
-
Acho que pegaram o cachorro de alguém.
-
Mas o que é essa... coisa, essa baba toda? Eca, que coisa nojenta!
Leonardo
riu da observação da irmã, aproximando-se para também examinar o achado. Foi
quando outras pessoas se aproximaram, e ele logo as reconheceu:
-
São do sítio aqui ao lado, meu tio odeia o proprietário, vivem brigando.
Como
que para confirmar isso, o sujeito mal encarado que vinha na frente, vendo o
que Roberto sustentava pendurado no graveto, agarrou a coleira e disse:
-
O que vocês estão fazendo aqui? Essa é a coleira do meu cachorro, o que é
que...
Apenas
então viu os restos, olhou para a coleira em sua mão, e a jogou no chão com
asco. Roberto sorriu com leve ironia, voltou a erguer a coleira com o graveto,
e disse:
-
Reconhece isto, senhor...
-
Meu nome é Osvaldo. Sim, é a coleira do meu cachorro. Esse monte de... coisa,
aqui, não está querendo me dizer...
Roberto
deixou a coleira cair ao chão, jogou o graveto longe, olhou para os amigos, a
seguir para Osvaldo, e respondeu:
-
Acho que isso é o que restou de seu cão, senhor...
O
homem vociferou, ameaçou, xingou, mas Leonardo devolveu a ofensa, dizendo:
-
Acho que sabemos quem matou a gata de minha prima, ela foi praticamente
mastigada, e sei que esse seu cachorro vivia invadindo a propriedade de meu
tio!
-
Eu sempre falei para ele reforçar essa cerca, mas não, sempre tem que ser como
ele quer!
-
E o senhor não facilita em nada também, disse Kássia. Não é a primeira vez que
acontece, seus cachorros vivem invadindo aqui e matando a criação de meu tio! E
agora ele espantou os filhotes da gata, não sei como faremos para encontrá-los.
Osvaldo
chamou os funcionários que o acompanhavam, se afastando. Parou, virou-se e
ainda disse:
-
Se encontrar essas pragas em minha propriedade, eu mesmo os esfolo, estejam
avisados. E vocês também, nem tentem entrar em minhas terras!
Depois
que haviam se afastado, Roberto comentou:
-
Que panaca!
Todos
riram, e o funcionário de outro sítio vizinho comentou:
-
Ele anda bravo, ainda mais depois que perdeu a criação de galinhas faz uns dois
meses.
Os
ufólogos ficaram interessados, e o homem disse que houve mortes estranhas de
animais nos sítios da região. Alguns falavam em cachorros do mato, outros em
criaturas estranhas.
-
Andaram dizendo que até o tal de chupacabras tem atacado por estas bandas...
Eles
se entreolharam, sem encontrar uma explicação. Leonardo e Kássia dispunham-se a
continuar a procura, e Roberto, diante do que o amigo dissera, sobre o
avistamento da noite anterior, começou a ligar os pontos.
Acabaram
todos sendo chamados para o churrasco, e assim ficaram, saboreando muitas
variedades de carne até o final da tarde. O sítio estava lotado, e todos bebiam
e se divertiam.
-
O que acha dessa história de chupacabras?
Leonardo
fizera a pergunta, e depois de mais um pedaço do delicioso bolo que era parte
da sobremesa, Roberto respondeu:
-
A maioria absoluta dos casos é de animais nativos, predadores naturais. Até
mesmo cachorros abandonados viram feras.
-
E aqui na região, será que algum caso pode ser exceção?
Roberto
limpou os lábios da namorada, ganhando um beijo em retribuição, e disse:
-
Duvido. O cercado onde seu tio mantém os animais, por exemplo, não seria
problema para um cachorro faminto. Agora, quando animais aparecem mortos dentro
de um cercado, onde existe uma porta mais elaborada... Aí fica mais complicado.
Mantiveram
aquele papo por algum tempo, até que Fernanda veio correndo, desta vez
acompanhada pela irmã Paola, dois anos mais velha, e disse:
-
Disseram que viram seis gatinhos andando pelo acostamento da estrada, não muito
longe daqui!
-
Seis? Mas eram cinco filhotes, não, Fernanda?
Ela
olhou para Kássia, que fizera a pergunta, ergueu os ombros, e respondeu:
-
É meio estranho, outro grupo de gatinhos perdidos, não acham?
Roberto
voltou, depois de colocar o prato de sobremesa na mesa, e por fim disse:
-
Já que terminamos de comer, o que acham de pegarmos o carro e irmos investigar?
O
tio de Kássia e Leonardo ainda apareceu, e fez outras piadas sobre o assunto
ovni, mas acabou deixando que as meninas fossem com eles.
A
noite já ia caindo, e os seis gatinhos continuavam andando. Maria estava
cansada, e sabia que seus irmãos também deveriam se sentir assim.
Por
outro lado, Zed os conduzia com segurança, e parecia nunca ficar cansado.
Quando paravam para recuperar as forças, era ele que sempre ficava de guarda.
Chegaram
finalmente a uma vila, na entrada da cidade. Continuaram andando,
esgueirando-se pelas ruelas, encontrando aqui e ali pessoas, indo e vindo do
trabalho, ou de qualquer outro lugar. Maria achava aqueles humanos muito
estranhos.
Só
não se sentia assim com sua dona. Fernanda sempre cuidara deles com carinho, e
subitamente a gata percebeu que era a única mãe que lhes havia restado.
-
Olha só, que gatinhos lindos, vem, vem...
Todos
olharam na direção de onde vinha a voz. Maria, com horror, viu que eram três ou
quatro moleques, que apanharam pedras e começaram a atirar neles. Todos
correram, com Zed fechando a fila para assegurar que nenhum ficaria para trás.
Correram
muito, o máximo que suas forças permitiam, quando chegaram em um beco sem
saída. O medo não lhes permitira ver onde estavam indo.
Maria
olhou para trás, e viu os moleques. Um deles apanhou um estilingue, colocou uma
pedra no mesmo, e puxou o elástico até o máximo de seu curso, enquanto dizia:
-
Agora vamos nos divertir...
O
maldito mirou em dois de seus irmãos, que estavam encolhidos em um canto. Maria
sentiu uma infinita raiva, e eriçou os pêlos, sibilando para tentar espantar os
moleques. Um outro entre eles comentou, rindo:
-
Me passa aquela pedra, acho que essa gatinha tem que aprender uma lição...
A
pedra finalmente deixou o estilingue, voando com uma velocidade tremenda na
direção dos dois indefesos gatinhos.
Foi
quando algo extraordinário aconteceu. A pedra bateu em uma barreira invisível.
Os moleques lançaram outras pedras, mas a mesma coisa aconteceu.
-
“Troço” esquisito!
-
O que “tá” acontecendo?
-
É coisa ruim, meu, “vamo” embora!
-
Não mesmo, vou acabar com eles!
O
que falou por último pegou um pedaço de pau, avançando em seguida contra os
gatinhos. E Maria viu outra coisa extraordinária.
Zed
avançou, urrando de uma forma como nunca a gata julgaria possível em um gato
igual a ela.
O
mais aterrorizante foi sua boca, aberta e imensa, quase maior que o próprio
corpo dele. E, pensando bem naqueles rapidíssimos instantes, todo o corpo de
Zed parecia pulsar e aumentar de tamanho.
De
qualquer forma, foi mais que suficiente. Ele não machucou os atacantes, que
saíram em disparada, gritando apavorados. Quase no mesmo instante, Zed voltou
ao normal.
Logo
estavam sozinhos e em paz novamente.
Os
demais acariciaram e lamberam Zed, e Maria finalmente conseguiu fazê-lo
entender que queriam ir para casa. Ali, na cidade, só o que encontrariam era
mais perigos.
Zed
pareceu concordar, e uma luz intensa surgiu sobre eles. Maria e seus irmãos
olharam para a mesma com expressão de assombro, mas por algum motivo sabiam que
não havia perigo. Sentiram-se flutuar, e depois descobriam que pisavam chão
firme novamente.
Roberto
conduziu o carro pela estrada, parando aqui e ali para perguntar a algum
andarilho se tinha visto os gatinhos. Com exceção de um, mais ninguém os havia
visto.
-
Pela direção que estamos seguindo, eles já podem ter chegado a cidade, comentou
Kássia.
Concordaram,
e Roberto acelerou. Leonardo, no banco de trás, conversava com as meninas para
tentar animá-las, e casualmente olhando pela janela, observou algo estranho no
céu:
-
Olhem lá, gente!
Todos
viram um ponto de luz se erguer, aproximadamente sobre a vila para onde estavam
indo, quase e Campinas. A luz ergueu-se lentamente, para a seguir passar a
deslocar-se na horizontal, aumentando a velocidade. Depois deu um salto,
desaparecendo em instantes por trás dos morros, na mesma direção do sítio de
onde haviam vindo.
Todos
ficaram espantados, e Roberto acelerou. Talvez houvessem testemunhas adiante.
Chegaram
a vila, indagando aqui e ali se alguém havia visto um grupo de gatinhos. Uma
senhora disse que havia visto uns moleques perseguindo alguns filhotes, e
acrescentou:
-
Essa molecada é muito “arteira”. Mereciam uma bela sova!
Agradeceram,
e foram adiante. As meninas nada falavam, com medo do que pudesse acontecer aos
filhotes.
Finalmente,
chegaram a uma praça, onde havia um grande número de pessoas. Algumas olhando
para o céu, outras conversando animadamente.
Kássia
ficou com Fernanda e Paola, enquanto Leonardo e Roberto iam sondar o ambiente.
Para surpresa dos ufólogos, todos falavam exatamente na estranha aparição.
-
Uma luz brilhante, que saiu “avoando” prá longe!
-
Deve ser coisa do capeta!
-
Que nada! É uma sonda, um aparelho dos ets.
-
Você “tá” delirando!
Com
jeito, os dois fizeram, aqui e ali, algumas perguntas, e parecia mesmo ser um
caso interessante para ser pesquisado. Entretanto, tinham pressa, e a
prioridade ainda eram os gatos.
-
Eu “tava” lá, moço, com os outros que queriam “tacar” pedras nos bichinhos!
Um
garoto, de uns dez anos, parecia muito assustado ao descrever a cena. Roberto
animou-o a continuar:
-
E o que aconteceu?
O
menino olhava para todos os lados, e parecia sentir frio, pois estava encolhido
e abraçava-se. Depois que Roberto repetiu a pergunta, ele respondeu:
-
Não sei como, mas um dos seis gatos avançou, abrindo uma boca enorme, inchando,
e urrando “que nem” um leão! Os olhos ficaram vermelhos, e foi a última coisa
que vi, pois saí correndo com meus amigos!
Roberto
e Leonardo se entreolharam, e fizeram mais perguntas, sempre rodeando e
voltando a determinado aspecto da narrativa, para tentar apanhar o garoto em
contradição. Mas não conseguiram, e pela expressão do mesmo, sua experiência
parecia mesmo real.
-
Eram seis gatos, então?
Leonardo
perguntou pela última vez, e o garoto confirmou, para ainda acrescentar:
-
Juro que nunca mais jogo pedras em animal nenhum! Depois dessa...
Os
ufólogos agradeceram, e se afastaram depois de falar com mais algumas pessoas.
Roberto comentou com o colega, em voz baixa:
-
Ao menos, esse aí irá se comportar melhor daqui por diante.
Leonardo
estava confuso, e comentou:
-
Muito estranho! Nunca vi um gato que fizesse o que esse garoto descreveu!
-
Será que era um gato mesmo? Ou esse sexto gatinho apenas se parece com um?
A
pergunta de Roberto ficou no ar.
Ainda
foram até o beco, e não encontraram nada. Roberto lembrou-se que havia
calibrado a bússola digital de seu relógio no mesmo dia, e a apontou para onde
sabia que era o norte.
Havia
uma diferença considerável. Mesmo descontando que a calibragem fora feita em
São Paulo, a leitura não iria variar tanto assim.
-
Efeito eletromagnético?
A
pergunta de Leonardo, lembrando um dos efeitos físicos mais comumente
associados a aparições de ovnis, tinha razão de ser. Seria mais uma,
entretanto, que ficaria sem resposta.
Decidiram
que a melhor coisa a fazer era retornar ao sítio.
Uns
vinte minutos depois, estavam de volta. E havia uma certa movimentação.
Entraram, e quando encontraram o tio de Kássia e Leonardo, este disse:
-
A coisa mais estranha que já vi! Uma luz diferente, esquisita, desceu ali atrás
do bosque! Mas não deixei ninguém ir até lá.
Evidentemente,
isso não iria impedir Roberto e Leonardo. Kássia foi com eles, e Fernanda
também, apesar dos protestos do pai.
Maria
não saberia dizer como haviam chegado ali. Seguramente não vieram andando. Mas
ela reconheceu o terreno, e sabia que estava próxima de casa.
Seus
irmãos mostraram-se animados também, andando e saltitando, esquecendo
completamente o cansaço e o medo que sentiram.
Zed
os conduziu, e finalmente, reconheceram uma clareira, que se situava em um
bosque bem próximo da casa.
Definitivamente,
era o final de sua aventura.
Subitamente,
focos de luz varreram o terreno, e Maria viu-se ofuscada quando foi iluminada
diretamente. Uma voz juvenil disse alegremente:
-
Maria! Que bom que encontrei você!
Fernanda
abraçou a gata, que também parecia muito feliz por encontrar a dona. Roberto e
o casal de irmãos aproximaram-se, e ficaram comovidos com a cena. E também
curiosos, pois um gatinho extra subitamente saiu correndo, desaparecendo no
mato alto.
-
Maria!
Fernanda
gritou quando a gata escapou de suas mãos, seguindo o outro bichinho. Todos
enfiaram-se pelo mato.
Logo
encontraram Maria, ronronando satisfeita. Olharam para cima, e ainda tiveram
tempo de ver uma luz, similar a uma estrela, fazer movimentos que pareciam
erráticos e finalmente desaparecer no céu.
Todos
os gatinhos foram levados ao veterinário. Apesar de cansados e sujos, estava
bem de saúde, sem qualquer sequela da aventura.
-
Todos vocês viram aquele sexto gato, correndo para o mato, não é?
Roberto
parecia inseguro. Kássia riu, e respondeu:
-
Claro que sim, até reparei que era igualzinho a Maria e seus irmãos.
-
Agora, essa sua teoria...
Leonardo
fazia piada, mas de fato não havia qualquer explicação para o que haviam visto.
Procuraram no dia seguinte pelas redondezas, mas não encontraram qualquer sinal
de possível atividade ufológica.
Maria
não se importava com aquilo. Todas as noites, ficava longas horas na varanda, e
depois que cresceu o suficiente, no telhado da casa, olhando as estrelas.
Sabia
que Zed voltaria um dia. Quem sabe, então, mostraria mais daquelas maravilhas a
ela.
Eles dizem que agem com absoluta transparência.
Eles dizem que é evidente que não existem conspirações.
Eles afirmam que é absurda a ideia de extraterrestres nos visitando.
Eles estão mentindo!
O contato com alienígenas é um dos temas mais explorados na ficção científica, motivando histórias plenas de fascínio, terror, suspense, ação e mistério. Esses são elementos presentes em Filhas das Estrelas, uma coletânea de seis contos inspirados por histórias, teorias e conspirações a respeito de discos voadores e seres extraterrestres.
Até a próxima!
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