O grupo de adolescentes vinha batendo à porta de todas as casas da rua, gritando o bordão “gostosuras ou travessuras”. Chegaram finalmente àquela casa antiga, com ar de mansão mal-assombrada. Vultos eram visíveis pelas janelas acesas, através das espessas cortinas. O grupo bateu na velha porta de madeira, enquanto lá dentro se ouviam vozes:
- Bob, cacete, se esconde seu zé-ruela! Eles vão reparar nesse seu cabeção se ficar parado na frente da janela!
- Joca, sua finesse intelectual me surpreende... Só falta dizer que vai atender a porta...
- Mio-o-o-lo... – disse uma voz tenebrosa.
A turma deu de ombros, confiante que haviam chegado a uma festa de Halloween, e se animaram diante do que parecia mais um saque bem sucedido. Bateram de novo e repetiram “gostosuras ou travessuras”.
O que houve a seguir foi absolutamente inesperado. Do velho lustre que pendia do pequeno telhado sobre a porta de entrada saiu um cone de luz muito brilhante, e no mesmo instante os adolescentes se viram em outro local. Assustados se agarraram uns aos outros buscando proteção, e começaram a gritar diante das três figuras que os observavam.
Joca, o lobisomem, abriu as imensas mandíbulas e abocanhou o rapaz com fantasia de esqueleto. O alienígena cinza Bob olhou os recém chegados com as mãos nos bolsos da bermuda de surfista e voltou a dirigir-se para a mesa, onde um homem nu estava preso por correias e amordaçado. Já Zé, o zumbi, disse:
- Mio-o-o-lo...
E avançou contra a namorada do jovem fantasiado de esqueleto, começando a devorá-la sem se importar com seus gritos.
Vanda, a bruxa morena vestida com um tubinho preto e botas até o joelho, ergueu o o rapaz fantasiado de zumbi com o poder de sua varinha e o jogou no caldeirão onde uma poção verde-gosma borbulhava. Já a namorada desse infeliz, que usava caninos postiços se fazendo de vampira, foi agarrada por Nicolas, vampiro que nesta noite se vestia de motoqueiro, camiseta branca e calça jeans, além da jaqueta de couro, já mandando um xaveco típico e batido:
- Olá, a menina vem muito aqui? – ao mesmo tempo em que mostrava os dentes.
Denis, o serial killer, observou por um momento os amigos ocupados em seus afazeres, e voltou em seguida a dedicar sua atenção à vítima amarrada com fita adesiva a sua mesa:
- Pois é, caro ex-ministro Horlando Silveira, suas falcatruas e as dos seus pares, que custam bilhões dos impostos que o povo sofrido é obrigado a pagar, com certeza ceifam mais vidas que eu e meus amigos aqui... Veja estas reportagens, mortos nas filas dos hospitais, favelas proliferando na imundície, crianças sem escolas... Quem são os verdadeiros monstros, nós ou os responsáveis por tais calamidades, ou seja, vocês políticos? Eu poderia perguntar o que tem a dizer a respeito, mas este não é um julgamento, e sim uma execução.
Denis observou a comprida e afiada faca, enquanto o amordaçado Horlando lutava contra as amarras, desesperado com o fim chegando. O serial killer perguntou ao gray:
- Ei, Bob, tem certeza que encerrou com este aqui?
O alienígena se aproximou, postando-se junto à ponta da mesa, e tamborilando o crânio do ex-ministro:
- Caro Denis, já estudei o cérebro deste corrupto por tanto tempo quanto minha paciência permitiu, e devo dizer que não pude tirar muitas conclusões. São incompreensíveis os motivos deste indivíduo! Diante de tantos malfeitos, por exemplo, não apenas jurava inocência, como tentava fazer parecer que eles eram, na verdade, virtudes, passos necessários para o bem do povo ao qual servia. Muito peculiar... depois “céticos” como você, Kaijiro, perguntam qual o interesse que nós alienígenas podemos ter em relação a Terra! Este fenômeno é um grande desafio para nós!
Kaijiro Matsuda lutou contra as amarras que o prendiam à mesa, mas estava agora de bruços e com um instrumento peculiar introduzido em um lugar nada confortável. Denis aproveitou para perguntar:
- Bob, em primeiro lugar, os aspas quando disse “cético” pareciam quase visíveis. Não é o caso desse aí?
- Claro que não, meu caro Denis! Nosso amigo Kaijiro Matsuda é líder de uma comunidade cujos membros dizem ser céticos, mas que na verdade não estão minimamente interessados no debate! Querem é desmentir tudo e abafar os fatos, por ego, vingança, futrica ou coisa parecida.
- Aposto que esse frosô não vai mais dizer que você não existe, né, Bob? – perguntou Joca roendo um fêmur.
- Nunca podemos subestimar a estupidez humana, caro licantropo – respondeu Bob. – Mas até por isso não apliquei a meu amigo Matsuda aqui o apagador de memória. Faço questão de que se lembre de tudo!
Kaijiro tentou berrar contra a mordaça, sem sucesso. Zé, ainda lambendo o cérebro da vítima, disse:
- Mio-o-o-lo...
- E em segundo lugar – retomou Denis – qual é a dessa sonda anal? Para que serve?
Bob deu uma risadinha, apoiou o cotovelo na mesa, e a cabeça grande e oval na mão de quatro dedos, respondendo:
- Caro Denis, vou contar um segredo: para nada! Como dizem os terráqueos, é pura sacanagem mesmo, um arremate especial de um processo de abdução para quem merece, certo, Kaijiro? Eu e meus compatriotas tivemos a idéia depois de os terráqueos começarem a criar lendas urbanas a respeito.
O falso cético tentou berrar de novo, sem sucesso. Bob completou:
- Também fiz uma sondagem bem caprichada no Horlando aqui, que pareceu gostar bastante!
Ele e Denis riram, enquanto o ex-ministro se debatia. O serial killer finalmente se posicionou, ergueu a faca, e a enterrou no coração do corrupto. O sangue logo escorreu pela mesa, começando a cair ao chão recoberto por plástico. Vanda, ainda mexendo a mistura no caldeirão, disse:
- Denis, querido, não se esqueça que preciso da cabeça, hein? Esta poção necessita de cérebro fresco de corrupto!
- Mio-o-o-lo – disse Zé.
- Ah, não dá! – reclamou Nicolas. – Garota, para sua informação, se fantasiar de vampira, mas usar uma camiseta do Justin Bieber, não funciona nem neste e nem em nenhum universo! Aí, Zé, tá a fim?
- Mio-o-o-lo – respondeu o zumbi.
- Ah, sobremesa, você fica com o mio-o-o-lo e eu com o resto, Zé – riu Joca.
Zé bateu o crânio da menina no chão como se fosse um coco, e depois sorveu a iguaria que tanto apreciava produzindo uma trilha sonora de muitos “SCHLEPT” e “SLURP”. Joca por sua vez avançou nas tripas, miúdos, e depois palitou os dentes com o antebraço da menina, enquanto perguntava para Nicolas:
- Mas e aí, ô do sanguinho, por que diacho não quis a menina?
- Já disse, cachorrão, vampira fã de Justin Bieber não dá!
- Esse Justin Biba é aquele frosô que a mina da semana passada estava ouvindo?
O vampiro fez um ar de enfado, suspirou e respondeu:
- Esse mesmo. O que passa como música hoje em dia?! Ainda lembro dos show dos Beatles em Liverpool, e do Elvis em Los Angeles. Aquilo era música! E suas fãs eram especialmente suculentas...
- Mio-o-o-lo – disse Zé lambendo os beiços.
Bob, por sua vez, acionou alguns comandos depois que parte de seus instrumentos deixou de funcionar, e apanhou a arma de raios apontando-a para uma criatura de pele escamosa, grandes olhos e garras, e que saiu correndo e rindo, dizendo com voz esganiçada:
- Gizmo, caca!
No instante seguinte o ser explodiu diante da descarga da arma de Bob, que praguejou:
- Malditos Gremlins! Por pouco não desativam a camuflagem de casa mal assombrada de minha nave!
Depois de se acalmar, Bob aciona mais alguns comandos, e uma luz se acende sobre Kaijiro. O “ceticuzinho”, como o alienígena o chama, desaparece, e ele comenta:
- Pronto, devolvido, quero ver o que ele vai escrever em seu fórum da Internet depois dessa!
- O abestado deve ter ficado fulo, hahahaha – riu Joca. – Ei, Bob, e as roupas do cabra ali no canto?
Bob olhou para onde o lobisomem apontou, deu de ombros e respondeu:
- Que coisa, esqueci... depois jogo no reator da nave. Só o teletransportei para uns quatro quarteirões da casa dele, não será problema.
Nicolas ainda estava sentado no sofá todo largado, e Joca sentou-se a seu lado, dizendo:
- Ô, Nicolas, deixa de ser frouxo, homem! Largou uma menina toda gostosinha só porque ela gosta de cantorzinho que significa?
O vampiro cruzou os braços, olhou para Joca, e se manteve com cara de emburrado. Depois finalmente respondeu:
- Lobisomem caipira ninguém merece! Escuta aqui, Joca, nós vampiros temos classe e finesse, não basta ir enfiando os dentes, não! A sedução e o mistério fazem parte de uma boa caçada. São o tempero de uma farta e sangrenta refeição! A vítima, no fundo, tem de querer que suguemos seu sangue, entendeu?
- Pois o sanguinho dela tava bom demais, sô! E o resto também, hehehe – disse o lobisomem soltando um arroto caprichado.
Vanda apanhou a cabeça de Horlando Silveira, mas Denis fez questão de abri-la para a bruxa. Com um golpe certeiro o cérebro ficou exposto, e a bela morena o apanhou, comentando com uma expressão de asco:
- Eca, não é o primeiro cérebro humano, ou quase, que uso em uma poção, mas isto não deveria cheirar assim!
- Mio-o-o-lo – disse Zé, fazendo cara de criança a quem é negado um presente, quando a bruxa jogou o cérebro no caldeirão.
- Pois é, até nisso os corruptos se mostram diferentes, não é mesmo? – disse Denis abraçando a bruxa por trás. Nicolas, que se revezava com o serial killer na preferência dela, não tentou disfarçar o ciúme.
Vanda beijou a bochecha de Denis e fez com que ele a largasse, continuando a mexer a poção com um comprido bastão. Disse:
- Mas retomando o que vocês conversavam, verdade, meninos, a decadência dos humanos é algo espantoso! Vejam só nosso próprio caso, criaturas sobrenaturais e alienígenas, ninguém mais tem medo da gente! Viramos motivo de diversão, personagens da literatura, lendas urbanas, teorias da conspiração...
- O que está querendo dizer? – perguntou Bob.
- Quero dizer, cabeçudinho – respondeu a bruxa – que me assusto com isso. É verdade! Vejam o caso deste pulha, Horlando Silveira, por exemplo. Como Denis bem colocou, indiretamente ele e seus comparsas, e também colegas da política, mataram muito mais gente que nós. Bem mais!
- E aí, boniteza? – quis saber Joca.
A bruxa largou o bastão, fechou o caldeirão e tirou as luvas, examinando a roupa para ver se não havia respingado. Depois dirigiu-se à poltrona vermelha, cujo revestimento de couro era artisticamente costurado em grandes gomos, os saltos altos das botas produzindo um agradável som a cada passo. Sentou-se, dando uma cruzada de pernas digna de Sharon Stone, e fez pose como se fosse a rainha daquele clube. Olhou para os amigos e finalmente respondeu:
- O que quero dizer é que tudo, absolutamente tudo que os humanos fazem, tem se tornado a cada dia menos inspirado, menos vibrante, e cada vez mais sem imaginação, medíocre mesmo! Minha amiga, Magali...
- Você sabe que a Magali é doida, né? – disse Nicolas. – Para quê uma bruxa precisaria de uma coleção de bolas de cristal, e outro tanto de baralhos de tarot? Essa mania de prever o futuro... Ela não tem se saído melhor que aqueles malucos, profetas do juízo final que ganharam o Ignobel esse ano!
Vanda o fulminou com um olhar penetrante, cruzou os dedos onde reluziam as unhas pintadas de esmalte vermelho berrante, e disse:
- Nicolas, meu vampirão gostosão, a questão não são as previsões de Magali, mas o pano de fundo delas. Todos esses sinais, a mediocridade reinante, e nem preciso lembrar-lhes da classe política deste país, com quem nosso amado Denis faz um trabalho brilhante... – o serial killer sorriu para ela nesse momento – Quero dizer que tenho consultado minhas fontes, e algo parece estar mesmo se aproximando!
- Abestagem, fofa – disse Joca.
- Besteira! – discordou Nicolas.
- Não tenho opinião formada, e de qualquer jeito, matéria prima para fazer meu trabalho certamente nunca irá faltar – disse Denis alisando a faca.
- Mio-o-o-lo – concordou Zé.
- É claro que, entre os humanos – comentou Nicolas – existem monstros muito piores do que nós. Sempre existiram, e o mundo até hoje não acabou por isso. Veja o caso de Denis, por exemplo. Claro que ele presta um serviço público, mas seus atos não seriam aceitos pela lei humana. Sem ofensas, meu caro!
- Sem problema, amigo – disse Denis sorrindo, terminando de guardar suas mortíferas ferramentas.
- Pois é o que penso – reagiu Vanda. – Provavelmente até nós teremos com o que nos preocupar em 2012.
- Minha cara, não se preocupe. Não há nenhuma invasão alienígena programada para 2012, asseguro.
Vanda cruzou os braços, olhou para o gray e perguntou:
- E quem aqui falou de invasão alienígena, Bob? O que quer dizer com isso?
Com expressão de menino sendo pego fazendo alguma travessura, Bob olhou para Vanda, depois para os amigos, e finalmente voltou-se para sua tela holográfica, desconversando:
- Então... parece que a ronda dos aborrecentes caçadores de doces terminou.
- Eu soube que ia rolar um concurso de cosplay na praça aqui perto – comentou Denis.
- Poderíamos ir lá – animou-se Vanda.
- Ah, sim, ninguém iria reparar em nós – ironizou Nicolas.
- Pois seu abestalhado, não iam mesmo! – respondeu Joca.
- Isso é lógico, com todos fantasiados, poderíamos nos misturar à multidão sem problemas – comentou Bob.
– Viu? Até o Spock aí concorda! Tá a fim, sua boniteza?
O lobisomem ofereceu o braço para a bruxa, que aceitou depois de vestir um sobretudo, e ambos saíram em direção a porta. Zé foi atrás:
- Mio-o-o-lo...
Denis, Nicolas e Bob olharam um para a cara do outro, e decidiram acompanhar o resto do grupo. Saíram para a noite, enquanto passavam por eles crianças barulhentas com os pais, adolescentes com as mais variadas fantasias, e pessoas normalmente vestidas que só queriam ver o movimento.
- Fantasia legal, moço! – disse para Bob um menino que passou correndo. O garoto cutucou os amigos que acompanhava, e todos olharam para o alienígena sorrindo, levantando polegares em aprovação.
- Já esses dois – disse um dos moleques, apontando para Nicolas e Joca – que fantasias fraquinhas...
- A bruxa está gostosa, olha só – aprovou um terceiro.
Vanda, satisfeita, ajeitou os seios dentro do vestido muito justo, arrumando a gola do sobretudo que deixava o decote bem a mostra. Com o casaco fechado somente até a cintura, suas esculturais pernas calçadas nas longas botas sobressaíam enquanto andava. Depois de acompanhar Joca para fora ficou um pouco com Nicolas, e já estava de braço dado com Denis, que apenas sorria.
- E você, moço? – quis saber o menino que elogiara a “fantasia” de Denis.
- Ah, eu estou de serial killer, sabe, eles se parecem com pessoas normais.
- Tá bom – o garoto deu de ombros e correu para junto dos amigos. Deu uma olhada em Zé, que se arrastava atrás do grupo, mas não pareceu gostar do zumbi, que dizia:
- Mio-o-o-lo...
- Crianças de hoje em dia, não apreciam a classe, tudo tem que ser o mais espalhafatoso possível! – reclamou Nicolas.
- Esses moleques estão muito folgados, deveria dar é um corretivo nessas pestes! – revoltou-se Joca. O lobisomem ergueu as orelhas, e instantes depois disse:
- Acho que é lá na frente...
Os monstros chegaram a uma grande concentração de pessoas na praça. Um palco havia sido montado, e quem estava fantasiado ali subia para fazer algum tipo de apresentação.
- Pelo visto o concurso de cosplay já começou – disse Denis.
- Os pretensos vampiros presentes são uma ofensa à minha venerável raça – reclamou Nicolas.
- Se eu cruzar com um lobisomem frufru descamisado, o cabra vai lamentar o dia em que nasceu - prometeu Joca.
- Que pena, nenhum alienígena, temo que assim eu acabe chamando muita atenção...
Os temores de Bob se mostraram verdadeiros quando os mesmos garotos se aproximaram correndo e o puxaram, praticamente o obrigando a subir ao palco. O gray não teve escolha a não ser ficar ali, enquanto muitos aplaudiam pedindo que fizesse uma apresentação.
Vanda e Denis ficaram preocupados, mas Joca uivando, e Nicolas aplaudindo, incentivaram o visitante a prosseguir. Zé, por sua vez, observava com expressão confusa os fantasiados de zumbis, dizendo:
- Mio-o-o-lo...
Bob, vencido pela insistência, finalmente disse:
- Caros terráqueos, é um prazer estar entre vocês nesta tenebrosa noite de Halloween. Preparem-se para ser abduzidos!
Ele apanhou sua arma de apagar mentes, apontando para a platéia que aplaudia entusiasmada, alguns gritando “já ganhou”. No último instante Bob decidiu não usar o instrumento, guardou-o e deu um pequeno aceno como despedida.
- Não tem medo de que os terráqueos ameacem sua missão? – perguntou Vanda quando o gray voltou para perto deles.
- Nem um pouco, minha cara. Como sabe é muito fácil para mim ler as mentes terráqueas, e todos acreditam que sou mesmo alguém fantasiado. Gravei todas as informações com meu dispositivo de vigilância, e elas talvez se revelem úteis – encerrou, apontando para o medalhão também de surfista que pendia de seu pescoço.
Uma garota vestida de bruxa subiu ao palco e, fazendo às vezes de apresentadora, anunciou o último grupo da noite. Um trio de jovens surgiu, uma garota em roupas normais de adolescente, um rapaz musculoso de calça jeans e sem camisa, e um outro jovem com maquiagem pesada que clareava bastante sua pele. A menina começou:
- Oh, Jacobi, eu gosto de você como amigo, mas amo o Edwaird!
O moço sem camisa agarrou o braço dela dizendo:
- Ele é um vampiro, e vai machucar você!
O outro garoto empurrou o primeiro, dizendo:
- Você não pode interferir no que existe entre mim e Bellah, lobisomem!
Nicolas e Joca se entreolharam, abriram caminho entre a platéia e subiram ao palco. A apresentadora protestou:
- Ei, o que estão fazendo? O concurso é somente para quem estiver com fantasias caprichadas!
- Ah, mesmo? – Nicolas cruzou os braços e ficou encarando a menina.
- Não gosta da gente, é guria? – perguntou Joca.
- Ei, é nossa vez aqui, ô, mané! – o “Jacobi” do trio já chegou empurrando o ombro de Joca. O lobisomem olhou seu falso congênere e disse:
- Seu lobisomem descamisado e abestado de araque, se encostar de novo...
- Vai fazer o que, mané, com essa máscara ridícula?
“Edwaird” também resolveu mostrar sua “macheza”, cruzando os braços e encarando Nicolas, dizendo:
- E você, que coisa ridícula! Vampiro de jaqueta de couro e com presas, ah, vá, que coisa mais out e fora de moda! É um mané também!
Nicolas o encarou também, enquanto o outro rapaz empurrou Joca mais uma vez, e os demais ficaram olhando. O lobisomem só olhava para o pulha, e suas orelhas tremiam de indignação pela afronta. O garoto estendeu o braço mais uma vez dizendo:
- E aí, mané, calou a boca?
No mesmo instante Joca abocanhou o braço, arrancando-o como se fosse de papel. O sangue jorrou forte, e por alguns momentos o silêncio só foi quebrado pelos gritos de dor de “Jacobi”. A seguir, todos começaram a berrar em pânico e correr desordenadamente para todos os lados.
Bob quase foi derrubado pela apresentadora, que corria como se Joca estivesse atrás dela. Mas o lobisomem jogou o braço do moleque atrevido no chão e avançou contra ele, terminando o serviço.
Nicolas agarrou a menina que interpretava “Bellah”, dizendo:
- Agora vai conhecer um vampiro de verdade, e não essa fadinha delicada e purpurinada!
Enterrou com vontade as presas. “Edwaird” berrou histericamente e saiu correndo, e depois de largar a menina, Nicolas saiu trás dele, dizendo:
- Não esqueci de você não, moleque, deixa eu te mostrar como um vampiro autêntico e com presas faz, venha cá, venha!
Minutos depois, os monstros andavam até em casa.
- Ainda bem que o ataque de Joca espantou o restante das pessoas – disse Bob. - De todo modo, as poucas cenas porventura gravadas por alguém vão acabar na Internet. Vi muitas câmeras e celulares funcionando.
- A coisa mais fácil é fazer truques com o computador, todos dirão ser uma fraude – comentou Denis.
- Mio-o-o-lo... – disse Zé, parecendo satisfeito pela refeição que teve no meio da confusão.
- Lobisomem descamisado é o fim da picada! – reclamou Joca. – Essa gente abestada precisava mesmo de uma lição!
- Acredito que restauramos nossa reputação – comentou Nicolas.
Vanda ia comentar alguma coisa, quando parou subitamente ao ouvir algo. Os demais iam perguntar, mas ela fez sinais para pedir silêncio. Os murmúrios vinham de trás da cerca de uma casa, e ela caminhou para lá cautelosamente.
Os demais a seguiram, e todos puderam ouvir as palavras:
- Molokhai... maledictum... Nosferatus...materializandus corporalis... Diabólicus! Blasfemum! Abominabilis!
- Mio-o-o-lo... – disse Zé.
Gritos abafados foram ouvidos, e logo três meninas apareceram exibindo expressões assustadas. Uma delas disse:
- Vanda! Tudo bem? Que susto.. ei, que legal a fantasia de zumbi do seu amigo!
- Oi, Laurinha... pessoal – disse Vanda virando-se para os amigos – essa é Laura, uma amiga minha, e suas amigas.
- Que fantasias legais! Eu sou Michele.
- Olha que lobisomem e vampiro legais! Meu nome é Amanda.
Nicolas e Joca ficaram se “achando”, e o vampiro disse, dirigindo-se a Vanda:
- E você dizendo que a humanidade estava em decadência... anda existem aqueles humanos que nos têm em alta conta! Obrigado, minhas jovens!
- Mas o que estavam fazendo, Laura? – perguntou Vanda.
- Ah, estávamos lendo este livro, comprei essa semana em um sebo – respondeu a menina. – Tudo a ver com Halloween, né?
Vanda observou o grande volume exibido com orgulho pela menina, e subitamente sua expressão mostrou susto e medo. No mesmo instante raios e trovões encheram o ar, nuvens negras revolutearam sobre o lugar onde estavam, e uma imensa sombra surgida atrás deles percorreu o chão, finalmente cobrindo a todos de forma ameaçadora.
Eles se viraram, e Vanda constatou que o livro de Laura não era uma publicação qualquer. Aproximou as mãos, fazendo crescer um vórtice de energia mística azul diante do peito, enquanto dizia:
- Queridos, acredito que ainda teremos trabalho neste Halloween...
Bob apanhou o controle remoto da nave, acionando o comando de prontidão máxima de combate. Denis, que adorava crianças, afastou as meninas enquanto Joca e Nicolas se preparavam para a luta contra a presença gigantesca que se aproximava. Zé disse apenas:
- Mio-o-o-lo...
Escrevi esta peça em 2011, e espero que tenham gostado, especialmente da fusão de elementos. Fantasia, ficção científica, horror... e toda a diversão do Halloween, claro.
E, se o leitor me permite sugerir, se seu negócio é ficção científica, fique com A Lista: Fenda na Realidade.
Alienígenas? Sem problemas, confira Filhas das Estrelas.
Prefere fantasia, horror, folclore? Experimente Vó Nena e os Caçadores: O Fusca Azul.
E claro, tenha um horripilante e muito divertido halloween! Ou Dia do Saci, , opções não faltam.
Até a próxima!
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